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Homens, não máquinas, fazem o futuro

Ativista do conceito de que o código aberto é a forma mais eficaz e avançada para conquistas tecnológicas, Tim O´Reilly encantou (e preocupou) ao se debruçar sobre o futuro que estamos construindo


10 de março de 2018 - 11h25

O que veio antes, o homem ou a máquina? Facinha essa: o homem.

E quem desenha o futuro, o homem ou a máquina? Bico. Se o homem criou a máquina, é o homem que desenha o futuro.

E quando máquinas começarem a desenhar máquinas, a partir do que aprenderam com a Inteligência Artificial, e tiverem conquistado conhecimentos e habilidades que nenhum homem jamais conseguirá conquistar, aí quem vai desenhar o futuro, o homem ou as máquinas? Fácil demais gente … as máquinas.

Oops!

O escocês Tim O’Reilly sempre foi um visionário com a cabeça no lugar. Em seu currículo há quem coloque a criação da expressão Web 2.0. Se sim ou não, o que importa é que ele a disseminou em suas atividades como publisher, autor e empreendedor. Autor mais que necessário para quem quer entender um pouco sobre como a tecnologia impacta os homens.

No evento, aliás, aproveitou para falar em sua palestra “Do More. Do things that were previoulsy impossible”, sobre seu novo livro WTF, que em inglês é um acrônimo popular para What The Fuck, mas que no caso da nova obra quer dizer… What´s The Future.

Mas ao falar aos presentes aqui no SXSW sobre nosso futuro e a relação dos homens com as máquinas e a tecnologia, a ideia de What The Fuck não nos sai da cabeça.

Ativista do conceito de que é código aberto a forma mais eficaz e avançada de construirmos nossas conquistas tecnológicas, O´Reilly se debruçou sobre o futuro que estamos construindo hoje, mas, principalmente, sobre aquele que vamos construir daqui para frente.

Seu foco não é tecnológico, é moral. Resumindo o que nos presenteou, cada decisão tecnológica conta não pelo que pode representar para o avanço da tecnologia em si, mas pelo impacto que deve ter na sociedade. Produzir tecnologia é um gesto social, político e moral. É isso.

Sua preocupação, como de resto a de todos aqui no evento, é como vamos controlar o que nós mesmos estamos criando: máquinas que podem, independentemente da vontade humana, construir o futuro.

Dizendo-se um fã inconteste da tecnologia e de como ela pode ajudar o homem do lado do bem, citou a queda do analfabetismo e da fome no Planeta como resultado direto da ação tecnológica em países menos favorecidos. Citou ainda os avanços da tecnologia nas áreas de saúde e medicina como impressionantes e bem-vindas. Contou também como uma empresa de que é admirador, a Zipline, que constrói drones, consegue abastecer locais distantes da Terra com sangue para transfusões de emergência (em guerras e desastres ambientais, por exemplo) em poucas horas: “A tecnologia pode ser de fato maravilhosa”, diz, com real encantamento.

Mas se preocupa quando cita o caso de um investidor de Venture Capital que se orgulhou ao dizer a ele que estava desenvolvendo uma nova tecnologia que iria acabar com 30% dos empregos do setor de call center no mundo.

Para ele, mentes desse tipo são perigosas para o ecossistema tecnológico e para o nosso futuro. Porque seu driver não é melhorar a vida por aqui, mas fazer crescer fortunas com uma ótica que não só não considera as pessoas como um dado da planilha, mas as exclui como princípio e como base da expansão dos negócios.

O´Reilly enfatiza que ganhar dinheiro e conquistar avanços tecnológicos não se opõem entre si.

Como exemplo mostrou aos presentes um gráfico de como, na Amazon, Jeff Bezos investiu de forma exponencial em tecnologia e não só manteve, como aumentou o volume de mão de obra que se utiliza em suas operações. Ficou mais e mais milionário ao longo do processo, incorporando novas tecnologias ao longo de sua jornada o tempo todo.

Acredita que parte desse mau uso da tecnologia se deva a paranoia com a velocidade das mudanças. Mas, destacou, descobertas e avanços demoram para ser de fato bons negócios e há, sim, tempo, para que se construa tecnologias positivas e não qualquer uma, a qualquer preço, a qualquer tempo.

A educação está na base de tudo, defende. Orientar jovens e crianças sobre os aspectos morais dos avanços tecnológicos, entende ele, é uma das mais relevantes contribuições que podemos fazer a nós mesmos e ao nosso futuro tecnologicamente sustentável no Planeta.

Em resumo, não são as máquinas ou as tecnologias que fazem um mundo melhor, mas os homens.

Essa é uma das maiores preocupações deste SXSW. Finalmente, e porque não poderia ser diferente, as questões de ordem moral invadiram o ambiente dos bits e bites, que sempre me pareceu um mundo a-moral, no sentido de foda-se a moral.

Ver O´Reilly nos dá uma certa dose de paz para seguirmos em frente. Essa parece ser sua missão, um evangélico da tecnologia do bem.

Que sua pregação se dissemine entre os infiéis.

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