Como ficou Austin sem o SXSW?
Comunicadores e moradores locais compartilham experiência da capital com o cancelamento do evento em 2020
Comunicadores e moradores locais compartilham experiência da capital com o cancelamento do evento em 2020
Thaís Monteiro
15 de março de 2021 - 13h08
O cenário era Austin, capital do Texas, e o momento, março de 2020. A ansiedade típica e anual diante da recepção de visitantes de diversos locais do globo para mais uma edição do festival South by Southwest, um dos principais eventos do calendário de inovação, se encontrava com outro tipo de ansiedade, um direcionado ao temor da Covid-19, pandemia que em março começou a eclodir em demais regiões do mundo fora da Ásia e Europa.
A organização do SXSW mantinha os inscritos informados, garantindo a realização do festival presencialmente com novas medidas de segurança. Enquanto isso, empresas e nomes no line-up desistiram da presença e um abaixo assinado feito por moradores de Austin colecionava mais de 55 mil assinaturas cujo intuito era evitar que os visitantes internacionais pudessem trazer o vírus para a cidade que, até então, não registrava casos de contaminação. A trama se encerra em 6 de março, uma semana antes da realização do festival. O prefeito da capital, Steve Adler, optou por vetar a continuidade do evento por possíveis ameaças à saúde pública. A organização não articulou uma versão online.
O impacto da não-realização do SXSW 2020 foi anunciado pelo próprio prefeito: cerca de US$ 350 milhões entre vendas, comércio local, hotelaria, aluguel de automóveis, e novos negócios, já que o evento gera um fluxo de 400 mil pessoas de fora da cidade. O SXSW foi o primeiro grande evento em território americano a tomar tal medida e o segundo no calendário de inovação, seguido do Mobile World Congress, em fevereiro. “Austin tem outros eventos importantes, mas SXSW sem dúvida é o maior. Quando o evento foi cancelado, o medo e a tristeza dominaram 100% das conversas”, diz Natasha Louckevitch, produtora executiva e co-fundadora da C/Purpose e co-diretora do Austin Jewish Film Festival.
Brasileira e atual residente de Austin, Natasha foi uma das afetadas, tinha projetos alinhados que foram pausados ou cancelados junto com o festival. “Como parte da indústria de comunicação, eu obviamente não queria que fosse cancelado. Por outro lado, tenho dois filhos pequenos que vão pra escola e todas as famílias estavam fazendo abaixo-assinados para que fosse cancelado por medo de trazer o vírus. Quando confirmaram o cancelamento, foi um misto geral de tristeza e alívio. Ao mesmo tempo, chegava a incerteza sobre o futuro e o que aconteceria dali pra frente. O ‘e agora?’ reinava na cidade”, contextualiza.
Ainda assim, para Natasha, a importância do festival segue independente da não-realização das suas versões presenciais por dois anos seguidos. “O festival literalmente ajudou a moldar o caráter da cidade ao longo dos anos. Na medida que o festival foi crescendo, muita gente foi conhecendo e se apaixonando por Austin e acabou se mudando para lá. Faz parte da cultura de Austin reclamar do enorme influxo de pessoas se mudando para a cidade. Até começo de 2020, era a cidade com o maior crescimento dos U.S. e o festival tem muito a ver com isso. Ele sobreviverá com louvor, e seguramente, uma vez que esta pandemia estiver sob controle, o festival voltará presencialmente com tudo. Não vejo a hora! Estou morrendo de saudades de reclamar do trânsito infernal!”, brinca.
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