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Igualdade de gênero em alguns ícones da inovação

No centro das discussões em Austin, diversidade não pode ser uma política, tem que ser um valor


12 de março de 2019 - 11h53

 

(Crédito: reprodução)

Meu primeiro dia foi um hole-in-one. Esse é o termo usado no golfe quando o atleta acerta o buraco na primeira tacada, algo extremamente raro. Logo nas primeiras palestras falamos sobre diversidade e desigualdade de gênero.

Guy Kawazaki abordou os temas enquanto contava um pouco de sua história. Seu relato sobre igualdade de gênero vale ser reproduzido. Segundo ele, em 1983, grande parte das pessoas que respondiam a Steve Jobs eram mulheres, pois para o lendário fundador da Apple o que importava era o resultado que cada funcionário entregava. Obviamente vale ressaltar quão tóxica era a liderança de Jobs, e em especial, seu relacionamento com a filha e a ex-mulher. Pontos confirmados por Guy, ele é aquela pessoa difícil que os filmes mostram. Mas Kawasaki trouxe uma história positiva. Ao levar uma de suas diretoras para negociar com a Sony no Japão, Steve ouviu que não negociariam com uma mulher à mesa. A Sony perdeu o negócio. O mundo busca aprender com a Apple e com Steve Jobs há muito tempo. Essa parte da história, porém, muitas vezes não é contada, mas é preciso ser disseminada e aprendida.

No Vale do Silício, a teoria dos 3T, de Richard Florida, é uma das chaves para o sucesso de uma empresa. Os Ts significam Tecnologia, Talento e Tolerância. Na linha da Tolerância, logo no começo da tarde do primeiro dia de evento, assisti a uma conversa entre investidoras que investem em mulheres. Foi bastante interessante ver três mulheres bem sucedidas defendendo suas teses voltadas ao empoderamento feminino nos negócios. A conversa começou com números sobre o mercado, que é extremamente antiquado e ocupado basicamente por homens brancos. Para se ter uma ideia, apenas 2% dos investimentos vão para startups de fundadoras mulheres. O número é também um reflexo da baixa concentração de fundadoras mulheres, ou seja, são dois problemas para serem resolvidos.

O assunto sobre mulheres e o universo da tecnologia se manteve em alta nos dias seguintes. Quando Susan Fowler, engenheira que denunciou casos de assédio no Uber, subiu ao palco foi o auge. Sua vida simples, com desafios que acontecem no cotidiano de muitas pessoas, passaria despercebida em várias outras situações. Nascida numa família de classe média, no interior do Arizona, lutou bastante durante toda sua vida, mostrou resiliência e se formou em engenharia da computação. Entrou numa das maiores empresas de tecnologia do Vale do Silício, um sonho para muitas pessoas. E mesmo assim, sua humildade no palco era de impressionar.

Num ambiente agressivo, como é de se esperar de uma empresa vanguardista de seu tempo, a vontade de vencer extrapolava o razoável e agredia seus funcionários. Segundo ela, era comum ver gestores gritando com seu próprio time. Apesar disso, ela faz questão de enfatizar que nem todos os times tinham esses problemas. Ela tentou mudar para um desses times, mas foi vetada. Tempos depois ela entendeu o motivo: os gestores estavam sendo cobrados para terem mulheres em seus times, não era tarefa fácil, pois só 3% dos engenheiros eram mulheres. Uma atitude de fachada para ilustrar a bandeira que quase todas as empresas do mundo levantam, a da diversidade. Fowler mesmo cita que no papel existiam diversas propostas contra a discriminação de mulheres, negros, latinos. Apesar disso, todos esses sofriam algum tipo de assédio, ou bullying, não só as mulheres. Eu já disse isso em várias oportunidades, e repito, diversidade NÃO pode ser uma política, tem que ser um valor.

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