Brasil deixa de ser maior delegação estrangeira do SXSW
Tracy Mann, responsável pela área de desenvolvimento de negócios internacionais para o Brasil do evento, comenta os esforços para aumentar número de brasileiros participantes
Tracy Mann, responsável pela área de desenvolvimento de negócios internacionais para o Brasil do evento, comenta os esforços para aumentar número de brasileiros participantes
Thaís Monteiro
9 de março de 2022 - 6h00
Em 2019, o Brasil foi a maior delegação estrangeira credenciada para atender o SXSW. Cerca de 1.600 brasileiros estiveram no festival aquele ano. Em 2018, o número era 1.445, segundo apuração do Meio & Mensagem. Em 2022, com a volta do festival presencial, o feito não se repetiu.
Segundo Tracy Mann, responsável pela área de desenvolvimento de negócios internacionais para o Brasil do SXSW, a delegação brasileira passou da marca dos mil participantes, mas isso representa cerca de 66% do número que o SXSW recebeu da delegação em 2019.
Quem lidera o ranking atualmente é o Reino Unido, cuja população frequenta o evento muitos anos antes do Brasil. A presença brasileira começou a ganhar maior atenção por volta de 2017.
Tracy acredita que a recuperação do número obtido em 2019 acontecerá já em 2023. Por ora, ela atribui a queda ao receio da população em viajar por conta da Covid-19 e por medo de que o festival seja cancelado em cima da hora como em 2020, o que, ela garante, não ocorrerá.
Apesar disso, brasileiros não faltam na programação. Gorvernadores do Rio Grande do Sul e do Recife fazem parte do line up do festival, assim como profissionais de diversas áreas, de sustentabilidade à comunicação e aviação. Tudo isso também é resultado de um esforço de Mann para trazer diversidade de vocês e regiões ao festival muito além de conquistar números de inscritos.
Ao Meio & Mensagem, a executiva, que viveu no Brasil e mantém estreita relação com a cultura e seu povo, detalha os esforços empreendidos para que o grupo volte a nortear que tipo de público o South by Southwest está recebendo.
Meio & Mensagem – Ao que você atribui a queda no número de inscrições de brasileiros no SXSW deste ano?
Tracy Mann – O Brasil não vai chegar ao tamanho das últimas três edições. A causa principal é o covid no Brasil. Vocês ainda estão com os números aumentando. As pessoas têm um pavor razoável de viajar e aqui está tudo ficando mais calminho ou normalizado. No Texas, então onde não teve mandato, está mais relaxado. Estamos adotando uma série de protocolos e temos planos se os casos começarem a subir. O perfil daqui é diferente. Quem está no Brasil sentindo o auge da nova variante, eu entendo a preocupação. E então não teve esse preparo das pessoas prepararem uma viagem internacional. Outro problema que está pior é a cotação do dólar, cada vez mais alta.
M&M – Quando você acredita que haverá recuperação dos números de 2019?
Tracy – Até o ano que vem a gente recupera. O cancelamento de 2020 foi tão acima da hora que algumas pessoas devem ter esse pavor de de repente cancelar de novo. Não vai acontecer de jeito nenhum, mas eu entendo também que as pessoas fiquem receosas em investir em uma viagem para cá com esse pensamento. Até o prefeito já falou que sem falta o SXSW vai acontecer porque a cidade, apesar de estar sempre crescendo, precisa do lucro que o SXSW gera.
M&M – Quais são os esforços que a organização está empreendendo para que esse número volte a crescer?
Tracy – Eu tive sorte nesses últimos dois anos de pandemia. Eu geri um brand trust com alguns brasileiros em várias áreas que me ajudaram a fazer uma série de comunicações. Durante a edição digital fizemos uma edição especial de Clubhouse para o Brasil. Eu chamei os palestrantes para conversar com os brasileiros presentes e foi uma coisa muito especial. Eu utilizei esses relacionamentos que eu concretizei ano passado para conversar com uma rede de marcas e de outros estados que eu não conhecia antes. Eu tenho a minha rede que eu sempre mantenho contato: eu sempre escrevo para eles, sempre aviso das novidades. É realmente um relacionamento feito um por um. Eu valorizo muito esses relacionamentos.
O SXSW é muito interessante. Não é uma empresa que investe muito em marketing, na minha opinião. Eles são muito quietos e o brasileiro adora a mídia, conversas. Esse mês de fevereiro eu fui atrás de todos os que adiaram seus ingressos para 2023 para ver se eles não querem comprar ingressos online para ficar dentro do ecossistema brasileiro do SXSW. Eu acho que tem vários recursos para fazer esse namoro e destaco as coisas que eu sei que são importantes para os brasileiros.
Esse ano eu fui atrás de brasileiros para palestrar no community uns 9 meses antes do evento, como o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, ainda mais num ano de eleições presidenciais. Eu fui atrás de pessoas de Recife. Recife tem tudo a ver com o SXSW, mas eles nunca têm recursos para ir. Junto com o Fab Lab, eu consegui o prefeito José Campo e o estado de São Paulo tem grandes planos também. Eu vejo isso como o benefício que eu posso trazer. O nosso timing é tão adiantado. Não tem nada a ver com o Brasil nesse sentido e eu tenho que empurrar um pouco para que as coisas aconteçam.
M&M – Por que o Brasil é importante para o festival?
Tracy – É porque ele é importante para mim (risos). Eu sempre digo que minha visão para o SXSW é que o Brasil consiga transformar o evento para uma coisa mais brasileira. Inovação, criatividade, sustentabilidade são coisas que sempre me remetem ao Brasil. Mas em termos da empresa, de uma forma pragmática, o Brasil tem trazido investimentos, não só em números de inscrições mas também de grandes ativações. A Apex em vários anos investiu para ativar no evento, assim como a Embraer. Vamos ver se até o final deste ano não temos uma nova notícia em termos de investimento do Brasil no evento em Austin.
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