Não é ‘branded content’, é ‘sponsored entertainment’
Não que tenha sido fácil entrar, mas eu nem me arrisquei a ficar de fora dessa e poder participar desse encontro histórico
Não que tenha sido fácil entrar, mas eu nem me arrisquei a ficar de fora dessa e poder participar desse encontro histórico
13 de março de 2017 - 11h46
Meu dia hoje começou com um painel sobre o assunto mais relevante para mim e para o Consulado: filmes patrocinados por marcas, ou o já antigo ‘branded content’.
Martin Campbell, diretor de ‘Casino Royale’ e ‘Goldeneye’ entre outros tantos filmes de ação e de sucesso, falou sobre como as marcas presentes na saga do agente 007 foram incorporadas elegantemente aos filmes e se tornaram parte importante da personalidade do James Bond. O carro Aston Martin é o exemplo mais óbvio, mas tem também o relógio Omega, os ternos Tom Ford e a vodka Smirnoff do seu famoso vodka martini. Que, vale lembrar, é sempre shaken, not stirred. Esses exemplos são tão conhecidos que se tornam até meio óbvios quando citados aqui, e ele falou com muita franqueza sobre a importância dessas marcas no financiamento e principalmente na divulgação dos filmes da saga. Falou também sobre filmes mais antigos, como Italian Job, em que os Mini Coopers são quase que personagens principais. Em resumo, disse que não é novidade nenhuma e que esse tipo de colaboração existe desde que o cinema é cinema. Mas esses filmes, pelo valor e grandeza das produções, ainda estão fora do alcance e do planejamento da grande maioria das marcas, e coube aos outros membros do painel trazer exemplos mais atingíveis para a discussão.
O primeiro é um documentário dirigido por Werner Herzog chamado ‘Lo and Behold: Reveries of the Connected World’. O filme foi concebido como uma peça de branded content, quer dizer, sponsored entertainment, para a Netscout. O documentário, que conta de maneira divertida e inteligente a história da Internet, foi feito por dois milhões de dólares e sua produção durou quatro meses, segundo seu produtor Rupert Maconick. A matemática é extremamente simples e vantajosa para a Netscout: 2 milhões foram gastos e 1 milhão foi recuperado imediatamente quando os direitos do filme foram vendidos para o Netflix. Além disso, o filme foi parar também em salas de cinema, o que rendeu mais algum dinheiro para a marca. Somando-se isso à economia gigantesca com compra de mídia (que seria mais ou menos uns 20 milhões, segundo Rupert), a Netscout economizou 21 milhões de dólares, e tem um filme que será visto por muito tempo por pessoas que não se importam nem um pouco sobre o fato de ter sido patrocinado por uma marca. Sem falar que é um filme incrível e que associa a marca a um diretor consagrado como Herzog. O diretor, por sinal, teve a palavra final na edição do filme e Rupert falou que isso foi fundamental para o sucesso da empreitada. Disse também que não devemos chamar esses filmes de ‘branded content’, pois isso diminui o valor de filmes sérios e interessantes como Lo and Behold. Disse que devemos chamá-los de ‘sponsored entertainment’ pois se um filme tiver um alto valor de entretenimento as pessoas irão pagar para vê-lo, e não há nada de errado em se colocar um logo sobre o título do filme. Fiquei de queixo caído com os números e com a qualidade do filme, e a ideia se mostrou tão simples e efetiva que redefiniu para mim o que é possível fazer com um orçamento relativamente limitado. Vale lembrar que não isso não seria possível sem uma marca inteligente e visionária por trás.
O segundo exemplo foi o filme ‘National Parks Adventure’, dirigido por Greg MacGillivray para a Brand USA, órgão do governo Americano responsável por promover os Estados Unidos para o mundo. Tom Garzilli, marketing-chief da Brand USA, falou também com muita simplicidade sobre o processo de criação e produção do filme, e fez a ideia parecer extremamente óbvia. Narrado por Robert Redford e feito para ser visto em salas de cinema Imax, o filme é de uma beleza comparável apenas aos grandes documentários da BBC, Discovery e NatGeo. Não preciso dizer que é um sucesso estrondoso. National Parks virou também uma série de TV e gerou ainda outras oportunidades interessantes de divulgação da marca: a Brand USA convidou youtubers do mundo todo para explorar os parques por seis meses e contar suas experiências em seus próprios canais, da maneira que quisessem. Isso parece ser um tema importante: deixar os criadores de conteúdo fazerem as coisas do jeito que sabem e querem.
Ganhei a semana com essa palestra, e reservei o resto do dia para a maior farra que experimente aqui: um painel de discussão com nada menos que David Benioff e D.B. Weiss, produtores e escritores de Game of Thrones. Não atrapalhou em nada o fato de o painel ter sido moderado pelas incrivelmente belas e talentosas Maisie Williams e Sophie Turner (Arya e Sansa Stark, respectivamente). Que os produtores eram caras inteligentíssimos e divertidos eu já imaginava, mas as duas atrizes se revelaram super envolventes e espirituosas, e trouxeram um charme inesperado ao painel. As tiradas da Sophie Turner foram um show à parte, e eu recomendo fortemente aos interessados buscar essa discussão online para se ter uma janela com vista espetacular para o mundo da série de maior sucesso da história da televisão. Contaram histórias sobre casting e produção, assim com factóides e causos que ocorreram durante a produção das seis temporadas. Aparentemente os dois criadores têm o hábito de fazer pegadinhas com os seus atores, e o fazem de uma maneira gentil e especial. Fiquei com a impressão de que os quatro ali formam quase que uma família, e que as meninas são o xodó dos produtores. Saí do painel com os olhos brilhando e o coração batendo mais forte, admirado com a inteligência e senso de humor da Sophie Williams. Sem falar na sua beleza.
Não é preciso dizer que não há marca alguma envolvida na produção da série, e me pareceu apropriado olhar para dois lados completamente opostos do espectro nesse dia tão especial do SXSW (tinha uma palestra do Joe Biden acontecendo ao mesmo tempo, o que provavelmente ajudou a diminuir um pouco o número de interessados). Não que tenha sido fácil entrar, mas eu nem me arrisquei a ficar de fora dessa e entrei duas horas antes para pegar um lugar na terceira fileira e poder participar desse encontro histórico. Fiquei literalmente emocionado ao ver as duas mulheres com seus olhos brilhantes e suas mentes afiadas de tão perto, e terminei meu dia por aí. Fiquei com o sonho de que minhas filhas sejam tão incríveis quanto elas, e muito feliz com a idéia de que irão crescer em um mundo em que mulheres são personagens principais e não meras coadjuvantes. Foi emocionante.
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