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Por que somos tantos e tão poucos ?

Hoje somos muitos em Austin, mas a sensação ainda é a de que somos poucos. Poucos brasileiros e poucos publicitários nos palcos


15 de março de 2019 - 9h10

 

SXSW 2019 (crédito: reprodução)

Este ano o Brasil teve sua maior delegação no SXSW, 1600 pessoas. Andando por Austin, uma cidade perdida no interior do Texas, era comum encontrar amigos, ex-parceiros de trabalho, caras conhecidas do mercado e ouvir português o tempo todo. Da imigração aos voluntários do festival, todos comentavam sobre a presença massiva deste grupo no festival. 2019 foi meu nono SXSW e não preciso repetir o quanto o acesso e a democratização da tecnologia evoluíram nestes anos. O público mudou e se ampliou, antes eram os nerds e os indies, hoje são eles e todos os curiosos sobre o futuro.

Hoje somos muitos em Austin, mas a sensação ainda é a de que somos poucos, ou somos pouco. Poucos brasileiros e poucos publicitários nos palcos.

Nick Law foi o único representante do nosso mercado no main stage. Ele falou muito sobre sua experiência na RG/A e fez uma palestra clamando por mudanças estruturais nas agências rompendo com um formato nos times criativos que perdura desde Bill Bernbach juntou um redator com um diretor de arte há 60 anos e mudou não só a forma como o conteúdo da propaganda integrando texto a imagem e mudando a forma de contarmos histórias. Hoje Nick prega que a tecnologia necessita que criemos novos times que unam histórias a sistemas, narrativa e design, tempo e espaço, simplicidade e possibilidade. Storytellers e designers.

Hoje Nick Law saiu da RG/A e está liderando a Publicis, um grupo de agências muito diverso, com culturas diferentes e em diferentes estágios de desenvolvimento. Resta saber o quanto ele vai conseguir implementar estas mudanças estruturais em larga escala em edifícios já construídos.

Foram poucos brasileiros nos palcos também e este número não tem se alterado muito desde que comecei a ir ao festival o que me leva a pergunta: porque se somos tantos aqui, somos tão poucos criando novas empresas e novas estruturas que possam se tornar exemplos do novo e nos tragam aos palcos do SXSW?

Não acho que somos menos inventivos e já provamos que podemos fazer muito com muito pouco. Claro que existem exemplos de startups de sucesso no Brasil. A nova economia tem criado empregos, gerado novos negócios e nós, publicitários, temos contribuído para isso criando campanhas para estes clientes e tentando revolucionar o negócio dos nossos clientes que tem sido ameaçado. Mas e as nossas empresas, e o nosso negócio? Alguém acha que este mercado não vai ser “disruptado” como todos os outros. Com um modelo de trabalho criado há mais de meio século e um modelo financeiro onde não ganhamos dinheiro com o nosso produto?

Até quando vamos ser espectadores neste festival? A mudança gera fricção, a inovação vem dos conflitos. Temos de novo mais uma chance de voltar ao Brasil inspirados por tudo que vimos em Austin e gerar transformações reais, criar novos modelos, mas para isso temos que deixar a nossa zona de conforto. Temos que buscar o conflito criativo, desafiar os modelos atuais e entender que se não nos movermos de alguma forma vamos morrer. Seja criativamente, como profissionais ou como negócio. As pessoas não vão deixar de consumir mas se não revermos nossa forma de conectá-las as marcas, vamos nos tornar irrelevantes.

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