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SXSW e o coronavírus: por que continuarei indo ao festival

As más notícias atraem mais a atenção do que as boas, e falamos mais sobre doenças do que sobre saúde

Luiz Gustavo Pacete
6 de março de 2020 - 18h10

Para quem não conhece, o SXSW (South by Southwest) é um dos principais eventos de inovação do Mundo, que acontecerá em Austin, na próxima semana. Serão 10 dias de evento, unindo criativos e empresas de tecnologia, educação, saúde, cinema e música, entre outros. No ano passado, mais de 80.000 pessoas estiveram presentes, sendo o Brasil a principal delegação de fora dos Estados Unidos.

É claro que o aumento do número de casos do coronavírus (COVID-19) e a reunião de um grande número de pessoas de várias regiões do mundo gera muita preocupação. Apesar dos rumores, a organização do SXSW já confirmou que o evento seguirá conforme planejado, sendo redobrados os cuidados com a segurança e higiene. No mundo todo e, aqui no Brasil também, o coronavírus domina as pautas da mídia e o assunto está presente nas conversas diárias e nos grupos de whatsapp. O medo da doença tomou conta da sociedade.

Sou médica, sócia da Agência Lynx, especializada em marketing de causas e estarei no SXSW mediando o painel “Cities for Humans: Scaling Solutions for Health”. O painel faz parte da plataforma Brazil Inspires the Future, movimento que criamos para compartilhar com o mundo como empreendedores e marcas brasileiras estão lidando de forma criativa e inovadora com os grandes desafios globais. Na sessão, iremos conversar sobre iniciativas nas quais o uso da tecnologia, big data e UX estão contribuindo para remodelar os ambientes urbanos e os sistemas de saúde, visando construir uma sociedade mais saudável.

Claro que o aparecimento de um novo vírus, como o coronavírus, do qual desconhecemos a agressividade e a forma de disseminação gera uma necessária e justificada preocupação global. É um vírus que se dissemina rapidamente e, apesar de não termos uma declaração oficial da Organização Mundial da Saúde, do ponto de vista técnico, estamos enfrentando uma pandemia (epidemia em escala global). Sim, em tempos de globalização veremos cada vez mais as doenças se espalharem rapidamente pelo mundo. Mas, neste caso, a letalidade é baixa, muito menor do que a de outras doenças infecciosas respiratórias, como a SARS, por exemplo (lembre-se ainda que, em casos como estes, existe uma tendência a superestimar a taxa de mortalidade, pois a maioria dos casos é assintomático e nem chega a ser diagnosticado). Ou seja, pela sua evolução, a epidemia do coronavírus não justifica uma preocupação excessiva. No entanto, sabemos que o assunto continuará sendo assunto prioritário na imprensa. As más notícias atraem mais a atenção do que as boas notícias. Falamos mais sobre doenças do que sobre saúde. Em nossas conversas com os palestrantes para a preparação do painel, um dos temas que debatemos é como atrair a atenção das pessoas e mobilizar a sociedade para adoção de hábitos mais saudáveis. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como o diabetes, câncer e as doenças respiratórias e cardiovasculares já são as principais responsáveis pelas mortes prematuras no mundo. Nossa geração irá viver muito mais que a de nossos pais e precisamos encarar novos desafios da saúde da sociedade atual como a má qualidade da alimentação, a falta de atividade física e os altos níveis de stress. As doenças cardiovasculares matam quase 18 milhões de pessoas por ano no mundo. As doenças respiratórias, incluindo asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, 3,8 milhões. E mais de um milhão e meio de mortes são causadas pelo diabetes. Apenas no Brasil, as DCNTs são responsáveis por quase 1 milhão de mortes ao ano. E não estamos falando sobre estes assuntos. Apenas para comparação (e sem, de forma alguma querer menosprezar o gigantesco e triste aspecto individual), até o momento, o coronavírus causou ao todo 3.310 mortes no mundo.

Claro que precisamos tomar todas as medidas possíveis para reduzir o número de casos e impactos da epidemia, mas o fato é que o vírus irá se espalhar pelo Brasil, pelo mundo e para Austin. Mas, é necessário redefinir a forma como pensamos a saúde: do cuidado a doentes, para o atendimento a saudáveis; de uma medicina reativa a uma medicina proativa e preventiva, que nos possibilite não apenas viver mais, mas viver mais e melhor. A área da saúde está repleta de inovações que transformam a ficção científica em realidade, de exames diagnósticos que já podem ser realizados pelo celular à impressão de órgãos em 3D. Estamos entrando na era dos genomas, o sequenciamento genético já permite a detecção precisa de riscos de doenças no futuro.

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