Ecossistema Campus: a inovação pela equidade
Projeto brasileiro de educação surgiu como forma de diminuir desigualdades e é nomeado finalista do SXSW Innovation Awards; vencedor será revelado na próxima segunda-feira, 14
Projeto brasileiro de educação surgiu como forma de diminuir desigualdades e é nomeado finalista do SXSW Innovation Awards; vencedor será revelado na próxima segunda-feira, 14
Giovana Oréfice
9 de março de 2022 - 6h00
O Dicionário Cambridge classifica o termo “inovação” como uma mudança ou novidade. Ainda, atualmente, o conceito é muito associado à tecnologia. Criado há cerca de quatro anos, o hub de inovação do grupo mineiro de escolas Santo Agostinho, de Belo Horizonte, consagrou o ecossistema Campus como um dos finalistas da categoria de educação do SXSW Innovation Awards, que reconhece e premia iniciativas tecnológicas em diversas vertentes ao redor do mundo.
Mais do que uma plataforma, o Campus se comporta como um ecossistema que visa transformar escolas orientadas a dados. Voltada para alunos, a iniciativa é capaz de reunir atividades e outras dinâmicas que envolvem o processo de aprendizado em um único lugar, gerando informações para que os alunos sejam vistos com cada vez mais profundidade. “Entendemos que quanto mais conhecemos um estudante, mais conseguimos cuidar dele”, afirma Marlos Carmo, head de inovação dos Agostinianos.
Ele aponta que a resposta para alcançar esse objetivo foi encontrada na tecnologia. “Com ela [a tecnologia], conseguimos medir interações, comportamentos, erros, acertos, esforço, desempenho e diversos indicadores para avaliar o aluno e conhecê-lo cada vez mais”, comenta. Ainda, Carmo diz que pesquisas mostram que a melhor forma de uma pessoa aprender é no modelo de ‘um para um’, com um professor particular — algo inviável em escolas, uma vez que educadores trabalham em escalas. Para se aproximar do considerado ideal, o ecossistema tem colaboração direta dos professores, que disponibilizam conteúdos e aulas online em diversos formatos, de acordo com a série, turma e disciplina as quais lecionam.
Um dos diferenciais do Campus é a mudança do processo avaliativo que promove nas escolas. Batizado de Meu Desempenho Campus (MDC), os dados gerados na plataforma alimentam um dos principais indicativos da plataforma, baseada em engajamento — o quanto os alunos aderem aos pedidos e propostas dos professores, sejam de atividades online ou presenciais — e no desempenho — a performance dos alunos propriamente dita. O head explica que as informações geradas contribuem para o acompanhamento constante do estudante.
“O Campus não é só mais uma plataforma, uma tecnologia, é um processo de dados. Quando colocamos a nota como carro chefe, toda escola se move”, declara. A inovação também quebra o processo tradicional de notas nas escolas, que vão de zero a 10, geralmente — modelo usado há mais de 100 anos, conforme indica Marlos. Com o projeto, os pontos partem de 100% e, à medida em que os alunos estudam na plataforma, a porcentagem vai se ajustando. Com isso, as escolas da rede aboliram o método de boletins, baseando-se em notas em tempo real.
As cabeças que conceberam o Campus tiveram o apoio de um time de 1400 colaboradores para levar ao pacote toda a inteligência pedagógica dos gestores do grupo.
Impacto social
Ainda que os colégios Agostinianos sejam particulares, 3 mil alunos de obras sociais se juntam aos cerca de 11 mil pagantes. Com uma perspectiva filantrópica, a educação esbarra no problema da desigualdade. “A igualdade, pensando no contexto da escola, significa que todos os alunos têm as mesmas coisas. Só que nós temos contextos, histórias e repertórios diferentes”, indica Carmo. Ele completa que o ideal utópico caminha para o equilíbrio da sociedade: “Ela parte do princípio de que nós precisamos entender as diferenças, necessidades e contexto histórico de cada um e a partir disso fazer ajustes de acordo com a individualidade de cada um”.
É por essa razão que o hub classifica o projeto como inovador com tal originalidade de um impacto social, algo que a organização do South by Southwest busca na análise dos finalistas. O Campus já está sendo testado para ser oferecido a escolas públicas.
“Pensando nesse contexto, muitas vezes olhamos para fora e achamos que temos realidades muito diferentes. Mas, na prática da educação, da criança e da aprendizagem, o projeto é brasileiro e regional, que também tem potencial de ser expandido”, salienta o head.
Além de participar o SXSW Edu, um braço do festival voltado para a inovação que acontece também em Austin, entre 07 e 10 de março, os representantes do Campus no evento esperam entender novas formas de experiência de aprendizagem e personalização da educação, seja qual for a frente, entre inteligência artificial e outras.
Outros dois finalistas concorrem ao lado do Campus: o Tapis Magique, um tapete eletrônico que gera dados de sensores tridimensionais baseados em posturas e gestos corporais, desenvolvido em Cambridge, Massachusetts; e o Arist, uma ferramenta que ministra cursos por meio de mensagens de texto — concebido originalmente para lecionar empreendedorismo a estudantes do ensino médio na zona de conflito do Iêmen que não tinham acesso à Internet. O projeto é uma solução criada em São Francisco, na Califórnia.
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