Publicidade

SXSW 2021: Crise e futuro da informação

Em meio a todas estas conversas, o recado deixado pelo SXSW deste ano é claro: há perigo na esquina, mas também há oportunidade para sermos melhores


17 de março de 2021 - 16h01

Vivemos uma crise de informação: a temos em quantidade, mas não necessariamente na qualidade que precisamos. Há cada vez mais oportunidade para o surgimento de novos criadores, mas ainda não encontramos modelos de negócio capazes de sustentar a independência desses novos players. Então qual é o futuro da informação, e o que precisa ser feito para chegarmos lá? Essa é a pergunta que vimos sendo repetida em diversos painéis do SXSW 2021, que apontou a importância de revolucionar o modelo de produção e compartilhamento de notícias como um dos principais desafios no caminho para um futuro mais livre e conectado.

(crédito: Kaboompics/Pexels)

A informação personalizada
Muitos dizem que a personalização é o futuro dos negócios. Mas se antes falávamos apenas de produtos e bens de consumo, agora precisamos entender que essa realidade é verdadeira também para a informação. Isso porque as pessoas consomem aquilo com o que se identificam, e estão cada vez mais em busca de notícias e conteúdos produzidos por e para pessoas que se parecem com elas.

Em um dos primeiros painéis desta terça, “Advancing Diverse Representation In News”, representantes da BBC, Bloomberg, WarnerMedia e University of Texas resgataram um importante dado: apenas 24% das pessoas representadas na imprensa são mulheres, que por sua vez representam apenas 37% de profissionais de jornalismo – em todo o mundo. E tem sido responsabilidade das próprias mulheres desenvolver iniciativas capazes de reverter esse quadro, como o projeto 50/50 realizado pela BBC, que buscou equiparar a proporções de mulheres produzindo ou aparecendo nas notícias e resultou em mais audiência e espectadores mais satisfeitos; e o New Voices da Bloomberg, que vem capacitando mulheres de todo o mundo para atuarem como porta-vozes de suas organizações. Pelo pouco tempo de painel, não chegaram a abordar a falta de diversidade étnica e se aprofundar em gênero, mas todos sabemos que não faltam questões de representatividade também nesses quesitos.

A informação regionalizada
A demanda pela personalização da informação começa na representatividade, mas não termina aí: diferentes países têm observado o renascimento das chamadas “Local News”, veículos focados totalmente em gerar informações de grande interesse para comunidades menores, deixando a cobertura nacional para os grandes outlets. Esse foi o tema dos painéis “The Fight For Local News” e “Local News’ Next Wave”, que reuniu representantes de startups como Axios, Chalkbeat e Patch para dialogar sobre o renascimento de um ecossistema de informação que permite que o grande público volte a consumir informações sobre suas cidades, e o desafio que representa a construção de novos modelos de negócio em um mercado publicitário cada vez mais dominado por grandes organizações e o crescimento do investimento em mídia digital.

A informação segmentada
Como falar sobre o futuro da informação sem falar sobre fake news, esse grande exemplo de recursos potencialmente benéficos para a sociedade sendo utilizados de maneira profundamente danosa? Falar sobre personalização e regionalização de informação é falar, também, sobre a polarização política e segmentação social, nos levando ao tema do painel apresentado pelo New York Times e a União Europeia, “Can democracy survive #FakeNews?”. Como podemos controlar o fluxo de desinformação e combater seus efeitos é mais um desafio que temos pela frente. Uma das iniciativas instituídas pela UE foi a criação do “Code of Practice”, um acordo entre as big techs (incluindo o TikTok, que aderiu ao acordo em 2020) para auto-regulamentação e combate às Fake News.

A informação conectada
Mas não há apenas perigos no horizonte: há quem busque estratégias e oportunidades de utilizar o poder das redações e dos geradores de informação para construir pontes em sociedades já divididas, promovendo conversas além das diferenças. No painel, “How Newsrooms Can Help Bridge Divide”, representantes da Free Press, Center for Media Engagement e Spaceship Media compartilharam uma abordagem chamada de “connected democracy”, que trabalha com diretivas que abordam diferenças de maneira positiva, como a humanização de personagens com pontos de vista diferentes, proporcionando assim uma maior recepção a ideias contrárias. É a utilização da informação e dos veículos de mídia em geral como uma parte essencial no processo de recuperação social.

A informação exausta
Esta não é novidade, mas também virou pauta no painel “Is Everyone Sick Of The News?”: estamos todos exaustos com o volume de informação disponível atualmente, em especial no último ano. Fora de nossas rotinas e confinados em casa, assistir à TV e acompanhar o trágico noticiário diário acabou de tornando mais um ponto de dor para pessoas em todo o mundo. Segundo os participantes, representando CNN, Bloomberg e Capital B, uma das soluções é a imprensa abrir mão do papel de “gatekeeper” e utilizar dados para elaborar informação a partir do que o público efetivamente quer saber. Um grande “menos é mais”.

E o futuro da informação?
Ninguém duvida que o mundo precisará repensar muitas de suas estruturas no rebote da crise causada pelo Coronavirus, nem que a Imprensa e o fluxo de informações como um todo sem dúvida será uma delas. E essa transformação necessária para um futuro pós-Covid foi o tema central do painel “Media Transformation & Leadership In The COVID Era”, que reuniu representantes da Reuters, Verizon Media e The Guardian Media Group.

Em meio a todas estas conversas, o recado deixado pelo SXSW deste ano é claro: há perigo na esquina, mas também há oportunidade para sermos melhores. Particularmente, quero ouvir como o TikTok vai salvar o mundo no painel da próxima sexta, “How GenZ Duets News on TikTok”.

Publicidade

Compartilhe

Patrocínio