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Spike Lee e os millennials

Ele entrou no palco e, apesar de uma platéia formada por produtores, escritores e diretores, quem realmente foi ao microfone foram os jovens


12 de março de 2018 - 15h26

(Crédito: reprodução)

Assistir ao último episódio de “She’s Gotta Have It” (série original da Netflix adaptada do filme de 1986), com direito a Q&A com Spike Lee, é com certeza uma oportunidade única.

Ele entrou no palco já dizendo que tinha um voo pra pegar logo mais e agilizou a fila das perguntas.

Além dos agradecimentos infinitos ao papel de Lee para a comunidade negra, o destaque foi ver que pelo menos 90% das pessoas que se propuseram a fazer perguntas eram jovens.

E, olha, tinha uma geração inteira de produtores, escritores e diretores sentados ali, mas quem realmente foi ao microfone foram os millennials.

Faço esse destaque não porque são jovens e conhecem as obras de Lee, e sim porque foram lá pra questionar construção de personagem, roteiro, pedir conselhos e até pedir emprego, sem medo algum das respostas duras, às vezes grosseiras e constrangedoras, de Lee.

Aliás, uma dessas pessoas, não tão jovem, fez questão de frisar que, na época do filme, a protagonista Nola Darling era uma revolucionária, uma mulher que estava claramente à frente das mulheres negras daquela geração, enquanto a nova Nola Darling, mesmo representando o empoderamento feminino, não traz nada novo, sendo apenas espelho da geração atual.

E continuou dizendo que essa Nola Darling não tem nada para emprestar aos millennials. Mesmo sendo interrompida por Lee, reforçou que a personagem não terá o mesmo poder mobilizador.

Quase que ignorando a questão, Spike Lee continuou a sabatina e, ao final, chamou dois jovens para continuar a conversa após a sessão: um que queria conselhos para entrar na indústria e outro que garantia que sua trajetória de vida merecia um roteiro (ele foi tão enfático que guardei o nome: Steve!).

Spike Lee foi chamado de lenda viva e ao mesmo tempo enfrentou um interrogatório de jovens atrás de respostas.

Taí uma geração que conhece e reconhece a história, mas nem por isso deixa de questionar. Ninguém mais é herói suficiente. Agora eles querem e podem ser seus próprios heróis. Ufa, que mundo que está por vir!

Se Spike Lee sentiu o impacto? Só saberemos na segunda temporada da série…

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