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Não seja preguiçoso

Uma das mais recorrentes histórias que tenho ouvido por aqui é o quanto o avanço tecnológico em sua máxima significa a total derrocada da ocupação humana


15 de março de 2018 - 11h39

A tecnologia vai tirar o trabalho do homem. Uma das mais recorrentes histórias que tenho ouvido por aqui é o quanto o avanço tecnológico em sua máxima – inteligência artificial – significa um iminente apocalipse laboral, a total derrocada da ocupação humana. Muitas palestras e painéis falam sobre a transversalidade e onipresença da AI, outras mostram aplicações críveis e incríveis em segmentos específicos e expositores trazem protótipos que escrachadamente dão a dimensão de seu impacto nas pequenas e grandes tarefas diárias desde tomar um taxi a fazer um sushi.

A discussão sobre a substituição da atividade humana pela atividade das máquinas não é novidade para ninguém. Mas o efeito está elevado a enésima potência, porque a máquina, hoje, não só faz. Ela pensa, repensa, aprende, cria, inova, toma decisões e resolve problemas difíceis de maneira brilhante e em tempo recorde. Enquanto para a indústria e para as empresas esse processo é economia, ganho de escala, aumento eficiência, produtividade e capacidade; para nós, coitados que somos, parece que o que resta é panicar e choramingar porque aquilo que a gente sabe fazer vai ser feito pelo robô. Mas, minha provocação é: e aí, além do mimimi, o que mais vamos fazer?

Ouvi alguns discursos interessantes, que tentam ajudar a segurar o desespero. Vi vários palestrantes-pastores, que são enviados à terra santa de Austin para acalmar nossos corações e nos explicar porque temos que crer que não vamos sucumbir à nossa própria criação. Tem a corrente otimista, como a de Tim O’Reilly, que jura de pé junto que a aplicação da tecnologia só faz crescer o número de empregos e que softly but not so slowly, vamos todos nos adaptar aos new roles. Tem o povo da fofolândia, como John Kim, que prega que o amor é o que continuará a nos fazer únicos, e que a máquina nunca será capaz de ter uma alma sentimental, por isso somos imbatíveis, não se preocupe! Tem o bonde dos videntes – com fundamentação que troca o mapa astral e a bola de cristal pela consulta ao data science e ao estudo do genoma humano – estes apostam na atividade preditiva como grande fonte de ocupação do profissional do futuro. Mas confesso que não compro – nem desvendo – nenhum deles. Minha relação com religião sempre foi de ouvir todas e aderir ao que me parece conveniente e útil do que cada uma propõe, sempre no intuito de melhorar e de viver melhor. Nessa linha, fica minha humilde sugestão de que cada um faça seu próprio quebra-cabeças de quem somos, para onde vamos e qual a nossa missão neste [novo] mundo cheio de robôs, casas, carros e cidades inteligentes.
Mas crenças à parte, o que parece certo é que, seja lá qual for a sua “religião pode ser que você, seus filhos, netos e próximas gerações tenham que inventar outra coisa para fazer da vida. E não para por aí, nem de longe esse é o principal alerta. Suponho que diante disso tudo é no mínimo necessário entender que humanidade vai precisar subir o sarrafo. Num mundo onde tudo é inteligente, seja inteligente. E tenente, porque coisas inteligentes não contam absolutamente com nenhuma variação de nível de esforço e disposição. Coisa inteligentes não têm bad hair day, não acordam de ressaca, não têm preguiça de pensar.

Só não haverá espaço para quem não se esforçar mais, muito e de novo. Para quem não pensar mais, melhor e diferente. Só não haverá ocupação para quem desistir de criar e deixar de aprender, ainda que tenha dificuldade e nem tanto interesse assim. Olhe para o futuro: da geração Z para frente, esqueça discutir “meu filho, você pretende fazer faculdade do quê? ”. Nenhum Z ou alpha será convencido de que o ensino formal faz mais sentido do que horas de on demand sobre qualquer tema que de fato forme seres humanos capazes de desempenhar atividades úteis e relevantes neste contexto; e que de fato forme profissionais capazes de lidar com a complexidade que será interagir com o “mundo inteligente” e promover sua constante evolução. Já se ouve pelos corredores há algum tempo que 70% das profissões do futuro sequer existem. Que bicho é esse que precisaremos ser eu não sei. Mas para quem não esta muito afim de mudar, prepare-se para se aposentar mais cedo.

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