Albert Bourla, CEO da Pfizer: fazer o impossível, possível
Baseado em seu livro sobre a corrida das vacinas, o chairman e CEO refletiu sobre a pressão para a entrega de imunizantes e os próximos passos da pandemia e da empresa
Baseado em seu livro sobre a corrida das vacinas, o chairman e CEO refletiu sobre a pressão para a entrega de imunizantes e os próximos passos da pandemia e da empresa
Giovana Oréfice
14 de março de 2022 - 19h15
O encontro presencial do South by Southwest após milhões de vidas perdidas em todo o mundo por conta da pandemia de Covid-19 — estima-se que, ao todo, cerca de seis milhões de pessoas morreram em decorrência da doença — só foi possível graças à vacinação. O quarto dia de festival contou com a participação do Dr. Albert Bourla, chairman e CEO da Pfizer, como um dos keynote speakers do evento, em painel mediado pela jornalista econômica Julie Hyman.
Um dos momentos mais críticos pelo qual a sociedade contemporânea passou nos últimos tempos foi, em grande parte, aliviado pelos esforços da farmacêutica em desenvolver uma vacina em tempo recorde: uma missão que levaria alguns anos durou nove meses, os quais são retratados pelo executivo em seu novo livro Moonshot: Inside Pfizer’s Nine-Month Race to Make the Impossible Possible. Bourla comentou sobre a pressão em fazer, como o título da obra sugere, “o impossível possível”, vinda de bilhões de pessoas, empresas e de governos, que apostaram suas fichas na Pfizer.
“Não sabíamos o que esperar. […] Antes do início do estudo final, um processo que geralmente leva seis, sete anos – fizemos isso em quatro meses”, afirma. “É difícil estar em uma posição em que tudo acontece muito rapidamente e você não tem outra opção que não tentar entregar uma solução”, completou, ressaltando que uma falha não diria respeito a ele ou à própria Pfizer, mas sim, recairia sobre todo o mundo. Neste momento, Bourla citou o Brasil, relembrando quando “os brasileiros diziam: está tudo bem, não nos importamos”, referindo-se ao valor que líderes do governo davam às vacinas à época.
A fase de testes dos imunizantes contou com a participação de 46 mil pessoas, que, segundo o CEO, deveriam refletir uma demografia global, uma vez que se trata de uma pandemia. A Pfizer buscou atuar em locais que registravam uma alta incidência da doença naquele momento, encarando o desafio de projetar o comportamento do vírus para os meses seguintes e, assim, comprovar a eficácia da vacina.
Com o imunizante sendo o primeiro aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão norte-americano que regula a saúde pública, em dezembro de 2020, para uso emergencial, a Pfizer viu sua reputação aumentar. Contudo, não se pode deixar que o sucesso suba à cabeça: “A reputação vem em gotas. Você pode perdê-la em baldes”, destaca Bourla. A alternativa, então, é manter a credibilidade perante a sociedade sendo fiel aos princípios que, no caso da Pfizer, se baseiam na ideia de “pacientes em primeiro lugar”.
Amplamente discutida, principalmente durante a pandemia, a desinformação também foi um fator crítico para o avanço da vacinação — endossada pela polarização política que os Estados Unidos viveram durante 2021, o ano eleitoral. As pessoas passaram a associar informações científicas à política, como o uso de máscaras indicando que um indivíduo era democrata, conforme exemplificou Albert.
Ainda em âmbito político, ele foi indagado sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Como filho de pais que vivenciaram o holocausto, Bourla aponta que a Pfizer não deixará de enviar remédios para a Rússia, alegando que não faria isso a crianças em tratamento contra o câncer apenas porque elas nasceram em Moscou, exemplificou.
Possível fim da pandemia
A mediadora do painel perguntou se a fadiga de políticas contra o coronavírus poderiam representar uma dificuldade em, de fato, deixar a pandemia para trás, e o CEO responde que sim. Apesar disso, é otimista no avanço do desenvolvimento de tratamentos orais para pessoas que estão doentes, classificando-os como “divisores de água” e declarando que, com tais medidas, pensa que será possível conviver com o coronavírus da mesma maneira como convivemos com milhares de vírus todos os dias.
Durante o discurso, ele comentou sobre a possibilidade da aplicação de uma quarta dose de reforço, salientando que ela provavelmente será adotada por grupos que estão seguindo as recomendações sanitárias, mas que será difícil convencer aqueles que sequer se vacinaram com a primeira dose. Contou, ainda, que a Pfizer está estudando o desenvolvimento de uma vacina que tenha cobertura imunológica de um ano, assim como acontece com as da gripe.
Sobre os próximos passos da Pfizer, com a pandemia caminhando para se tornar algo endêmico, Bourla conta que a companhia continua investindo em frentes como o câncer, doenças imunológicas, cardiovasculares e até mesmo doenças raras.
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