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Como andam os temas e previsões vindos de Austin

Nem sempre discussões apontadas no SXSW ganham o cotidiano e, por várias vezes, elas voltam a ser destaque; veja a situação de 12 assuntos presentes em edições passadas

Luiz Gustavo Pacete
9 de março de 2018 - 8h00

Crédito: iStock

Em meio a centenas de painéis, speakers, workshops, mentoria, shows e apresentações de startups, daqui e dali surgem temas que acabam norteando muitas das conversas dos convidados e participantes do SXSW. Em 1999, por exemplo, quando se falava em TV na internet, a Microsoft chegou a lançar sua WebTV que, posteriormente, fracassou, não necessariamente pelo produto, mas pelo timing. Outros lançamentos, no entanto, foram bem-sucedidos, como o emblemático caso do Twitter que acabou explodindo no SXSW.

André Passamani, co-Ceo da Mutato, ressalta que o SXSW tem a capacidade de capturar o “zeitgest” apontando para temas que podem explodir. “Estivemos com nosso cliente Avon em 2016 e diversidade era um tema em voga. Posteriormente, o assunto tomou o mundo das marcas. Ano passado, muito se falou sobre blockchain e vimos o tanto de notícias sobre o assunto nos últimos meses”, afirma. Passamani ressalta, no entanto, que justamente uma das melhores qualidades do SXSW, de antecipar tendências, é que aumenta a pressão sobre o evento.

Com a ajuda de profissionais que acompanham o festival há algum tempo, Meio & Mensagem elencou doze temas que foram pauta em edições passadas e qual o desdobramento que eles tiveram nos últimos meses. “É importante tomar cuidado para determinar se algo pegou ou não. Talvez muita coisa não tenha ganhado tração ou tenha aparecido em um timing diferente”, diz Marcelo Tripoli, vice-presidente de digital marketing da McKinsey & Company.

Blockchain e Criptomoedas
Em 2015, o SXSW já discutia se o mundo estava preparado para as criptomoedas, com destaque para o Bitcoin. Nos dois anos seguintes, a discussão evoluiu para conceitos mais profundos sobre as criptomoedas e também sobre a tecnologia blockchain. Neste ano, o assunto aparece em praticamente todas as curadorias sobre o festival. E isso tem ressonância na realidade. 2017 pode se dizer que foi o ano das criptomoedas. O bitcoin viveu picos de valorização em novembro e quedas recordes em janeiro de 2018. Além disso, os ataques e roubos de criptomoedas seguidos de truques para mineração foram temas recorrentes. Neste ano, o blockchain ganha contornos mais profundos com discussões sobre como ele pode mudar a relação econômica atual. Para Wal Flor e Marcelo Tripoli, o blockchain aparece com muito mais força este ano por que sinaliza uma mudança histórica na forma como se faz negócios e transações nos próximos anos. De acordo com a pesquisa internacional Grand View Research, o mercado global de blockchain deve movimentar US$ 7,74 bilhões até 2024.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Blockchain nas edições anteriores:

Bitcoin: Let’s Cut Through the Noise Already!
Is Bitcoin the Future of Money
Bitcoin: What It Needs To Succeed

Fake News
Com a eleição de Trump, o tema ganhou força na edição do ano passado. Posteriormente, vários escândalos surgiram pressionando as plataformas como corresponsáveis pelas notícias falsas. O assunto colocou em voga a importância do jornalismo de qualidade e as marcas tradicionais versus as plataformas digitais. Há neste ano, um pacote inteiro de palestras relacionadas ao assunto e o papel do jornalismo neste contexto. Discutirão Fake News profissionais de organizações como Newseum, Washington Post, BuzzFeed, New York Times, CNN e várias outras plataformas de mídia. E o tema não é um desafio localizado dos Estados Unidos, mas uma questão global. No Brasil, de acordo com levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas difundiram notícias falsas sobre política no Brasil em 2017. O estudo considerou a média de 200 seguidores por usuário, o alcance pode chegar a praticamente toda a população brasileira.

Genética
Cientistas do mundo todo estão tratando o DNA com o código fonte de um software. Ferramentas como o Crispr permitem editar o DNA. Essa revolução será ainda mais impactante no planeta do que foi a digital. Além disso, a Alphabet, do Google, já possui a 23andMe, empresa que recebeu investimentos de US$ 3,9 milhões em sua fase inicial e agora se propõe a mapear o DNA de seus clientes com o propósito de antecipar eventuais doenças. E o assunto dialoga com vários outros temas dentro do SXSW como inteligência artificial, futuro dos robôs, utilização de drogas para tratamentos e vários outros.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Genética nas edições anteriores:

The Future of Genetics in Our Everyday Live
Expanding Our Intelligence Without Limit

Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial entrou no schedule do SXSW há aproximadamente cinco anos. Nos últimos dois anos, em especial, tornou-se protagonista. Durante todo esse período, a grande questão foi como humanizar os robôs. Ou seja, deixar de vê-los como ameaça, mas inserir o fator humano em seus contextos. No ano passado, várias palestras e ativações trataram do tema no festival. Quando se trata de AI uma das visitas mais ilustres do SXSW é a Sophia, sistema de inteligência artificial que já chegou a dizer, em uma entrevista, que possui alma. Em outubro do ano passado, Sophia tornou-se oficialmente o primeiro sistema de AI a ser reconhecido como cidadão, foi na Arábia Saúdita, durante um evento de negócios. O mercado de AI deve movimentar US$ 23,4 bilhões até 2025, segundo a consultoria de pesquisas de mercado Research and Markets. “É um assunto muito presente e buscado pelas pessoas por que ele abrange várias áreas”, diz Daniel Rimoli, sênior manager da Accenture Interactive.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Inteligência Artificial nas edições anteriores:

AI: How Tech’s Next Revolution Will Change Lives
HI + AI: What’s the Future of Intelligence?
Ex Machina: Alex Garland & the Seductive Enigma Of A.I.

Neutralidade da Rede
O SXSW sempre esteve a par de temas relacionados à regulação do ambiente digital. Em 2014, Edward Snowden e Julian Assange fizeram cada um seu respectivo discurso defendendo uma maior liberdade de expressão e cuidado com a segurança. E o que temos hoje é a queda da neutralidade nos EUA. A decisão da Comissão Federal de Comunicações – órgão regulador do governo dos Estados Unidos (na sigla em inglês, FCC) – de derrubar regulações que proibam operadoras de banda larga de moderarem tráfego na internet conforme sua conveniência, eleva a tensão em uma disputa bilionária que opõe empresas de dois lados. De um lado, as telecoms e fabricantes de equipamentos que comemoraram a decisão e de outro, as plataformas que usam a web para distribuir conteúdo. A regulação que impedia a interferência dos provedores é de 2015 quando a FCC transformou a internet banda larga em serviço de utilidade pública, mesma categoria da telefonia e da energia elétrica nos EUA.

Política
Discussões políticas e envolvimento maior dos governos nos assuntos de inovação em prol da sociedade. Desde que Obama falou no evento, em 2015, o SXSW pegou gosto pelas discussões. No ano passado, uma série de painéis e discussões voltadas para a gestão de cidades locais dos Estados Unidos. E muitas delas aconteceram no calor das emoções da chegada de Trump ao poder. Neste ano, o tema aparece novamente com força com a participação do senador Bernie Sanders que disputou com Hillary Clinton as primárias do Partido Democrata. Bernie Sanders é um senador independente do Vermont. Em 2006, foi eleito para o Senado dos Estados Unidos depois de 16 anos como único congressista da Vermont na Câmara dos Deputados. Bernie agora está atendendo seu segundo mandato no Senado dos EUA depois de vencer a reeleição em 2012 com 71% dos votos. A conversa de Sanders com Jake Tapper, âncora da CNN, será uma das principais atrações do SXSW neste ano.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Políticas nas edições anteriores:

President Barack Obama Keynote Conversation | SXSW Interactive 2016
Unprecedented: The Election that Changed Everything with Jake Tapper
MAYDAY: The Fight to Save American Democracy | Interactive 2015 | SXSW

Realidade Virtual (VR)
Quem não é familiarizado com o SXSW e fizer uma pesquisa sobre o evento no Google pode ter a impressão de que se trata de um festival de Realidade Virtual. Os óculos fizeram parte da história recente do festival e continuam na pauta. De acordo com Rodrigo Terra, COO da Arvore, estúdio de tecnologias imersivas, apesar de o VR estar presente maciçamente no SXSW, Austin ainda não é um dos principais destinos para essa tecnologia. “Em 2016, foi uma feirinha de artesanato high tech, com alguns players demonstrando tecnologias de domo. As palestras foram focadas no nascimento do mercado de VR. ” Segundo Terra, em 2017, as discussões já eram mais evoluídas com a presença de produtoras conceituadas como Within, Felix and Paul e Emblematic Group. “Além disso, o festival de cinema criou a mostra competitiva de VR Films e Experiências e se falou muito também de VR Gaming”, afirma. Neste ano, o tema continua presente, mas ainda paira dúvidas sobre o fato de a tecnologia pegar ou não. Os números, no entanto, apontam um cenário promissor, de acordo com o último estudo da consultoria SuperData, o mercado de VR movimentou US$ 4,9 bilhões em 2017 e deve chegar a US$ 37,7 bilhões até 2020.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre VR nas edições anteriores:

Virtual Reality: From Empathy to Action
Virtual Reality and the Rebirth of the Music Video
Virtual Tourism: VR, 360 and the Travel Industry

