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O que o Brasil busca no SXSW (e leva ao festival)

País não será maior delegação estrangeira, mas continua tendo um contingente ávido por inovação e vislumbres do futuro e também marca presença na programação oficial

Roseani Rocha
10 de março de 2022 - 6h00

A variedade temática do SXSW – que começa com educação e multiplicará os debates por 15 tracks, distribuídas entre os braços Interactive, Music e Film, a partir do início oficial do evento nesta sexta, 11 de março – acaba provocando, como reflexo, a pluralidade de pessoas e perfis de empresas brasileiras atraídas a Austin. Ao contrário de sua última edição presencial, em 2019, quando o País foi a maior delegação estrangeira, com 1.666 inscritos, este ano, os britânicos serão os mais numerosos (os dados finais são divulgados pelos organizadores apenas ao término do que evento, que vai até 20 de março). Ainda assim, Tracy Mann, responsável pela área de desenvolvimento de negócios internacionais para o Brasil do SXSW, acredita que o País volte ao posto de maior delegação estrangeira já em 2023.

(Crédito: Amanda Schnaider)

Para quem não foi este ano, as principais justificativas passaram por cuidados com a pandemia (algumas empresas ainda estão em trabalho remoto por aqui e não viam sentido em expor executivos a uma viagem ao exterior), agendas lotadas e controle de orçamento. Em todo caso, muitos ainda são atraídos pela promessa de vanguarda e inovação que estão no DNA do SXSW, além das discussões de tópicos quentes contemporâneos, em trilhas como cultura, engajamento cívico e mudança climática.

Entre as empresas de mídia que estarão em Austin, um dos destaques é a Globo, que semana passada fez seu Upload, evento online em que profissionais da casa e convidados divulgaram os destaques que pinçaram na programação. Manzar Feres, diretora da unidade de negócios, pontua que um evento que reúne cultura e inovação, celebrando a convergência entre tecnologia e audiovisual tem importância estratégica para sua indústria. “Acompanhar o que acontece em Austin, durante o SXSW, é essencial para o que vivemos hoje e também para nos prepararmos para o futuro (não tão distante) dos negócios de comunicação”, diz.

Já a Mynd começou a participar do festival há quatro anos e a CEO Fátima Pissarra corrobora que é uma oportunidade de acompanhar tendências e entender para onde caminha o mercado, os melhores cases, novidades em tecnologia, propaganda, música e entretenimento. Ela enfatiza isso pelo fato de ser um dos primeiros grandes eventos presenciais do ciclo pós-pandemia. Daí o interesse em entender a evolução, nos últimos dois anos, da tecnologia, inovação, formatos e plataformas, assim como dos meios de fazer comunicação e propaganda, após o digital ter ficado muito mais próximo da rotina de todos. “Além disso, queremos entender como está o cenário mundial, suas direções e como os países estão olhando o metaverso, o NFT e as novas tecnologias. Tudo isso é essencial para continuarmos desenvolvendo novas ações e projetos criativos para nossos clientes”, afirma.

Player do OOH, Wlamir Lino, diretor comercial nacional da Clear Channel, destaca que o SXSW sempre enfatiza assuntos que precisam ser debatidos pela sociedade e pelas empresas. “Ele se tornou uma feira de oportunidades e as nossas apostas são grandes para as tendências que serão apresentadas e nas oportunidades para o OOH. O SXSW se tornou indispensável na agenda de todo profissional interessado no melhor da inovação mundial. É uma imersão no futuro ao englobar temas como comportamento, mídia, sustentabilidade, tecnologia, entre outros, que nos fazem repensar toda a nossa dinâmica como indivíduo e profissional”, afirma Lino. Segundo ele, isso casa com o perfil de sua empresa, “movida por inovação e o tempo todo criando novos produtos e tecnologias aos clientes”, o que torna essencial acompanhar fóruns como este de Austin.

