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Hubert Joly, da Best Buy: A refundação do capitalismo?

O ex-CEO apresenta sua visão do que é ser um líder na nova era do capitalismo, especialmente após a pandemia

Roseani Rocha
16 de março de 2021 - 16h38

Hubert Joly: busca excessiva do lucro é “venenosa e perigosa” (Crédito: Reprodução)

Normalmente palco para debates sociopolíticos importantes, o SXSW abriu espaço nesta terça-feira, 16, para um movimento que ganha força entre as empresas: uma revisão do sistema capitalista e seus princípios. Quem falou a respeito foi Hubert Joly, ex-CEO da Best Buy (ele deixou a empresa em junho de 2020), e membro da Harvard Business School, em conversa com Dorie Clark, autor e professor da Duke University.

Nas próximas semanas, Joly lançará o livro “The heart of business”, ou “O coração dos negócios”, cujo subtítulo é “Princípios de liderança para a próxima era do capitalismo” e Dorie logo questionou quais são suas recomendações a respeito, já que se opõem a teóricos tradicionais do mundo dos negócios.

“Milton Friedman está morto, também do ponto de vista filosófico, e fico feliz com isso”, disse Joly, sobre o exemplo citado por Dorie Clark. Segundo o ex-CEO da Best Buy, até aos seus acionistas ele costumava alertar que a busca excessiva do lucro é “venenosa e perigosa”. E explicou: “Nosso propósito, como companhia, não é ganhar dinheiro. É imperativo gerar dinheiro, mas não é nosso propósito. O que muita gente está abraçando nessa nova era do capitalismo é a ideia de que no fim das contas uma empresa é uma organização humana, feita de indivíduos trabalhando juntos por um objetivo. Se pensar nos objetivos das nossas vidas, não é fazer dinheiro, claro que precisamos dele, mas não é nosso objetivo final”, disse.

Assim, para o ex-CEO, os negócios precisam perseguir um propósito mais nobre, que é endereçar as necessidades humanas. A segunda ideia é colocar as pessoas no centro – já que uma empresa é uma organização humana -, pois elas são a fonte e energia de tudo. Para ele, os líderes da nova era do capitalismo precisam conectar os propósitos individuais das pessoas trabalhando ali ao da companhia, realizar parcerias eventualmente até com concorrentes (como ele já fez com a Amazon) e tomar conta da comunidade onde atua. Preocupar-se com os acionistas entra, claro, nesse rol, mas lembrando que o lucro é uma “consequência” de pessoas engajadas e com energia num mesmo sentido.  

“O livro que lançarei em algumas semanas é sobre ‘como’ fazer isso. Um guia que dá ferramentas para os líderes que estejam atuando a partir de um espaço de humanidade e propósito”, ponderou Joly. No fundo, segundo ele, trata-se de reinventar os negócios e o capitalismo para criar um futuro mais sustentável. Ele lembra que a melhor definição de loucura é querer fazer as mesmas coisas sempre e chegar a diferentes resultados. “Precisamos mudar fundamentalmente as coisas. Mais e mais pessoas estão nessa direção e é bacana dar minha contribuição a essa refundação”, pontuou.

O executivo também lembrou produtos e serviços criados pela Best Buy que, em princípio, a empresa não precisaria se incomodar em desenvolver. No isolamento social da pandemia, sensores instalados na casa de pessoas idosas para detectar alguma situação de risco e conectá-las a algum tipo de ajuda representaram um dos casos. Outro, foi a criação do programa chamado “In Home Adviser”, espécie de designer que ia à casa do cliente, de graça, para conversar sobre as necessidades da família e oferecer uma solução, que a pessoa poderia aceitar ou não. “Se aceita, nos tornamos o CIO ou CTO da sua casa. Porque nossas casas estão ficando mais complexas. Se a Netflix não funciona, ajudamos saber o porquê. Essas novas abordagens mudam completamente o negócio e trazem uma vantagem competitiva”, argumentou.

Para Joly, os dois exemplos citados são tipos de “propósitos nobres” que as empresas devem buscar nesta nova era do capitalismo.  E o exemplo tem de vir de cima. Assim, para ele, ser líder neste contexto, não diz respeito a ser um super herói ou a pessoa mais esperta na sala, mas estar aberto e ter consciência daquilo que não sabe, procurando outras pessoas para ajudar a resolver. “Num lockdown, se você não pode sair, precisa se movimentar para dentro. É preciso desacelerar e meditar mesmo sobre ‘como quero ser lembrado enquanto líder’?  quais os parâmetros sob os quais vamos tomar decisões?”, provocou.

Além disso, Hubert Joly também destacou que um CEO nem é exatamente aquele que toma muitas decisões, mas o que dá as linhas mestras para outros tomarem as melhores decisões. E reiterou que o fator-chave para um bom líder hoje não é ser o mais esperto na sala, mas saber criar o ambiente no qual as outras pessoas da empresa também possam ser bem-sucedidas.

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