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Bernie Sanders e a crise de confiança que pode nos levar ao atraso

Informação e união podem combater a descrença do cidadão comum na política


12 de março de 2018 - 13h04

(Crédito: divulgação)

Enquanto aceleramos para o futuro, o passado ameaça nos atropelar: a ascensão de líderes e valores conservadores é impulsionada por uma descrença do cidadão comum na política – e a única forma de combater esse processo é com informação e união.

Do alto de seus 76 anos, o senador democrata americano Bernie Sanders permanece uma das vozes mais sensatas e progressistas da política americana – e mundial. Ainda que boa parte dos temas discutidos nesta entrevista para o jornalista da CNN Jake Tapper sejam pertinentes às questões domésticas dos EUA (Donald Trump, imigração, controle de armas, entre outras), não é difícil encontrar paralelos com nossas próprias questões.

Talvez a grande pergunta implícita nesse debate seja: como chegamos até aqui? “Temos hoje o presidente da república menos preparado de nossa história”, ele dispara com firmeza cristalina. Mas por trás da crítica feroz, é importante entender os mecanismos que levaram a esse desastre, e como impedir que ele se expanda.

Sanders tem uma visão muito racional sobre esse processo, que passa pela manipulação da informação (ou pela mais cínica mentira mesmo), pelo uso de factoides e pelo tempero maligno do medo, do preconceito e do ressentimento. “É a primeira vez que vejo um presidente americano não preocupado em unir as pessoas, e sim em dividí-las” – na opinião de Sanders, esse processo de fragmentação é o que fortalece Trump e tudo que ele representa: o retrocesso social, ambiental e comportamental. Complementa isso um processo de descrença do cidadão comum com relação à sua relevância no processo político – “Estou certo de que a população está enojada com a forma como a política é praticada atualmente”. Sem saber no quê ou em quem confiar, o cidadão ou se renega a participar do processo (e daí vem as altíssimas taxas de abstenção das eleições), ou se apega a convicções cada vez mais simplistas e individualistas.

Mas o que tudo isso tem a ver com o SXSW? Enquanto discutimos aqui os próximos avanços da humanidade, não podemos fechar os olhos para esse refluxo conservador que pode atrasar ou mesmo inviabilizar esses avanços. Usando um exemplo prático, enquanto a trilha de Healthcare por aqui ferve com ideias disruptivas, Trump desmonta o Medicare e fecha as portas do acesso à saúde para milhões de pessoas.

“O problema da política é que ela precisa de muito dinheiro”, Sanders afirma em outro momento de franqueza certeira. E o dinheiro por trás dos políticos fará tudo pra manter as coisas como estão – ou piorá-las, se isso for trazer mais lucro.

Parece familiar? Nossa pobre república das bananas vive sua própria versão desse dilema, com uma sombra pairando sobre este ano de eleições.

Inovação se baseia inteiramente em confiança. Na ideia de que existe um futuro melhor a ser construído, e que juntos faremos a diferença. O SXSW é a maior experiência de confiança da humanidade, o momento único em que milhares de pessoas com experiências das mais diversas se encontram para dividir conhecimento, planejar coisas juntos e sonhar com o impossível – ou como conquistar o espaço (Elon Musk está entre nós).

Bernie tem algo a dizer sobre isso: “não tenho dúvidas de que se as pessoas se unirem e fizerem sua voz ser ouvida elas poderão transformar o mundo. Nós precisamos reassumir o controle, e isso se fará com informação: converse com as pessoas ao seu lado, se coloquem no lugar delas, entendam suas necessidades. Converse com quem não votou, e vamos incluí-los nesse processo. Converse com quem votou em Trump. Estou convicto de que isso fará a diferença”.

Parece que ele está descrevendo um dia qualquer em Austin, certo? Diálogo. O que precisamos é levar esse clima pro resto do mundo.

Obrigado pela inspiração, Bernie. Pra quem quiser assistir na íntegra a apresentação está no YouTube do SXSW:

Are you ready to feel the bern?

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