Olhares para o futuro

Guilherme Sawaya, diretor de transformação digital da Cyrela, uma das maiores incorporadoras e construtoras do país, está indo para seu quinto SXSW. “É um momento e experiência em que as pessoas que mais estão enxergando à frente estão lá dividindo com todo mundo o que estão enxergando, então, para nós é uma grande bússola”, define. O executivo conta que assiste a dezenas de palestras, participa de workshops e ativações das marcas e começa a conectar as tendências. Anota muita coisa, depois faz download disso ao voltar ao Brasil. “Como disse a Amy Webb, para ver o futuro de uma coisa você precisa olhar para o futuro de muitas coisas”, argumenta, explicando que, por isso, não vai até lá só para ver o futuro do real state ou mercado imobiliário, mas o do transporte, da conectividade, do metaverso, do blockchain. “Conecto tudo isso e volto e faço uma palestra em cada regional para públicos diferentes, desde o conselho até trainees, trazendo o que enxergo que terá algum tipo de conexão com o negócio”, conta.

Roberta Dovtartas Landucci, gerente-executiva de marca, marketing e comunicação corporativa da Beneficência Portuguesa, um dos maiores polos privados de saúde do País,  pontua que vivenciar o SXSW é uma experiência rica, pois o ambiente “transpira inovação, conexão e criatividade”, seja pelas palestras ou pessoas com as quais se cruza, proposital ou inesperadamente. “É um lugar que aguça a curiosidade para qualquer tipo de profissão e para quem trabalha com marca e marketing é uma oportunidade excelente para ampliar o olhar, ter contato com temas diferentes e capturar, ainda na nascente, algumas tendências e pensamentos”. Ela este pela primeira vez no SXSW em 2019 e agora leva consigo outras cinco pessoas, de áreas como inovação, expansão de negócios, experiência do cliente e pessoas. “Entendemos que a diversidade de temas explorados abre a possibilidade de diálogos e gera parcerias que valem a pena. Foi assim da última vez, trazendo fornecedores de saúde que descobrimos nas exposições que visitamos no SXSW e conectando temas, empresas e outros profissionais aos nossos desafios”, argumenta.

Em 2020, seria a vez de Ricardo Sales, sócio da Mais Diversidade, ir pela primeira vez ao SXSW. Mas o plano foi adiado pela pandemia. A empresa em que atua se destacou ao mudar radicalmente a postura da Skol, quanto ao respeito a questões como equidade e diversidade e inclusão na comunicação, provocando “uma revolução” no mundo até então altamente estereotipado das marcas de cerveja.  O case abriu espaço para o atendimento, em diferentes frentes, como comunicação, consultoria, educação corporativa, curadoria de talentos e pesquisa para outras grandes nacionais, como Gerdau, Hospital Albert Einstein e Itaú. Sobre suas motivações no SXSW, Ricardo diz que há pontos que são os mesmos de 2020 e outros foram acrescentados. Há dois anos, já buscava novidades aos clientes e se colocar no lugar de farol, que é o de olhar para frente e o que vem adiante na pauta de D&I, em vez de ser “retrovisor” e só olhar o que já foi feito e reproduzir soluções. “O evento já empolgava, porque parece ter esse caráter de farol. Mas depois da pandemia, neste mundo que vemos nascendo, sem ter clareza ainda do que será, outras questões surgem. Nos interessa em especial rediscutir e aprender mais sobre futuro do trabalho”, comenta. Se em 2020, sua pergunta era “futuro do trabalho para quem?”, porque havia um oba-oba sobre a discussão, mas sem clareza de que se era inclusiva para países como o Brasil, agora, para ele a pergunta é “o que restou desse futuro do trabalho?”. Ele pontua que nessa frente, a Mais Diversidade faz match entre candidatos/as diversos e a vaga nas empresas, eliminando a desculpa de que “não existiam” essas pessoas. Ainda assim, vislumbra problemas, como o fato de muitas das vagas oferecidas a públicos minorizados serem operacionais, sendo que o futuro do trabalho, visto em fóruns de inovação como o SX e outros, mostra que as vagas serão mais complexas para as quais pessoas com deficiência, por exemplo, não estão sendo preparadas nem pelas políticas públicas, nem pelas organizações. “Estamos na iminência de um problema grande que é uma quantidade enorme de empresas com dificuldade para ‘cumprir a cota’, porque não haverá mais esse tipo de vaga”, diz.