Realidade Aumentada (AR)
Pelo menos há dez anos, Realidade Aumentada (AR) é tema de discussões no SXSW. Em 2016, com a febre do Pokémon Go, o assunto reacendeu com força até influenciar muitas das palestras. No entanto, ainda há desafios para a aplicação da tecnologia em áreas que vão além do game ou do entretenimento. Alguns cases recentes de marca como Ikea fazendo uso da tecnologia de forma que possa ser escalável traz novos contornos sobre a discussão do assunto. Segundo Marcelo Tripoli, vice-presidente de digital marketing da McKinsey & Company, ainda há desafios na indústria mobile para que o AR deslanche, mas não há dúvidas de que a tecnologia tem potencial de escalabilidade. “Ainda há o desafio de estrutura, equipamentos que não rodam com a eficiência que deveriam e problemas de conexão em vários mercados, como o Brasil, por exemplo. Não tem muito conteúdo disponível. Socialmente é pouco aceitável. Porém a evolução ano a ano é grande”, diz Tripoli. Em termos de potencial, AR é uma tecnologia que está diretamente atrelada à VR. De acordo com o Goldman Sachs, AR devem movimentar até US$ 20 bilhões até 2025 tendo o impulso não só das grandes empresas, mas também do próprio mercado de VR, além das indústrias já clássicas como game e entretenimento.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre AR nas edições anteriores:

The Future of AR is Already in Your Pocket
More than Mobile: Augmenting Today’s Retail Reality
Virtual Tourism: VR, 360 and the Travel Industry

Saúde
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa de vida deu um salto de cinco anos de 2000 a 2015, o maior crescimento desde a década de 1960. A média de vida global já ultrapassa os 71 anos. E o mundo está preparado para uma realidade com pessoas vivendo cada vez mais? Essa discussão permeia o festival em vários aspectos. Desde questões éticas ligadas a pesquisas e novos tipos de medicamentos e vitaminas passando pelo uso da inteligência artificial e robótica na melhora da qualidade de vida das pessoas. Um contexto regional, nos Estados Unidos, deve estar presente este ano já que, no início de fevereiro, a Amazon, de Jeff Bezos, a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, e o JPMorgan Chase, se uniram para criar uma megaempresa de saúde que deve atender aproximadamente um milhão de funcionários das três empresas. “A longevidade do ser humano vem pautando uma série de soluções ligadas a AI, robótica, bigdata, entre outros. Por isso, é um assunto bem abordado no festival”, diz Wal Flor, diretora-geral da agência Lynx. Entre os trends deste ano estão devices que ajudam a capturar dados e antecipar prováveis cenários de doenças do coração, por exemplo.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Saúde nas edições anteriores:

The Future of Genetics in Our Everyday Lives
AI: How Tech’s Next Revolution Will Change Lives
A Disruptive Approach to Healthcare

Self-Driving Car
Os carros auto-dirigiveis já estão presentes no festival há algum tempo. A questão agora está mais evoluída, inclusive para carros voadores. É o que a Embraer e Uber pretendem levar para o festival neste ano em um painel que deve anunciar a nova parceria. O grande impasse desse assunto ainda é a questão regulatória. Para os especialistas ouvidos por Meio & Mensagem, o Self-Driving Car está muito perto do tipping point. A tecnologia já amadureceu o suficiente e a discussão agora é regulatória. Nos próximos dez anos, o padrão será carros sem motoristas em países desenvolvidos e uma realidade em que a carteira de habilitação será quase desnecessária. Uma pesquisa recente da consultoria Strategy Analytics, intitulada “Economia de Passageiros”, apontou que o mercado de carros autônomos deve movimentar até US$ 7 trilhões de dólares até 2050. “As empresas devem começar a contemplar os veículos autônomos em suas estratégias a partir de agora”, comentou, em comunicado, o CEO da Intel, Brian Krzanich, responsável por encomendar a pesquisa.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Self-Driving Car nas edições anteriores:

Google Self-Driving Car Project
Future of Autonomous Driving: Master the Map

Smart Cities
A potencialização da Internet das Coisas aplicada à necessidade das grandes cidades. O tema, sempre presente, agora, ganhou uma categoria exclusiva. O assunto será reforçado nesse ano com Cities Summit, que irá discutir smart cities com governadores, prefeitos, investidores e interessados de várias cidades do mundo. Outro ponto relacionado a questões políticas são relacionados à regulação não somente sobre carros auto-dirigíveis, mas também a utilização de drogas para tratamento e ética relacionada à inteligência artificial. De acordo com um estudo do Pike Research, as cidades inteligentes devem movimentar mais de US$ 1 trilhão até 2020 tendo como grandes desafios a questão da regulação e ética.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Smart City nas edições anteriores:

We the People: Using Tech to Solve Big Challenge

Wearables
Na edição do ano passado, a Levi´s e o Google tinham um ponto específico em Austin para mostrar o projeto recém lançado batizado de projeto Jacquard, em homenagem ao inventor francês que no século XIX desenvolveu o primeiro tear totalmente automatizado. O Jacquard permite produzir um jeans inteligente que tenha contato direto com dispositivos eletrônicos. Daniel Rimoli lembra, no entanto, que apesar de o tema ter aparecido com força no ano passado e, por vários momentos estar presente desde 2014 ele ainda não decolou. Simone Kliass lembra a sensação que foi essa ativação da Levi´s no ano passado mas que na volta o tema praticamente não voltou a ser discutido.

SXSW sem sair do Brasil: o que já se falou sobre Wearable nas edições anteriores:

Wearables & Beyond With Shaq
Beyond the Screens: the Ubiquity of Connectivity

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