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Esperando o carnaval

Assim como a festa brasileira, o SXSW é mais sobre a experiência e abertura ao novo e menos sobre organização e planejamento


1 de março de 2019 - 19h58

É o meu quarto SXSW e se tem algo que eu aprendi foi a não esperar nada do festival. Sempre vai ter surpresas e nada vai acontecer do jeito que se imaginou. E, em um ano em que o evento emenda com o Carnaval, tudo conspira para que as habilidades de organização fiquem concentradas no planejamento dos blocos de rua. Aprendi que embora o SXSW exija algum preparo, como o Carnaval, é menos sobre uma programação detalhada e mais sobre disposição e abertura para o novo.

(Crédito: Estee Janssens/Unsplash)

No primeiro ano, marquei todas as palestras e busquei cobrir todos os temas que interessavam para a minha área de atuação. Fracassei lindamente já que, para planners, os assuntos de interesse podem ir dos mais prosaicos sobre histórias de marcas, passando por inteligência artificial e indo até a projeção de sociedades distópicas. Não há planejamento virginiano que garanta que você vai conseguir presenciar tudo. Algo vai se perder!

Nos anos seguintes, fui deixando a onda me levar e decidindo pela manhã os assuntos que queria ouvir. Uma programação mínima do dia permitiu me planejar para estar na primeira fila para ver Bernie Sanders e Christiane Amanpour no ano passado. Mas reservar um tempo livre para explorar trilhas paralelas me possibilitou presenciar a transmissão ao vivo de um podcast do Black Girls Nerds sobre a participação de mulheres negras na cultura geek, ver uma palestra não-reproduzível sobre edição de genes e um show do cantor nigeriano Jidenna. Chequei as minhas anotações no Google Drive e, enquanto as anotações do meu 1º SX cobrem 24 páginas, as do último tem míseras duas. Com o tempo, o meu festival também tem sido menos sobre conteúdo e mais sobre a experiência.

Apesar da intensa programação, que se inicia às 9h e vai até a umadrugada, com shows e festas pela cidade, eu me programava para fazer a caminhada a pé – de cinquenta minutos – que levava do Airbnb até o centro onde tudo acontece. Um hábito que criei e pretendo repetir esse ano. A jornada permitia refletir sobre os temas e entender como se aplicavam a minha realidade. Separar o jabá do trigo, absorver provocações, revidar com ideias, angustiar-me ou me animar com o futuro, com o presente distante ou com o passado que nem chegou no Brasil. Tudo isso faz parte da montanha-russa de pensamentos que Austin sempre me convida.

As únicas certezas que levo é de que a bateria do iPhone vai acabar antes do dia, a previsão do tempo vai errar, vou esquecer de comer e beber água, farei novos amigos nas filas, e que eu vou querer voltar e viver tudo de novo.

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