Ele ainda ressalta que há seis anos, a principal demanda geral empresas (de comunicação ou não) eram de capacitação e letramento, educar para o tema. Era o “para que mexer com isso?”. Hoje é o “como mexer com isso?”, pois mesmo empresas que eventualmente já fizeram treinamentos, assumiram compromissos públicos com o tema e têm liderança engajada, ainda estão com dificuldades. Nesse sentido, acompanhar os debates nessa frente, que são fortes na agenda do SXSW e no mercado americano, mais maduro nessas discussões, acaba sendo também ponto para insights e benchmark.

Atrações nacionais no lineup

Alguns brasileiros também estarão nos palcos das diferentes venues do SXSW (confira todas as palestras ao final da reportagem). Entre os destaques brasileiros na programação, Edu Lyra, fundador da ONG gerando Falcões, compartilhará o palco com Eco Moliterno, CCO da Accenture Interactive para América Latina. No encontro Brazilian Favelas: The Community Innovators, falarão sobre como “inovação” é algo enraizado nas favelas brasileiras, assim como no projeto Favela X têm utilizado ciência e inovação para eliminar a pobreza no País.  “O Favela X, em essência, é a grande plataforma que sustenta a inovação do que a Gerando Falcões está produzindo”, explica. Sob esse chapéu existem várias ações; uma delas é a Favela 3D, cuja missão é transformar as favelas em ambientes Dignos, Digitais e Desenvolvidos, conectando políticas públicas e tecnologias sociais para destravar valor e interromper o ciclo de pobreza. Eles darão exemplos práticos de como isso está sendo feito.

Já Erlana Castro, professora convidada da Fundação Dom Cabral (FDC), Sabina Deweik, futurista, cool hunter e coach ontológica na Think Forward e Tipiti Barros, idealizadora do FikaConversas, contarão, num wokshop como desenvolveram o “Radar da Antifragilidade” e levarão os participantes a experimentarem a ferramenta de assessment e de ideação aplicada para inovação em ESG. Elas desenvolveram o radar, ao tomar contato com o conceito de “antifrágil”, cunhado pelo matemático libanês-americano Nassim Taleb no livro Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos, de 2012. Se frágil é aquilo que sai prejudicado de uma pressão de um agente externo, antifrágil é o oposto, algo que se beneficia depois de sofrer rupturas e outros fatores estressores.  “Na antifragilidade você não resiste ao contexto, o usa a seu valor. É como uma mola propulsora para transformarmos e evoluirmos. E ficamos curiosas em entender quais eram as marcas, as empresas e os líderes que estavam prosperando no contexto volátil do mundo atual”, afirma Sabina. A ferramenta foi desenvolvida inicialmente para um workshop de executivos de inovação, na FDC. Do fim do ano passado para cá, empresas como Raia Drogasil, Danone, Natura e Inovabra foram analisadas buscando nas suas fragilidades e antifragilidades respostas para aplicações criativas e estratégicas de uso imediato.  

O governo paulista, por meio do InvestSP, promove dia 15 de março o SP Day e levará 10 de 160 empresas inscritas a Austin. São elas: a produtora Amplifica; Claraluz, Elo e O2, dos setores de audiovisual e distribuição cinematográfica; e o grupo musical Barbatuques. Além disso, a Dançar Marketing e a Lemme Content marcam presença como representantes de agência de marketing cultural e comunicação de marca, respectivamente, enquanto a Rito veste a camisa de empresa de experiências imersivas. Já a Phonogram.me contempla a seleção como parte do segmento de NFTs musicais, e o Estúdio Bijari reúne arte, design e tecnologia. O objetivo é colaborar com a internacionalização e divulgação de companhias locais que compõem a economia criativa. “Ao não estar expostos a outras sociedades, temos menos incentivo e provocação para inovar, e isso acaba atrasando e retardando o desenvolvimento econômico, social e cultural”, diz Gustavo Junqueira, presidente do InvestSP, para quem o festival, nesse sentido, pode contribuir com a recuperação econômica e fomento do setor cultural.

