16 de março de 2017 - 13h13
Por ser parte do coletivo Hysteria, que propõe a construção do olhar feminino em diferentes projetos, a minha pauta no SXSW girou bastante em torno desse tema.
Nas ruas de Austin senti a presença marcante das mulheres. Na programação do festival, foram muitas as palestras com esse foco. Consegui ver umas 10 e acho que perdi outras 10 por conta da natureza simultânea do festival. Foram temas e histórias inspiradoras, como as meninas do Refinery 29 e a criadora do projeto Empowering a Billion Women by 2020.
Mas acho que foi Jill Solloway, criadora de Transparent – primeira série original da Amazon – quem trouxe a discussão mais relevante para a representatividade da mulher na indústria criativa. Eu já conhecia o trabalho dela como roteirista de Six Feet Under, mas em Transparent ela conseguiu demarcar um território muito claro da potência do olhar feminino desromantizado, sem mimimi.
A apresentação de Jill começou com a pergunta: por que não existem mais mulheres diretoras de cinema? “Por razões óbvias como o patriarcado, questões culturais e sociais. Mas prefiro focar nas questões psicológicas pois são elas que tornam a direção um trabalho difícil para as mulheres hoje.” Para Jill, ser diretora é exercitar o desejo. É dizer EU QUERO EU QUERO EU QUERO. E numa sociedade em que o desejo da mulher não tem a mesma aceitação que o desejo do homem, a direção é sim mais desafiadora para as mulheres. Por isso ela dividiu algumas “ferramentas” que usa para dirigir. E aproveito para compartilhar aqui:
“Be in your body” – esteja presente, controle o espaço.
“Be suspicious” – não aceite as regras absolutas de filmmaking, crie suas próprias regras.
“You gotta feel the beat” – é a unidade de medida mais importante da cena, você precisa dominar o beat que vai conduzir sua narrativa.
“Embrace the feelings” – leve papel e caneta e anote todas as ideias que te perturbam durante a cena. Elas são a sua intuição. Permita as revoluções que acontecem no seu corpo e saiba que elas não são você.
“Don’t believe the hype” – o networking não é tão importante quanto fazem parecer.
Jill Solloway e outras dezenas de mulheres inspiradoras que passaram pelo SXSW deste ano deixaram uma marca clara de como subverter as noções de fragilidade do feminino e transformá-las em força e instrumento de trabalho. E deixaram também um lastro de inspiração que eu levo de volta para o Brasil, com a sensação de que a missão do Hysteria está só começando.
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