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A arte da escuta

Ensinamentos de um curador de arte sobre tecnologia


12 de março de 2019 - 20h02

Hans Ulrich Obrist é um rockstar no mundo das artes. Já fez curadoria de quase tudo e entrevistou quase todo mundo. Atual diretor da Serpentine Galleries em Londres, já foi curador do Musée d’Art Moderne de Paris e de mais de 300 exposições ao redor do mundo. Em 2004, publicou a primeira série de entrevistas com artistas, arquitetos e filósofos, entre outras importantes figuras culturais. Ai wei wei, Björk, Michel Houellebecq, Marina Abramovic são alguns dos nomes que já foram interrogados pelo curador e conversador, em um total de 4000 horas de entrevistas. É tanto conteúdo que foi difícil acompanhar os 60 minutos do painel em que o suíço se apresentou no terceiro dia do SXSW. Hans contou sobre alguns de seus principais projetos, versando sobre assuntos que vão muito além da arte e passam pelas suas intersecções com tecnologia, cultura, geografia e filosofia.

(Crédito: Aghata Kim/Unsplash)

Ouvir faz parte da sua metodologia. Ouvir os outros, ouvir o mundo e até mesmo outros planetas. Uma prática que desenvolveu para continuar evoluindo. É o que fez para buscar entender mais sobre tecnologia, e como ela pode ser usada para elevar nossa capacidade poética e intercultural. Para entender mais sobre tecnologia, Hans foi ouvir Vitalik Buterin, programador e co-fundador da Ethereum, plataforma open source baseada em blockchain. Os artistas já estavam fazendo experimentos com a base de dados e ele também precisava entender mais sobre e mapear todos os artistas que já estavam criando com a tecnologia.

Outra das suas práticas é ouvir sobre os projetos não-realizados de artistas. Como curador, Hans acredita que é parte essencial ouvir sobre esses projetos queridos que não se realizaram, porque são projetos que ele pode nunca ter ouvido falar por não terem sido comissionados. Além disso, o esforço de coloca-los de pé, dentro ou fora da sua instituição também é um aprendizado em si, certamente outra lição que podemos absorver nas agências e empresas.

Um exemplo é o do casal de artistas Christo e Jeanne-Claude que tinha um projeto engavetado de construir uma mastaba – espécie de túmulo egípcio – em um lago. Eles desafiaram as leis da gravidade ao colocar uma estrutura de 20 metros de altura flutuando no lago do Serpentine no Hyde Park.

Ouvir as cidades, mais do que apenas levar exibições de arte para os lugares, também faz parte dos projetos com que se envolve. “Take Me (I’m Yours)” foi uma exibição em que as pessoas eram convidadas a tocar, testar e até levar elementos dos trabalhos expostos. Já o “do it” é uma série que virou um livro de instruções dos artistas de como reproduzir suas artes em qualquer lugar.

Por fim, um de seus últimos projetos integra muitas das crenças de Obrist. Conversando com o escritor e filósofo Umberto Eco, ele teve a ideia que vinha procurando para sua conta de Instagram. Eco pediu que ele salvasse a escrita à mão de seu fim, pois sua extinção também significaria o fim da civilização. Cinco anos depois, os seus mais de 260 mil seguidores acompanham os posts com escritos à mão com citações e mensagens de artistas, que em muitos casos, estão fora da rede social. “Ainda somos capazes de escrever à mão? Eu não sei. Agora eu checo”, diz um dos post-its no feed do @hansulrichobrist escrito por Umberto Eco.

Ouvir as pessoas. Ouvir os lugares. Ouvir os projetos não-realizados das pessoas. Premissas que ajudaram o curador a criar projetos de arte e tecnologia inesquecíveis. Mesmo que a gente não tenha a genialidade dele, certamente são lições que a nossa indústria poderia aprender.

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