No dia seguinte, Andrea Salinas, diretora de inovação e ventures da EDP no Brasil, foi convidada a falar sobre mobilidade elétrica, pois a EDP tem projetos que apoiam a transição energética, relacionados ao futuro da energia, seu uso e produção, digitalização e descarbonização. Em painel ao lado de André Stein, CEO da Eve Mobility (startup da Embraer), e empresas parceiras, como Skyports e Halo, ela discutirá a mobilidade elétrica “em sua vertente mais visionária”, ou seja, os electric vertical takeoff and landing vehicles.

*Colaboraram: Amanda Schnaider, Giovana Oréfice e Thaís Monteiro

AGENDA BRASILEIRA NO SXSW 2022

Eventos com participação de profissionais/personalidades locais:

Sábado, 12 de março

ESG: Caminho para o desenvolvimento econômico inclusivo

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, em entrevista com

11h30 – 12h30/ Hilton Austin Downtown, Salon C

Radar Antifragilidade: Uma ferramenta para te ajudar a inovar

Workshop

Tipiti Barros (FikaConversas), Erlana Castro (Fundação Dom Cabral) e Sabina Deweik (Think Forward)

10h – 12h/ JW Marriott, Salon A

Favelas brasileiras: Inovadores comunitários

Eco Mol terno (Accenture Interactive) e Edu Lyra(Gerando Falcões)

14h30 – 15h30/ Hilton Austin Downtown, Room 400-402

Hackeie seu corpo, otimize o futuro

Bettina Grajcer (Auíri); Carla Crippa (Ambev) e Ricardo Gonçalves Melo (Ambev)

16h – 17h/ Austin Marriott Downtown, Waterloo Ballroom 4

Segunda-feira, 14 de março

Fab City: Conexões globais para produção local

João Henrique de Andrade Lima Campos, prefeito do Recife, e Cris Lacerda, CTO da FabCity

 10h – 11h/ Austin Marriott Downtown, Waller Ballroom DEF

O futuro dos espaços de trabalho e o metaverso

Marco Carvalho (headoffice.space) e Pedro Chiamulera (Clear Sale)

14h30 – 15h30/ Austin Convention Center, Room 18CD

Terça-feira, 15 de março

Potencializando a colaboração: o futuro da aviação

Marco A. Cesarino, head of Beacon da Embraer X

10h – 11h/ The LINE, Topaz Ballroom 1-2-3

Rios movem cidades

Benedito Braga, CEO da Sabesp

11h30 – 12h30/ The LINE, Topaz Ballroom 1-2-3

ESG: Prontos para pagar a conta?

Patricia Ellen da Silva, Secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Trabalho do estado de São Paulo e Wal Flor (Flow.ers Agency)

14h30 – 15h30/ The LINE, Topaz Ballroom 1-2-3

2050 Museu do Absurdo: Um workshop especulativo   

Vanessa Mathias e Luciana Bazanella (White Rabbit)

15h – 17h/ JW Marriott, Salon A

Quarta-feira, 16 de março

A nova era da mobilidade

André Stein, CEO da Eve Mobility e Andrea Salinas, diretora de marketing e inovação da EDP Brasil

14h30 – 15h30/ Hilton Austin Downtown, Sale DE

Pegada de carbono e o futuro das marcas de bens de consumo

Emily Ewell, fundadora da Pantys

16h – 17h/ Hilton Austin Downtown, Salon G

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