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Beleza como terapia, expressão e autocuidado

Jonathan Van Ness discorre sobre o real papel das marcas de beleza, além de aquecer a discussão de pautas relacionadas à comunidade LGBTQIAP+

Giovana Oréfice
15 de março de 2022 - 8h00

Jonathan Van Ness e Alok Vaid-Menon (Crédito: Giovana Oréfice)

A participação de Jonathan Van Ness, mais conhecido como JVN e famoso por compor o elenco do reality show Queer Eye, nunca foi tão representativa sobre um palco como no South by Southwest. Em meio às polêmicas envolvendo o governador do Texas e a comunidade trans, a presença de uma pessoa não binária — aquela que não se identifica com gêneros — é significativa.

Ocupando funções de atuação, escrita e apresentação, fez com que poucas cadeiras vazias de um salão do JW Marriot, em Austin, fossem visíveis. Ao lado da personalidade Alok Vaid-Menon, pessoa transgênera e que também se identifica com o gênero binário, Jonathan contou sobre sua trajetória até se reconhecer e se aceitar, de fato, desta maneira. 

Uma parte importante do processo foi o contato com a beleza. Dito durante a vida que maquiagem e cuidados com o cabelo eram “coisas de menina”, JVN encontrou na criação de seu salão e linha de cosméticos para os fios uma maneira de consagrar o cuidado que teve para buscar privacidade em um lugar seguro, além de sair das caixas que eram impostas, do que dizia respeito à gênero e até mesmo aos padrões impostos pela indústria. “Eu nunca vi alguém como eu celebrando a indústria da beleza, pois ela sempre foi algo em que diziam ‘Se você se parecer de determinada maneira e mudar, você será mais celebrado’”, comenta, endossando ainda que tais limites também são impostos a outras minorias, como determinadas raças, por exemplo. 

Outro ponto ressaltado por Alok neste sentido foi o fato de que pessoas não binárias não são vistas pelo segmento. “Eu penso que você, como pessoa de gênero binário, ganhando espaço na indústria da beleza, é na verdade o papel inverso do que todas as pessoas se sentem tão à vontade, porque por muito tempo eles nos consideraram como moodboards, e não realmente como precursores”, declara, perguntando ainda sobre quais conselhos Jonathan daria para o público que quer ter sua liderança e espaço reconhecidos nesse setor. 

“Permeabilidade seletiva, que é quando você é exposto a algo, e de repente isso se torna a sua verdade”, responde JVN. A explicação aponta para o que as pessoas devem se apegar — ou não — a fim de não deixarem ser atingidas por discursos de ódio, às quais muitas vezes são submetidas por conta do preconceito. “Ela [a permeabilidade seletiva] é tão importante porque, até mesmo com o que está acontecendo no Texas, em uma macroescala, eu não seria capaz de acordar pela manhã e tratar o cabelo das pessoas, perseguir meus sonhos e de ter feito o que eu fiz”. 

Dentro de todo o contexto do painel, a beleza foi classificada como um espaço terapêutico, em que indivíduos se dão conta de aspectos que podem ser neutralizados ou ressaltados, por exemplo. Uma das críticas que ambos fizeram sobre o mercado é que ele vende aspiração, alegando que o que acontece é exatamente o contrário: na realidade, a beleza se coloca em um lugar de amor e celebração, atuando como um instrumento de transformação e autocuidado para a comunidade. “Se você mudar quem é, aí têm acesso à beleza. Mas acredito que a beleza da qual você está falando é o contrário. Os produtos só estão ali para ajudar a acentuá-la, não para substituí-la”, protesta Alok.

Como forma de entender o poder da comunidade, JVN afirma que é importante reconhecer que gerações vieram antes para permitir que tais membros tenham oportunidades e possam levar a vida que quiserem, alegando que o exercício é “empoderador”. Criticando o contexto atual, houve ainda uma fala sobre como há um empenho em desaparecer com pessoas como os speakers. “E, apesar de tudo isso, nós estamos aqui e somos lindes. […] A destruição do gênero binário diz a pessoas assim e a transgêneros que há algo de errado com elas, o que também atinge cisgêneros”, diz Jonathan.

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