Sob controle?
Segundo Margrethe não podemos deixar que nossa democracia seja controlada por mídias sociais
Segundo Margrethe não podemos deixar que nossa democracia seja controlada por mídias sociais
11 de março de 2019 - 15h08
O interessante de vir há alguns anos ao SXSW é perceber a velocidade que o mundo anda girando. Se no primeiro ano que vim (2014) os grandes heróis eram Assange e as conversas contra o governo e qualquer controle, cinco anos depois é difícil uma palestra que não fale sobre a necessidade de termos regulamentos, regras ou algum tipo de controle sobre dados e os gigantes da tecnologia. Mais do que isso, a discussão sobre a necessidade de pensar o ângulo social da tecnologia tem sido um clamor constante por aqui.
A interessantíssima comissária do EU, Margrethe Vestanger, resumiu de forma clara a sua missão: só podemos confiar na tecnologia se soubermos que suas questões ou problemas estão sob controle e monitoramento. É dessa confiança que podemos construir um mercado que serve aos consumidores e não o contrário. Isso não é sobre impedir inovação, mas fazer ela evoluir a favor das pessoas.
Numa espécie de mantra do tipo “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, a admiração e o temor de estarmos construindo um mundo comandado por poucas grandes empresas vem criando uma contra-tendência de termos mecanismos que assegurem o viés humanista e o humanos em primeiro lugar.
A provocação da autora Rosenblat vai nessa direção, de que a lógica de experimentação da tecnologia não é válida para definir relações de trabalho, como o UBER vem fazendo. Afinal, a mudança constante de regras, a pseudo liberdade que dá a seus motoristas/autônomos totalmente controlados por um “chefe algorítimo”, tem um impacto no seu ganho, ou seja, na suas vidas.
Ou a constatação de que a infra-estrutura social (parques, bibliotecas, etc) das cidades impactam positivamente as relações, segurança e até longevidade de uma comunidade. De uma forma muito mais satisfatória do que uma vida social centrada em consumo como proposta pelas novas lojas 4 Star Amazon, como falado pelo sociólogo Eric Klinenberg. Afinal são lugares que obrigam a interação e não te cobram nada em troca. Há um claro desejo de que os governos mantenham essa herança social.
E sobre um dos assuntos mais quentes, dados, o controle parece mais urgente. Segundo Magrethe, dados não podem ser uma barreira de entrada para novas empresas e novas tecnologias, mas mais importante do que isso, é discutir quem tem ownership e controle deles. Essa foi a mesma provocação feita por Amy Webb, falando inclusive da nossa identidade genética e a nova moda das empresas que mapeiam seu DNA. A ilusão da privacidade já foi desfeita, mas sem algum tipo de regulamentação você poderia não ter mais nem controle sobre seu próprio corpo. A discussão não é simples e está longe de ter uma solução, mas é fundamental para que não sejamos prisioneiros das grandes empresas que controlam nossos dados.
O lado otimista é acreditar que temos recursos e habilidade para encarar o desafio de discutir e achar caminhos para regulamentar e seguir evoluindo. Sempre lembrando que o bem comum e social devem estar acima de qualquer empresa ou tecnologia. Ou como disse Margrethe, não podemos deixar que nossa democracia seja controlada por mídias sociais.
Veja também
O melhor “plano sequência” do SXSW (Amazônia volume 2)
"Amazônia Groove" dá visibilidade à multifacetada sonoridade que margeia os rios que transpassam o Amazonas e o Pará
O que um CFO foi fazer no SXSW?
Como líderes e como pessoas, aprendermos a escutar e entender o porquê do outro pensar diferente