Ficção científica: o ópio da realidade
Do protótipo NASA IXS Enterprise, inspirado em Star Trek, ao tênis da Nike que amarra sozinho, vindo do De Volta Para o Futuro, a ficção científica foi vital para o estágio onde a humanidade chegou
Do protótipo NASA IXS Enterprise, inspirado em Star Trek, ao tênis da Nike que amarra sozinho, vindo do De Volta Para o Futuro, a ficção científica foi vital para o estágio onde a humanidade chegou
Luiz Gustavo Pacete
8 de março de 2019 - 17h12
A ficção científica causa sensações extremas. Se para muitos as explorações e conquistas intergalácticas tornaram-se o símbolo de uma geração trazendo possibilidades de que um dia outros planetas seriam visitados pelo homem. Por outro lado, ela também despertou sentimentos controversos ao colocar máquinas dominando homens e transformando a Terra em um caos. Dos clássicos como “Star Trek” e “De Volta Para o Futuro passando por “2001: Uma Odisseia no Espaço”, até os mais recentes como “Her” e “Ex-Machina”, imaginar um futuro próximo ou distante sempre foi um exercício humano, da literatura ao cinema.
Mas como esses dois mundos – da ficção e da ciência – podem se retroalimentar? Margaret Weitekamp, do National Air & Space Museum, no painel “Science Fiction or Future Science?”, apontou que, em determinado momento, depois da década de 1990, essas duas áreas se reaproximaram por que o mundo se tornou complexo e a realidade e a ficção convivem de forma conjunta. Ainda hoje, com tanta tecnologia moldando o comportamento e as relações, a ficção científica faz cada vez mais sentido. Margaret mencionou, por exemplo, a entrada de empresas privadas na nova corrida especial e o papel que a ficção desempenhou neste contexto.
“Muitas das áreas de desenvolvimento e design dessas empresas se inspiram sim na ficção. Muitas das aeronaves comerciais que vemos atualmente, possuem referências de outras já criadas em estúdios”, afirmou Margaret. Um dos casos que ilustra bem essa discussão foi o desenvolvimento, pelo designer da NASA, Mark Rademark, do protótipo da IXS Enterprise!, modelo que, inicialmente foi um projeto que serviu como referência para o desenvolvimento técnico de várias tecnologias. O gesto da NASA, inclusive, serviu como uma grande ação de marketing já que os fãs da série receberam de forma positiva a homenagem.
O tênis HyperAdapt, lançado no ano passado pela Nike, foi esperado por muitos anos desde que foi retratado em “De Volta Para o Futuro 2”. O modelo é um outro exemplo de que a ficção misturada a um movimento nostálgico e de fãs da série pode virar algo viável em termos de consumo. “Star Wars, Star Trek, os filmes de super-heróis da Marvel e DC todos eles além de misturarem ficção também lidam com um fator muito importante para o marketing e consumo, os fãs”, afirma Rademark.
Segundo a afrofuturista e escritora Ytasha Womack, também presente no painel, que mencionou a simbologia do filme “Pantera Negra” para a cultura black, ressaltou que o afrofuturismo possui o maior potencial possível das duas disciplinas: ciência e ficção somado a uma dose de política e empoderamento. “Eu escrevo ficção científica afrofuturista e neste gênero você tem todo um fator histórico e relacionado à contribuição cultural da Africa somado a todas as possibilidades científicas e tecnológicas reveladas pelas culturas ancestrais”, ressaltou.
Veja também
O melhor “plano sequência” do SXSW (Amazônia volume 2)
"Amazônia Groove" dá visibilidade à multifacetada sonoridade que margeia os rios que transpassam o Amazonas e o Pará
O que um CFO foi fazer no SXSW?
Como líderes e como pessoas, aprendermos a escutar e entender o porquê do outro pensar diferente