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Dia 1: Sobre futuro e sobre pessoas

O que eu achei mais legal de tudo que vi hoje: um festival que é tão sobre tecnologia e interatividade estar tão focado nas pessoas


10 de março de 2018 - 15h20

Tentando achar um jeito de escrever nesse espaço – falar com mais profundidade sobre um tema x falar mais superficialmente sobre vários – acabei chegando num possível formato. E ele tem basicamente 2 pontos:

1. o que foi comum às coisas que eu vi no dia;

2. quais as aplicações ou implicações na minha realidade.

A resposta à primeira questão: Futuro. Mais especificamente, como vai ser a vida das pessoas nesse futuro. Ah vá… Ok, isso é bem óbvio, o SXSW é essencialmente sobre futuro. Mas foram óticas e dimensões bem diferentes para essa grande questão transversal.

A primeira palestra do dia foi sobre a “anatomia de uma tendência”. Apresentação bem legal de uma mulher muito foda de uma empresa que tá hypando há algum tempo (WGSN). A área em que eles mais se destacam é moda, mas eles vêm acertando a mão e antecipando coisas em diversas outras áreas. Legal entender a metodologia aplicada para identificar uma tendência – arte + ciência, 250 pessoas viajando pelo mundo e conversando com outras pessoas – qual a sua forma (ou anatomia) e como ela se desdobra em várias questões: produtos, experiências, pessoas e marketing. Entre muitos outros, o exemplo da valorização e da influência dos artesãos foi bem ilustrativo. Algumas discussões interessantes também sobre o que vem pela frente até 2020 – eles gostam de analisar esse espectro de 2 anos. Destaque para os “localvists”, seu consumo e ativismo local, a desconfiança nas grandes instituições e o quanto o blockchain e as criptomoedas podem representar um jeito de manter o dinheiro dentro da comunidade, no âmbito local. Pensei em jobs ou oportunidades relacionados pelo menos três clientes diferentes pra discutir na volta.

A segunda fila do dia foi pra ver de um cara que acompanho há algum tempo e que, independente de concordar ou discordar de suas ideias, cumpre um papel fundamental de ser o contraponto, de questionar. Mr. Bernie Sanders, senador independente e pré-candidato à presidência dos EUA pelo partido democrata (e que talvez tivesse derrotado Donald Trump – “nunca saberemos”, segundo ele) foi ovacionado pelo público por diversas vezes ao logo do talk com um âncora da CNN. Com uma abordagem provocativa e muito inteligente, Sanders questionou a agenda de Trump e destacou que ela é apoiada por uma parcela muito pequena da população americana – mas que detém o poder econômico e, principalmente, da comunicação. Que a grande maioria dos americanos (mesmo os mais conservadores) é contra muito do que ele propõe – a reforma do sistema de saúde, o descaso com as mudanças climáticas, a violência causada pelo armamento da população, a forma como vêm sendo conduzidas questões relacionadas à política internacional, à educação pública e, principalmente, à imigração – com a perda de direitos por quem já mora no país. E que talvez por isso mesmo Trump trabalha para dividir ou “classificar” os americanos, que parecem estar unidos contra ele – questões sobre racismo, gênero, orientação sexual, discriminação religiosa são tratadas de maneira bastante ortodoxa e muito dificilmente serão suportadas pelos americanos nas eleições de 2020. Na hora de trazer pra nossa realidade, impossível não gerar uma reflexão sobre o que vai acontecer em nosso país nos próximos meses, em que passaremos por eleições majoritárias que definirão os nossos rumos num futuro muito próximo.

A terceira e a quarta palestras que assisti hoje trataram de mudanças importantes trazidas pelas novas tecnologias e, principalmente, seus impactos na vida das pessoas. O criador do projeto Ethereum falou bastante sobre o conceito de blockchain e das criptomoedas mas, principalmente, apresentou muitas outras possibilidades de aplicações dessa plataforma e desse jeito aberto e colaborativo de desenvolver soluções – desde o lançamento e a monetização de músicos e bandas, passando por saúde, direito, indústria, entre outras. Não sei se o Ethereum efetivamente vai mudar o mundo como o cara está prevendo – ou tentando vender – mas esse jeito de pensar e de fazer (web 3.0) certamente vai. Já o guru Tim O’Reilly demonstrou como poderemos (ou já podemos) fazer mais do que fazíamos por causa da tecnologia. Seu grande ponto é que não devemos temer perder empregos para robôs – a tecnologia cria novos empregos e dá às pessoas “superpoderes”, trazendo ganhos de produtividade e possibilitando que elas façam as coisas realmente importantes. Suportado por exemplos consistentes como da Amazon, do Uber e dos projetos do Elon Musk, ele defende que uma força de trabalho bem educada e preparada é um verdadeiro ecossistema – e aí, de novo, vem a reflexão sobre o nosso país, o gargalo que representa a baixa qualidade de nossa educação e o quanto esses conceitos podem efetivamente ser aplicados à nossa realidade.

O que eu achei mais legal de tudo que vi hoje: um festival que é tão sobre tecnologia e interatividade estar tão focado nas pessoas. Um evento tão de “exatas” com uma pegada tão de “humanas”. Conversando com pessoas que foram em outras palestras, todos sentiram coisas parecidas – muito legal perceber o rumo que as discussões tomaram.

Enfim, não sei como serão os próximos textos. Talvez esse formato funcione novamente, talvez não – vamos ver o conteúdo que vem pela frente. Na verdade, acho que o formato é não ter formato 🙂

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