A regra
Ainda somos encarados como exceção e que o mundo segue dominado por homens cis caucasianos
Ainda somos encarados como exceção e que o mundo segue dominado por homens cis caucasianos
14 de março de 2018 - 15h23
O grande número de painéis e eventos dedicados à diversidade – a.k.a. negros, mulheres, latinos e pessoas LGBTQ+ – no SXSW confirma a regra de que ainda somos encarados como exceção e que o mundo segue dominado por homens cis caucasianos.
O festival de inovação, música e cinema tenta fazer a sua parte, abrindo espaço e dando lugar de fala e, porque não, resistência, para as minorias, que se somadas não seriam assim chamadas.
Em um debate conduzido por dois executivos negros – um produtor executivo independente e uma diretora de departamento de uma grande rede de TV norte americana –, comentei estar feliz por ter entrado naquela sala. Nunca havia visto tantos estudantes universitários negros, muitas mulheres, de variadas áreas, principalmente criativas, reunidos.
Na escola, na faculdade, nos trabalhos, sempre fiz parte de um pequeno e “privilegiado” grupo de 3 ou 4 negros, exceção que ainda hoje confirma a fatídica regra.
Num evento internacional como SXSW, tem sido interessante estar perto e ouvir histórias de nomes consagrados como Barry Jenkins (diretor de “Moonlight”, Oscar de melhor filme em 2017) e Spike Lee, mas também de pessoas negras (e latinas e LGBTQ+) em busca de espaço.
EUA não é Brasil e a questão racial aqui na “América” é mais explícita, me lembrou uma goiana, residente há 5 anos aqui. “No Brasil, não é bem racismo, são diferenças econômicas”, completou ela.
Tenho que discordar. As estatísticas não mentem: as pessoas que vivem em maior vulnerabilidade social no Brasil, sem as mesmas oportunidades que outros brasileiros, são negras. Economia e raça andam juntas.
A falta de representatividade negra em todos os campos, inclusive audiovisual, não é mera coincidência. Aqui nos EUA, produções mainstream protagonizadas, produzidas e escritas por negros como “Scandal” e “How to Get Away With Murder”, de Shonda Rhimes, “Atlanta”, de Donald Glover, e o blockbuster “Pantera Negra” e diversos outros exemplos mostram que quando há oferta a demanda aparece.
No Brasil, poucos exemplos atuais pipocam na minha mente, as ficções “Mister Brau” (TV Globo) e “Natália” (TV Brasil/Canal Universal), produção da Academia de Filmes, e a série documental “Afronta!” (TV Futura).
Quem sabe os programadores e criadores brasileiros presentes aqui em Austin se inspirem pela diversidade que se respira na cidade e estejam abertos a incentivá-la nas nossas produções nacionais.
Que essa seja a nova regra.
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