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A tridimensionalidade das escolhas

Dá pra dizer que o SXSW é uma experiência transformadora para todos os que propõem a escolher bem e mal


14 de março de 2018 - 15h33

Um dos maiores clichés sobre o SXSW é não se apegar as seus planos prévios. É impossível acertar em todas as escolhas e esses erros acabam construindo uma experiência muito mais rica e surpreendente. Foi meio perdido que hoje entrei no Hotel Driskill, um dos inúmeros locais fora do Centro de Convenções, que atende o gigante conteúdo do festival. O Hotel por si só já é motivo pra conhecer Austin. O Driskill terminou de ser construído em 1886 e é hoje o mais antigo hotel da cidade. A arquitetura Neoromana impressiona por sua elegância e nos transporta à América do século XIX.

Em uma das salas vejo começar um papo sobre construção de personagens 3D. Sendo o assunto um velho conhecido, resolvi entrar. Já nas primeiras palavras percebo que errei feio. Nada ali seria dito sobre personagens modelados e animados em softwares 3D. O roteirista Robert Cargill falava sobre como aplicar tridimensionalidade na criação de personagens. Existem na ficção personagens com apenas uma dimensão, que são aqueles que apenas servem a história; personagens de duas dimensões, os que servem a história e possuem desejos próprios; e personagens em três dimensões, que são os que servem a história e possuem desejos, mas claramente vivem conflitos e desafios. Esses são os personagens que fazem escolhas e evoluem em suas histórias.

Segundo Cargill é isso que na maioria dos casos faz um bom e memorável filme acontecer. Mesmo quando assistimos histórias básicas e fórmulas repetidas, ainda podemos nos apegar a grandes personagens. É claro que existem casos específicos em que a história é tão conceitual e sofisticada que o conflito dos personagens não é o mais importante, como o caso do filme “Inception”, de Christopher Nolan. Mas, de um modo geral, o público gosta de ver o professor de química que descobre um câncer e decide produzir metanfetamina. E esse gostar não é necessariamente empatia. Quem viu “Breaking Bad” sabe como Walter White se transformou ao longo das temporadas. Suas escolhas foram tão interessantes e sedutoras que conquistaram o espectador num misto de amor e ódio irresistível.

Usando uma metáfora safada, dá pra dizer que o SXSW é uma experiência transformadora para todos os que propõem a escolher bem e mal. E aos que não vieram pra saber mais sobre o que já sabem e estão abertos pra sair do conteúdo consumido no dia a dia. É um lugar onde se discute o novo sem desvalorizar o passado. É claro que Austin está lotada de personagens tratando inovação apenas como estética, mas o festival faz sua parte e reúne em seu conteúdo informação sobre coisas que nunca podíamos imaginar que aconteceram ou que estão acontecendo nesse momento – sejam elas próteses artificiais que se comunicam com o tecido humano ou a existência de um Rock Canadense

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