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A empreitada dos irmãos Russo pós-Marvel

Diretores voltam para o drama indie experimental para tratar de traumas de guerra e vícios em opioides

Thaís Monteiro
19 de março de 2021 - 19h22

Depois de longos anos ajudando na construção do universo cinematográfico da Marvel, os irmãos Antony e Joe Russo estrearam este ano seu novo longa-metragem, que vai dar início a uma nova fase de suas carreiras enquanto dupla criativa. Curiosamente, Cherry é a volta dos irmãos para os dramas mais existenciais e indie que trabalhavam no passado, antes de ingressarem em uma agenda de shows de comédia e blockbusters de super-heróis. O filme já está disponível na Apple TV +.

(Crédito: Tommaso Boddi/GettyImages)

Em entrevista à atriz Elizabeth Banks, os irmãos contaram que o filme foi inspirado no livro Cherry: A Novel, por Nico Walker, que se passa em Cleveland, cidade natal dos três. A trama do jovem Cherry que decide se alistar no exército para servir no Iraque depois do atentado de 11 de setembro e volta para casa com traumas de estresse pós-traumático e vídeo em opioides. “Conhecemos muitas pessoas que passaram por situações parecidas. Era algo que queríamos endereçar agora. Em 2020 tivemos o maior número de overdoses por opioide”, lembrou Anthony.

“Nós fazíamos filmes como Cherry no começo da nossa carreira. Filmes indies que não tiveram grande distribuição. Cherry é como eles. Estávamos acabando Vingadores: O Ultimato e não sabíamos o que fazer depois. Sabíamos que seria o último filme da Marvel por um bom tempo. Alguém deu um livro para nós e respondemos muito bem”, disse.

Por se passar na mesma cidade em que os irmãos cresceram, o livro serviu de boa base para a roteirização do longa-metragem. “Quando sentamos para colocar as ideias em prática, já estava tudo pronto”, contou Joe Russo.

Apesar de não estar mais no universo Marvel, a dupla selecionou o ator Tom Holland, que interpreta o Homem-Aranha, para ser o protagonista. Mas o filme inova o estilo da dupla ao separar a trama em capítulos da vida de Cherry e torná-lo o ponto de vista pelo qual o espectador vai experienciar o filme. “É um ciclo de vida muito traumático e tomamos a decisão de ser o mais subjetivos possíveis com jogo de luz, sombra e sons”, continua Joe.

Mas o maior aprendizado que os irmãos Russo querem deixar nesse projeto que marca o começo de uma nova etapa de suas trajetórias profissionais é de que soldados são treinados para a guerra, mas não para voltar para casa.

“As instituições se montam contra a gente. Cherry não se sente ouvido. O livro captura a voz das gerações X e Z, essa existencial que reconhecemos em pessoas que sofrem de vícios. Como eu vou ter uma vida melhor que a dos meus pais e suceder as expectativas? A tecnologia está vindo contra nós. Estamos sendo manipulados por informação e desinformação e eu me preocupo se vamos sobreviver a desinformação. Mas podemos superar tudo isso. Empatia é um componente importante para nossa sobrevivência”, concluiu Joe Russo.

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