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Resgate da humanidade

Temos que resgatar a habilidade de ver o outro de verdade, de ressignificar as relações em casa e fora dela


15 de março de 2019 - 15h49

Fim de SXSW e início de download de informações. Em meio a tanta novidade tecnológica, robôs, AI e VR cada vez mais presentes no evento, o que de fato chamou minha atenção é a relevância do tema humano. Em Austin, falou-se muito da importância de se encontrar, de buscar um propósito e exercitar constantemente a empatia. Como disse Jamil Zaki: “Quando estudo empatia, sinto-me um ambientalista diante das calotas polares, descobrindo o valor de algo que está desaparecendo”. Temos que resgatar a habilidade de ver o outro de verdade, de ressignificar as relações em casa e fora dela e de maneira blended, misturada mesmo. Interessante o conceito de Office Home e Home Office, uma aproximação reversa também e que requer maturidade, flexibilidade, cooperação e, no caso do nosso Brasil, uma evolução mais significativa das leis trabalhistas.

(Crédito: Aaron Blanco Tejedor/Unsplash)

Temas como a diversidade, a força feminina (comprovada pelo número e qualidade das palestrantes do SXSW, inclusive) e o novo papel do homem foram tratados em painéis variados e marcantes. Ficou na minha mente a fala de Gwyneth Paltrow sobre a coragem de mudar a carreira e como a atriz se viu empreendedora: “Sofro da síndrome de impostora e não me sentia capaz de liderar uma empresa. Precisamos de mais líderes vulneráveis em nossos negócios e capazes de fazer perguntas sem medo.” Depois, entrei numa sala menor, menos concorrida, e acabei sendo positivamente surpreendida por outra palestra ligada à mudança de carreira e à potência de um trabalho quando os mais jovens e os mais experientes atuam juntos. Chip Conley, conselheiro estratégico e ex-estagiário Airbnb, disse: “A sabedoria é diferente do conhecimento e uma pessoa experiente ajuda empreendedores jovens a conter a ansiedade, entender seus limites e somar repertório para boas decisões. Se você vai trabalhar apaixonado e curioso, as rugas desaparecem”.

Para o filósofo e empresário Wolfgang Wopperer-Beholz, “o problema das empresas hoje não é inovação ou disrupção e sim as pessoas trabalharem com objetivos de curto prazo, sem ter foco em milestones, porque o sucesso vem a longo prazo”. Vários palestrantes, como Esther Perel, reforçaram esta questão dos prazos e da curadoria do tempo, do que importa e também o zelo pelas relações para o sucesso das empresas e crescimento profissional de cada um.

Enfim, entre palestras que evidenciam o fim da privacidade (“De quem é seu DNA?”, Amy Webb) e a confiança em xeque, vimos a importância das conexões humanas, que se perderam entre as metas, as tecnologias e o ritmo acelerado das grandes cidades. Quem entrou na sala 410 do hotel Hilton foi surpreendido pela instalação artística Blooming, de Lisa Park que, para mim, fechou perfeitamente o tema: com sensores biométricos, a instalação mede as emoções (vulnerabilidade, conforto, intimidade) de duas a quatro pessoas que sobem no piso sinalizado e, ao darem as mãos ou se abraçarem, fazem a cerejeira virtual e em tamanho natural florescer, evidenciando a importância do toque humano da maneira mais poética possível. Sim, de lá saíram desconhecidos que deram as mãos e choraram juntos, como nós. Todos humanos.

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