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Os perigos do bem-estar como diferencial profissional

Palestras sobre meditação, energia, dicas de como vencer a procrastinação e até painéis sobre o uso de cogumelos mágicos para combater a depressão têm sido frequentes e disputados


15 de março de 2018 - 16h22

Nos últimos anos alguns tópicos se repetiram e se expandiram aqui no SxSW, enquanto outros retraíram e foram dando espaço a assuntos mais pertinentes. Um dos assuntos que a gente tem observado crescer pela beirada são as questões relacionadas ao bem-estar. Palestras sobre meditação, energia, dicas de como vencer a procrastinação e até painéis sobre o uso de cogumelos mágicos para combater a depressão têm sido frequentes e disputados.

Ao mesmo tempo, o avanço da biotecnologia e do processamento de dados de saúde tem sido comemorado, com as possibilidades de compreensão de genomas crescendo exponencialmente enquanto já é possível identificar com precisão as chances de uma pessoa desenvolver doenças como câncer e transtornos psiquiátricos.

Mas quando saúde e produtividade são itens considerados tão fundamentais no currículo quanto falar inglês, será que queremos que as empresas tenham tanta informação assim sobre nossa saúde física e mental?

Dave Asprey é um executivo e investidor, uma figura bem típica do Vale do Silício. Ele emagreceu mais de 50 quilos essencialmente tomando café com óleo de coco, e ergueu um império “bulletproof” a partir daí. Agora, o novo guru fitness quer convencer empresas que elas também deveriam “biohackear” seus funcionários, oferecendo drogas inteligentes e suplementos que os tornem seres mais produtivos e, supostamente, melhores profissionais.

Porém, é tênue a linha entre oferecer opções mais saudáveis de coffee break e contratar somente pessoas que meditam mais de 20 minutos por dia, andam 10 mil passos e microdosamLSD.

A situação fica ainda mais assustadora quando pensamos que empresas podem realmente passar a usar o genoma de uma pessoa como diferencial competitivo no mercado de trabalho. Afinal, já sabemos muito bem que a qualidade de vida tem uma relação direta com a posição econômica de uma pessoa, então quais desigualdades estaríamos incentivando?

Isso sem falar em todas as implicações de privacidade que estão relacionadas à essas informações. Hoje já sabemos que em determinada região dos EUA, mulheres entre uma idade específica estão mais propensas a adoecerem com câncer de mama. Mas e se você é uma mulher, dentro desse perfil, e concorre a um emprego disputado? Ou tenta contratar um plano de saúde?

As questões éticas por trás dessas possibilidades são inúmeras, e obviamente existem mais perguntas do que respostas nesse momento. Mas a principal sensação é que devemos sempre olhar para o novo com coragem, mas também com cautela. Seguimos assim.

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