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Diabetes e o mundo conectado

A tecnologia tem auxiliado no avanço dos tratamentos e no controle da doença que atinge mais de 420 milhões de pessoas, segundo a OMS


13 de março de 2019 - 9h49

 

(crédito: reprodução)

Buscando dicas sobre o SXSW fui instruída a diversificar, e dar espaço a assuntos menos presentes em nosso dia a dia, e foi o que fiz. Assim consegui chegar à algumas das melhores palestras que assisti no Festival. “Solving Diabetes with an open source artificial Pancreas” foi certamente uma delas.

Sou diabética tipo 1 (insulino-dependente). Assim não tem como dizer que Diabetes é um assunto que desconheço, mas confesso que, apesar de adorar tecnologia, sempre fui resistente a pensar em ter algo conectado ao meu corpo o dia todo. Um pâncreas artificial me pareceu uma boa forma de fugir da tal bomba de insulina e resolver o problema de forma rápida e definitiva. Quanta inocência a minha!

Scott Hanselman é arquiteto de plataforma de Comunidades da Microsoft, o que me deixou bem mais confortável assim que começou a falar. Trabalho desde sempre com tecnologia e certamente me sinto melhor discutindo o tema do que a Diabetes, mas não demorou para eu entender que a conversa iria muito além.

Scott nos contou de seu histórico de muitos anos com a doença e de sua paixão por tecnologia. Em resumo, como eu bem sabia, ainda não existe o tal pâncreas artificial e o termo se aplica a uma série de tecnologias combinadas que agem como tal. Scott vive muito bem com a bomba de insulina e mais inúmeros gadgets que garantem que ele, e uma enorme comunidade a que ele serve, vivam com mais qualidade e autonomia.

A apresentação foi muito além da doença apresentando alguns dos temas mais discutidos no festival de forma profunda e aplicada, que valem compartilhar. Vamos as reflexões:

Propriedade de Código e dados pessoais

Mesmo sendo funcionário da Microsoft, Scott trouxe para a mesa a discussão sobre propriedade de dados e a importância do software livre para a colaboração e avanço de novas tecnologias. No lucrativo mercado de doenças crônicas, como garantir que os dados produzidos gerem benefício a todos e não apenas as empresas detentoras das patentes?

Comunidades e Influenciadores

Em tempos de mundo virtual e relacionamentos superficiais, Scott mostrou a força desta comunidade. Inúmeros artigos, estudos e avanços surgiram do compartilhamento de informações sobre a doença. Aqui também surgiu uma rede de colaboração que compartilha insumos com os que mais precisam e não tem acesso.

Acesso a saúde e tecnologia

E por falar em acesso, fiquei sensibilizada em saber da dificuldade de conseguir acesso ao tratamento do Diabetes no mundo todo. Em tempo, vale ressaltar que o portador de diabetes tipo 1 precisa de insulina diariamente para viver. Não é opcional é condicional.

Ao final da palestra, várias foram as perguntas de pessoas do mundo todo sobre como ter acesso as mais novas tecnologias, para quem sabe um dia conseguir combiná-las e reproduzir também um pâncreas artificial. Descobri que nos Estados Unidos as pessoas conseguem acesso apenas via seguro saúde e tem que ser um bem bom. Soube que existe um mercado negro para obter insulina via Canada que gera uma economia enorme frente aos preços praticados nos EUA. Alguém de Londres comentou sobre a dificuldade de conseguir os aparelhos mais modernos pelo sistema público de saúde e o tempo que isso demora. Não tive como não pensar no Brasil, onde algumas pessoas não conseguem acesso nem mesmo aos mais simples e ultrapassados insumos.

Propósito

O último e mais importante ponto foi o reforço sobre a importância de estar conectado a um propósito. Como um bom diabético, Scott pesquisou sobre a expectativa de vida dos portadores da doença e descobriu que ela era muito menor que a média da população em geral e que em sua maioria, diabéticos morriam em decorrência de complicações da doença. Foi então que decidiu que seu objetivo de vida era “morrer tarde e não de diabetes”. Esta decisão é o que o move. Hoje Scott tem uma vida extremamente saudável e seu empenho no avanço do controle da doença certamente tem impactado a vida dele e de muitas outras pessoas.

Obrigada pessoal do White Rabbit pela dica valiosa. Como é bom ser lembrado do quanto ainda podemos fazer por nós e por tantos outros. Que grande exemplo. Obrigada, Scott.

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