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Apple investe em conteúdo e aprofunda seu caminho rumo ao publishing

O SVP da companhia, Eddie Cue, em entrevista no palco do SXSW, revela que a empresa vai jogar sério o jogo do conteúdo mas afirma que não vão seguir o caminho da Amazon e Netflix, investindo em produções proprietárias


14 de março de 2018 - 16h00

Quem aí usa a Apple News levanta a mão!

Pois acho que de fato você, leitor brasileiro, deve usar bem pouco. Mas algumas milhões de pessoas usam essa que é uma das plataformas de distribuição de conteúdo da Apple, para acessar informações e notícias. É um modelo de assinaturas, como tudo que a Apple faz, portanto, ou você assina ou não vê nada.

Se quiser dar uma olhada na proposta deles, clica aqui.

Pois ontem, aqui no SXSW, a companhia repercutiu, como parte de entrevista que o editor da CNN, Dylan Byers, fez no palco com Eddy Cue, SVP de Internet Software & Services da Apple, a aquisição da plataforma de assinaturas de revistas Texture.

A Texture tem 200 revistas de alta qualidade em seu portfolio, que se incorpora assim ao restante do inventário já existente da Apple News, que contém já conteúdo de grandes players do jornalismo e do mundo editorial, como Wall Street Journal, ESPN, CNN, New York Times, Time, Vox, Fox News, entre vários outros.

No painel chamado “Eddy Cue: Curation in Media – Why it Matters”, o SVP da Apple não abriu lá muita coisa sobre próximos passos da companhia nesse caminho do conteúdo, mas deixou entrever o suficiente para que entendamos que também a Apple (além de Google, Facebook, Twitter, Amazon, Netflix, bom, você conhece a lista) começa agora uma escalada para crescer nesse ambiente já bastante congestionado de grandes players, mas aparentemente ainda um mercado atrativo em termos de negócios para todos.

A Apple faz um movimento tardio, mas não se pode negligenciar uma companhia que praticamente reinventou o mercado da computação, da telecomunicação móvel e da música.

Dinheiro não é o assunto, foi categórico Cue quando Dylan lhe perguntou se a Apple vai investir pesado, como Netflix e Amazon, em produções de peso, para poder competir com elas de igual para igual.

Cue saiu pela tangente afirmando que não é grana a questão, mas escopo estratégico. Explicou que o modelo da Apple é de conteúdo de qualidade, para públicos selecionados. Sendo que, destacou ele, isso não significa necessariamente pouca gente, visto que com essa mesma estratégia no mercado de celulares, a Apple é hoje, e tem sido por anos, um dos maiores fabricantes do mundo. Portanto, pode transformar qualidade em quantidade. Ou o contrário.

Quanto a concorrência, lembrou que a Apple tem em mãos uma audiência cativa de milhões e milhões de usuários de seus aparelhos em todo o mundo, que, em tese, podem ser público alvo potencial para seus projetos de distribuição de conteúdo.

Demorô. Todos os fabricantes de celulares deveriam pensar em ter nos seus usuários potenciais compradores der serviços e conteúdos, para além, e complementarmente, a sua briga por melhores features e preço.

O título da conversa focou em “curadoria”, porque curadoria de conteúdos de qualidade é o que a empresa se propõe a fazer. Ao menos, no momento. Não vai investir, segundo ele, na produção de conteúdo. Muito menos no modelo de publicidade, do qual deixou claro que a Apple quer distância.

É uma aposta.

Dylan forçou a mão mais de uma vez, durante a conversa, sobre o fato do modelo de agregador de conteúdo curado não conteria riscos para a companhia, visto os recentes exemplos de Facebook, You Tube, Twitter e outras também grandes plataformas tecnológicas de distribuição, enfrentando escândalos de fake news e conteúdos nocivos.

Cue se mostrou blazé diante do tema, como se a Apple estivesse acima desses riscos.

Enfatizou que sua empresa sempre zelou pela qualidade do que faz e do que coloca à disposição dos seus públicos, e que, por isso, é a companhia mais valiosa do mundo.

Não teria porque descuridar desses princípios justo quando entre mais pesado em conteúdo.

Faz sentido, mas a teoria nem sempre confirma a prática. Torçamos para Cue e a Apple estarem de fato seguras nesse campo.

À outra pergunta provocativa de Dylan, se a Apple tinha em mente comprar a Netflix, Cue respondeu com uma enorme gargalhada, declarando que não daria nenhum detalhe de nenhum projeto futuro da companhia naquele palco, tipo, nem morto.

Mas a pergunta de Dylan tem total sentido. Se quisessem, não só a Apple, como vários outros players-plataformas de tecnologia, como a Amazon, o Google e Facebook, além das companhias telefônicas, poderiam, sim, comprar Netflix. Aliás, a pergunta é … porque não?

Eu, se fosse presidente de uma dessas empresas, tendo no bolso e no banco o que elas têm, estaria fortemente pensando no assunto. Mas eu sou meio burro. Ninguém leva minha opinião a sério.

Cue justifica toda essa aposta da Apple num setor aparentemente longe de seu core (celulares) revelando que eles entendem que esse mercado de distribuição de conteúdo poderá ser ainda muito melhorado em termos de conectividade e interatividade, tendo como base o celular e todos os seus apps.

A proximidade da Apple com conteúdo está longe de ser recente, se tivermos em mente que música é conteúdo, certo?

Sobre o fato de que, aqui em Asutin e em alguns outros fóruns, a ideia de que as telas vão desaparecer para dar espaço para a interação via voz e reconhecimento facial, ele, novamente, assumiu seu ar blazé, afirmando que as telas ainda estarão por aí por muito tempo. Que a companhia não se preocupa agora com esse tema.

Deve estar se preocupando sim, porque isso vai acontecer nos próximos anos e a Apple não costuma comer bola.

Seja como for, temos em campo mais jogador pesado no campeonato do conteúdo. Todos eles descobrindo que plataformas vazias valem menos do que plataformas com coisa dentro.

Valor agregado é o nome desse jogo, num ambiente em que tecnologia rapidamente vira comodity. Até mesmo as da Apple.

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