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Austin é palco de protestos durante SXSW

Contra decisões do governo do texas e da guerra entre Ucrânia e Rússia, palestrantes usam visibilidade do festival para chamar atenção para causas sociais


15 de março de 2022 - 8h00

Por Giovana Oréfice, Roseani Rocha e Thaís Monteiro

Nessa segunda-feira, 15, vídeos do SXSW exibidos antes de palestras mostravam o esforço do festival em pautar uma questão política em discussão no Texas neste momento. No final de fevereiro, o governador do Texas, Greg Abbott determinou que órgãos públicos devem investigar pais de crianças transgêneros por abuso ao providenciar cuidados de afirmação de gênero, como terapia hormonal e cirugias de transição. Segundo o governador e o procurador-geral do Texas, Ken Paxton, tais procedimentos podem ser considerados abuso infantil. Profissionais de saúde e professores foram ordenados a reportar casos de crianças em transição ou transacionadas. Abbot já havia vetado a participação de meninas trans participassem de competições esportivas no estado.

Discussões políticas do estado do Texas invadem palestras (Crédito: Thaís Monteiro)

Contra a decisão de Abbot, manifestantes foram às ruas, inclusive em Austin, onde ativistas caminharam até a casa do governador, que é sediada em Austin com cartazes com os dizeres “Y’all means all” (“todos significam todos”, em tradução livre) e “Protect Trans Kids” (“proteja crianças trans”, em tradução livre.

Um dos principais motores econômicos e culturais da cidade, o South by Southwest também tem representado um palco para que celebridades, ativistas, profissionais de diferentes áreas e o público espectador se manifestem sobre a questão ou para boicotarem sua estadia no estado do sul. O Clubouse decidiu não participar do evento em protesto ao governador.

No domingo, 13, o evento sediou um painel reunindo ativistas e moradores do Texas atingidos por tais decisões. Duas cadeiras estavam desocupadas no palco para mostrar que nelas sentariam crianças trans e pais que não puderam estar presentes, pois essa participação os colocariam em risco de investigação.

O festival também está exibindo o documentário “Mama Bears”, que retrata mulheres dispostas a arriscar suas vidas estabelecidas para manter seus filhos LGBTQIA+ seguros. O grupo também participou dos protestos. O título do filme é inspirado no grupo de Facebook homônimo com mais de 32 mil mães da comunidade LGBTQIA+.

Logo no primeiro dia de evento, a keynote Alexis McGill Johnson, presidente e CEO da Planned Parenthood, em conversa com a atriz Busy Philipps, opinou que são devastadoras as notícias da corte estadual do Texas e lembrou que o governo do Texas estava em uma batalha para aprovar uma legislação antiabordo que proíbe o procedimento no caso de detecção de batimento cardíaco fetal. A lei foi promulgada pelo governador Greg Abbott em maio de 2021, mas perdeu o processo na própria sexta-feira, 11. De acordo com Alexis, as leis vão avançando porque existe um “believability gap”, “acham que não vai pegar fogo e que não é importante quando não afeta você”, justificou. A artista e keynote Lizzo se manifestou argumentando que direitos trans são direitos humanos. “É uma violação dos direitos humanos”, disse.

Personalidade conhecida da comunidade LGBTQIAP+, Jonathan Van Ness, uma das estrelas do reality show Queer Eye, da Netflix, tocou no assunto em um dos primeiros momentos do painel o qual participou ao lado de Alok Vaid-Menon, pessoa transgênera. JVN, sigla de seu nome reconhecida pelo público, criticou duramente a decisão. “Este é um exemplo impressionante de exagero governamental, e um exemplo de que a democracia está sob ameaça de várias formas nos Estados Unidos”, diz.

Ao moderar o painel “Quebrando as regras para fazer sua experiência importar”, Jill Kramer, chief marketing & communications officer da Accenture antes mesmo de iniciar as conversas com Ukonwa Kuzi-Orizu Ojo, CMO global da Amazon e Dara Treseder, vice-presidente global de marketing & comunicações da Peloton, também se manifestou contra as medidas do governo do Texas. “É ótimo estar aqui. Mas antes de começar gostaria de refletir sobre uma situação que está acontecendo no mundo e bem aqui no Texas. A Accenture tem um compromisso com diversidade e inclusão, que inclui endereçar a comunidade LGBQIA+, que já enfrenta desafios todos os dias e gostaríamos de dizer que limitar o acesso a direitos humanos básicos e serviços médicos não é algo que apoiamos. Não faz parte dos nossos valores”, disse Jill Kramer, e foi aplaudida pela plateia.

A plateia, inclusive, tem colocado o assunto em pauta. No final da apresentação “Previsões Provocadoras”, do apresentador Scott Galloway, um espectador pai de uma criança trans fez um apelo para que Galloway parasse de se vestir como uma mulher em seus vídeos, por se tratar de um retrocesso e uma violência para a comunidade. O apresentador se defendeu justificando que aquela era uma ação que ele acreditava estar naturalizando a performance do gênero feminino, mas que se tal ação fosse motivo de sofrimento, ele parará. 

As empresas também se posicionaram. Cerca de 65, incluindo Apple, Google, Microsfort, Yahoo,  Johnson & Johnson e LnkedIn, assinaram uma carta em parceria com a Human Rights Campaign (HRC) pedindo para que o governador do estado abandonasse seus esforços anti-LGBTQ+.

Do local ao global

Outro tema que também esteve na programação foi a guerra ocorrendo entre Ucrância e Rússia. Um dos restaurantes da cidade, antes denominado Russian House, teve o “Russian” retirado do letreiro, restando apenas “House”. Ao portal de notícias Knax, a dona do estabelecimento Varda Monamour, contou que decidiu mudar o nome em solidariedade ao que acontece atualmente na Ucrânia. “Para mim, o nome não reflete o que realmente somos. E se entristece ou traz dor aos outros, nós sentimos que precisa ser ‘A Casa’, a casa para todos, onde as pessoas podem entrar e desfrutar de uma boa refeição e se concentrar em coisas boas e algo que nos una, não nos diferencia”, explicou.

Lançada há mais de 10 anos, a Russian House of Austin tem a proposta de apresentar a cultura russa para os residentes da cidade (Crédito: Giovana Oréfice)

Por outro lado, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, falou sua decisão de manter o fornecimento humanitário de medicamentos aos russos — pois isso causaria sofrimento para pacientes e perda de vidas  e explicou que a empresa vai doar todos os lucros da subsidiária russa para causas que forneçam apoio direto ao povo da Ucrânia. “Essas decisões se alinham com nossos valores de paciente-primeiro”, publicou em suas redes sociais.

Esse seria o primeiro ano que a Ucrânia enviaria uma delegação de seis startups ao evento, mas o fundo de US$ 10.000,00 foi destinado à guerra. 

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