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Apple X Netflix: a briga deve esquentar

Olhando a briga por serviços de streaming de vídeo e de música, a Apple tem umas cartas na manga


14 de março de 2018 - 11h29

Depois de 10 anos vindo a Austin, meu modus operandi consiste em escolher poucos keynotes e evitar grandes auditórios, sempre privilegiando painéis e salas menores, filtrando pelo currículo dos profissionais. Prefiro assim porque os keynotes quase sempre estão no Youtube e tem extensa cobertura da imprensa. Assim, acabo descobrindo coisas novas que muitas vezes não entram no radar da maioria do público.

Mas ao olhar o currículo do Eddie Cue, VP da Apple, que foi entrevistado por Dylan Byers, da CNN, resolvi quebrar minha regra. Valeu a pena.

Eddie tem 30 anos de Apple e é responsável pela app Store da Apple, assim como um de seus idealizadores. Ele foi assertivo, objetivo e brilhante durante uma hora.

O papo começou com o tema Apple News e curadoria, aonde Eddie contou como o serviço ganhou tração de um ano pro outro, cada leitor passou a acessar 20 publishers diferentes, contra 4 do ano passado. E já de início um cruzado no queixo das bolhas de algoritmo de algumas plataformas: “No Apple News, a gente se preocupa em recomendar fontes e publishers com editorias e pontos de vista diferentes do que nosso leitor está acostumado a ler. Isso é saudável e necessário.”

Em seguida, a conversa descambou para um dos tópicos mais quentes do momento: a responsabilidade dos grandes players do mundo de tech sobre a distribuição de conteúdo nocivo. Isso inclui desde fake news e seus impactos na democracia de grandes nações, até os discursos de ódio e incitação ao crime.

Pra quem não está 100% por dentro, leiam um artigo da Wired que fala sobre os 2 últimos anos infernais no Facebook e sua relação com publishers, e também matérias aqui no próprio Meio e Mensagem e Proxxima. O tema é bastante sério,

O entrevistador foi incisivo: Eddie, você engoliu a resposta do Facebook dizendo que é só uma plataforma e que privilegia a liberdade de expressão e não pode nem deve atuar em curadoria de conteúdo para seus usuários?

Eddie respirou fundo e disse: “Apesar de ser difícil falar das outras empresas, não posso deixar de comentar que liberdade de expressão e plataforma aberta não dá a ninguém o direito de permitir noticias falsas, discurso de ódio e tantos outros temas racistas como a gente vê hoje. Toda grande empresa, especialmente as que atingem bilhões de pessoas globalmente, tem a obrigação de impor limites. Na Apple por exemplo, construímos uma plataforma robusta e que tem suas regras. Não permitimos e barramos com frequência os aplicativos que ensinam a fazer bombas, que incitam o ódio, que contém qualquer elemento de crueldade com humanos ou animais. Não permitimos apps que vendam armas de fogo ou contenham pornografia. Imaginem se estas regras não existissem na nossa loja? Esse discurso de plataforma livre onde o próprio algoritmo escolhe a relevância não pode ser usado porque infelizmente sempre tem gente usando indevidamente a plataforma. Temos que coibir.”

Arrancou aplausos espontâneos da platéia!

Outro tema bem freqüente aqui no SXSW este ano foi abordado numa pergunta:

Você acredita, Eddie, que o smartphone vai desaparecer daqui há alguns anos? Se sim, o que a Apple planeja lançar para substituí-lo.

Eddie respondeu que logicamente não poderia abrir o roadmap de produtos, senão seria demitido. Risos na platéia. Disse de forma ambígua que ele acha que o iPhone não sumirá ainda, seguido de pausa dramática. Mas que o grande desafio é que hoje os telefones têm tanta utilidade pra todos nós que só serão substituídos se os novos dispositivos fizerem tudo que hoje fazemos nos telefones, e melhor. A tela e seu aspecto de toque tem um valor enorme e difícil de ser substituído.

Eddie foi questionado mais de uma vez sobre o motivo pelo qual a Apple, detentora de bilhões em caixa, ainda não comprou a Disney ou a Netflix.

Ele desconversou por 2 vezes, arrancando risadas do público. Se resumiu a dizer que não fizeram grandes aquisições neste segmento porque eles estão tentando mirar aonde vai a bola ao invés de correr atrás da bola, numa analogia ao hoquei no gelo.

Dylan também indagou se a base de assinantes do Spotify comparada a do Apple Music não o assustava. Ele respondeu que tem muito espaço para todos e que hoje só 5% dos potenciais consumidores que pagariam por música assinam algum serviço.

(Crédito: reprodução/Pexels)

E no assunto relacionado a video streaming, Amazon e Netflix, ele acabou soltando um possível futuro diferencial competitivo sobre a estratégia de conteúdo em video da Apple: “Enquanto a Netflix controla somente a experiência do seu app e na versão web, nós somos o único do mercado que controla desde o hardware até o software. Achamos que aí a tecnologia nos oferece um diferencial. Vamos ver…”

Resumindo: olhando a briga por serviços de streaming de vídeo e de música, a Apple tem umas cartas na manga. Vem coisa boa por aí… Palmas para Eddie Cue!

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