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Cresce importância da saúde mental na programação do SXSW

Ditador de tendências, festival pode democratizar e avançar discussões sobre sofrimento psíquico, além de sublinhar a responsabilidade das empresas nesse quesito

Thaís Monteiro
12 de março de 2022 - 6h00

Uma olhada rápida na programação do SXSW 2022 e o credenciado para vai reparar que, além de painéis sobre melhores formas de trabalhar, como evitar o burnout e como adotar práticas meditativas, há encontros, os denominados Meet Ups, sobre diversos assuntos que perpassam o grande tema da saúde mental. Para listar alguns, há aqueles destinados a falar sobre depressão, burnout, luto, entre outros assuntos.

Programação também propõe práticas para uma vida equilibrada (Crédito: SufsUp/Shutterstock)

Na realidade, saúde mental não é um tema novo no festival e a organização valoriza que os visitantes de Austin possam se familiarizar cada vez mais com o tema. Exemplo disso é que a exposição sobre Wellness é aberta ao público geral e não só aqueles credenciados. Para Vanessa Mathias, co-fundadora da White Rabbit, que frequenta o festival há anos e realiza apresentações de aquecimento para o mesmo, esse fato demonstra o quanto a organização do evento dá importância para o tema e a acessibilidade desse tipo de informação.

Na sua opinião, em 2022 saúde mental aparece como um tema transversal em uma quantidade ainda maior de conteúdos. “Quando se fala, por exemplo, do backlash da tecnologia, quais são as redes sociais emergentes, também é abordado os impactos disso na saúde mental”, diz. E cita Tristan Harris, um dos criadores do documentário O Dilema das Redes, e Priya Parker, autora de “The Art of Gathering: How We Meet and Why It Matters” (“A Arte de se Reunir: como nos conhecemos e porquê isso importa”, em tradução livre), como destaques da programação, pois tratam da exaustão mental global depois de dois anos em pandemia e crise econômica e como tornar a tecnologia mais humana, agindo, inclusive, no combate à desinformação.

“Claramente, as pessoas estão com o espaço mental muito baixo depois da pandemia. O RH e as liderança se voltaram para como nós podemos ter mais soft skills ou para como lidamos com questões relacionadas com saúde mental, burnout. É um fenômeno global, vide fenômenos como o The Great Ressignation, que é esse grande movimento de pessoas pedindo demissão nos EUA porque eles entenderam que a forma de trabalho que sempre existiu até agora não adere ao novo mundo. Ou as empresas se modificam ou elas perdem os grandes talentos delas. Pessoas que são infelizes produzem menos e vira essa bola de neve. É um festival pautado pelas empresas e esse é o tema da pauta globalmente e nesse processo de retomada. Me surpreenderia se não tivesse tanto”, divide.

Segundo Alexandre Kavinski, CMO da Mirum e i-Cherry, ambas agências listadas no topo do ranking do Great Places do Work, o SXSW já priorizou diversidade e globalização em anos anteriores, muito antes dos temas se tornarem uma tendência do mercado. Isso indica que o evento pode exponencializar o debate, tornando essa uma preocupação ainda maior. Apesar disso, ele alerta, saúde mental não é uma tendência. “Podemos ter a falsa sensação de que o tema saúde mental ganhou tração com a pandemia, na verdade, a busca por saúde mental já vinha crescendo exponencialmente muito antes da pandemia. Acho que o fato só impulsionou a trazer o assunto mais à tona”, justifica. Mesmo assim, na sua opinião, ainda há muita desinformação e preconceito sobre o assunto. O executivo tem Transtorno de Personalidade Bipolar e sofreu Síndrome de Burnout em 2019, quando trabalhava nos Estados Unidos.

Para além dos debates, o festival também trás algumas soluções. Há palestras sobre o benefício das práticas meditativas, buscando equilíbrio, e uma track específica sobre psicodélicos. “Eles não falam só sobre o uso, mas como a abstração de psicodélicos é interessante para aliviar sofrimento, depressão, adição, estresse pós-traumático”, explica Vanessa. A executiva também nota que há debates sobre a intersecção entre saúde mental e grupos minoritários, pois são eles que foram mais afetados pela pandemia e crise econômica subsequente.

Papel da comunicação

Como qualquer outra indústria, a comunicação também é passível de ser responsabilizadas por questões relacionadas a saúde mental. Para Vanessa, o segmento contribuiu para criar uma narrativa de que o profissional bem sucedido é aquele que não come bem, não dorme, é esforçado, trabalha fora do seu horário e ainda assim entrega tudo no prazo. Porém, essa narrativa não cabe mais. “Todo o setor da comunicação tem um papel muito importante para falar sobre isso e ser esse percursor, porque é um setor que muito comete autoabuso e ele precisa ser revertido para o bem de todo mundo. Não acho que saúde mental é um diferencial. É uma condição. E mais do que acharmos que saúde mental é um problema individual, entendemos nesses últimos dois anos que é um problema coletivo e precisa ser tratado como tal”, argumenta.

Segundo Kavinski, é preciso que agências e anunciantes lembrem que consumidores são pessoas e que suas ações podem ter impactos profundos na vida deles. “Os últimos 10 anos trouxeram grandes avanços na economia comportamental em detrimento da linha mais tradicional dos racionalistas, como toda mudança isso traz ônus e bônus para a sociedade e para os consumidores em geral. Entender o comportamento e explorar o comportamento humano pode ser usado tanto para ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões, quanto a tomarem decisões enganosas, precipitadas ou não vantajosas”, afirma.

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