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A luta pela diversidade: dados e amor

Não há uma empatia, porque há uma distância muito grande e uma ausência total e absoluta de conexão


12 de março de 2017 - 20h00

O assunto do dia pra mim hoje foi a diversidade e a luta liderada pela Keynote Jessica Shortall, diretora geral do Texas Compete, uma organização que reúne mais de 1.200 empresas do estado e defende a inclusão de pessoas LGBTQ no mercado de trabalho. Jessica se auto entitula “uma construtora de pontes” explicando que seu trabalho consiste em gerar empatia e uma base comum de discussão entre pessoas com visões políticas muito diferentes, mas com valores humanos comuns, para demonstrar, através de dados, que a economia local tem apenas a ganhar com a inclusão de pessoas com diferentes orientações sexuais ou gêneros nos quadros de funcionários das empresas.

A tarefa de Jessica e sua equipe não é nada fácil. O Texas é um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos e, somente no ano de 2015, aprovou 21 leis contra a liberdade de pessoas LGBTQ. Neste cenário, Jessica começou seu trabalho e, apesar de muitas vezes se exasperar com situações terríveis de descriminação, como a história de um garoto transgênero que, sofrendo com a incapacidade de seus professores em definir qual banheiro deveria usar, acabou não controlando sua bexiga e teve um “acidente” na frente de seus colegas e professores, ela prefere não seguir seus impulsos de gritar contra este tipo de situação que tanto lhe incomoda, mas buscar o diálogo e a empatia para, através de dados, conseguir demonstrar o quanto a inclusão de pessoas diversas é positivo para a sociedade e para a economia, com um ponto de vista mais técnico e menos emocional.

Dados, ao que parece até certo ponto da palestra, são o grande alicerce da luta de Jessica, que vale-se dos mesmos em diferentes momentos de sua oratória para demonstrar a importância de sua causa. Alguns deles são extremamente alarmantes. Por exemplo, 41% de pessoas transgênero nos EUA já tentaram o suicídio, enquanto o dado para o total da população é de 1,6%. E a expectativa de vida de um transgênero negro nos EUA é de 35 anos. Mas é justamente ao lançar mão destes dados que a palestrante faz uma pausa em seu discurso para dizer que os dados são importantes para conseguir alcançar seus objetivos, mas que eles não valem de nada se não houver de fato um olhar mais humano sobre a questão. Neste ponto, Jessica divide com a plateia o feedback que ela recebeu de uma amiga transgênero sobre sua palestra. O que a amiga lhe diz é que o grande problema no fundo é que muitas pessoas não enxergam um transgênero como um ser humano.

Não há uma empatia, porque há uma distância muito grande e uma ausência total e absoluta de conexão. O que ela quer dizer é que a única forma de gerar uma resposta genuinamente positiva por parte de uma pessoa com preconceitos à conceitos de inclusão LGBTQ, é aproximando estas pessoas do mundo das pessoas LGBTQ, das questões humanas por elas enfrentadas e, através disso, despertar o amor pela humanidade e pela vida, a compaixão e o entendimento. Ela diz: “Não há dados que possam superar a força do amor. Os dados são bons para baixar tensões e levar as discussões para parâmetros técnicos, mas é através do amor pelo próximo que as ações tomam corpo e produzem os efeitos para a mudança de comportamento tão dramaticamente necessária. Jessica se emociona ao dizê-lo, assim como toda a plateia. Uma lição importante para uma indústria que se torna cada vez mais fundamentada no Big Data, no Machine Learning e na robotização de tarefas, mas que não pode esquecer a importância dos sentimentos humanos mais básicos que permeiam nosso cotidiano e aquilo que de mais importante temos em nossas vidas.

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