Mobilidade do futuro: uma via mais acessível, sustentável e multimodal
O desafio de nos locomovermos para um futuro melhor e mais inclusivo foi um dos assuntos que marcou o primeiro dia de SXSW
O desafio de nos locomovermos para um futuro melhor e mais inclusivo foi um dos assuntos que marcou o primeiro dia de SXSW
18 de março de 2021 - 17h51
Com edição iniciada nessa terça-feira, 16, o festival que traz tendências do mundo dos negócios e, por consequência, da sociedade parece esse ano ter maior ênfase em um mundo mais humanizado, inclusivo e acessível. Sendo assim, o primeiro dia do evento trouxe à tona importantes reflexões sobre o papel da mobilidade nesse contexto.
É fato que, quando falamos nesse tema, inevitavelmente pensamos no avanço que nos carregou até aqui. Da revolução industrial à atualidade, evoluímos muito no aspecto ‘locomoção’. Ou seja, nos movemos mais rápido e de maneira mais eficaz. Certamente exploramos lugares antes impossíveis de serem explorados. Porém, esse desenvolvimento da mobilidade levou em conta o ser humano como centro dessa evolução? Será que a mobilidade é inclusiva? É acessível? A maneira como nos locomovemos torna nosso dia a dia mais harmonioso ou mais denso?
É com essas questões em mente que diferentes especialistas, em diferentes áreas da mobilidade, construíram quatro painéis distintos, mas com debates convergentes. Debates que tiveram, de certa forma, o desafio de pensar na construção de uma mobilidade do futuro que privilegie a experiência, a qualidade de vida e o acesso mais justo dentro dos contextos sociais e ambientais que vivemos e queremos viver. Tudo isso envolvendo a responsabilidade inerente das marcas, do poder público e da sociedade civil.
‘Poxa, que bacana. E o que tem de inovação vindo por aí nesse tema?’.
No painel “Clean mobility investment: The road to net zero”, liderado por pesquisadores e gestores de eletrificação e sustentabilidade, a inovação não foi o principal driver, mas a conversa mostrou que a questão ambiental segue pujante na discussão de mobilidade. Principalmente quando o assunto é a redução de pegada de carbono. Entre os desafios – para além de pensar em novos modelos de gestão, revisão de processos produtivos e a mudança de fonte energética –, a preocupação com preços mais acessíveis para os elétricos foi uma das principais pautas. Afinal, para a tecnologia ganhar escala, esse é um termômetro crucial.
O segundo momento desse tópico no festival já instigou um assunto que, pré-pandemia, foi muito falado e usado – inclusive no Brasil. A jornalista e especialista em mobilidade Kristin Musulin conversou com Taco Carlier, CEO da startup holandesa VanMoof. O assunto? Como as e-bikes podem mudar o mundo. No bate-papo, Carlier apontou a bicicleta elétrica como uma boa saída para cidades com maiores distâncias, além de destacar o papel dos governos em propiciar infraestrutura suficiente para que esses modelos tenham um espaço seguro no trânsito.
Saindo das estradas e calçadas, a mobilidade foi para os ares. A mesa “Commute in the skies: The future of air mobility” reuniu especialistas e consultores ditando tendências em exploração do espaço aéreo. Para além das reflexões mais lógicas, como a performance e velocidade desse modal, um ponto chamou a atenção: Será que deveríamos investir mais no ganho de escala com aeronaves elétricas? Seria esse um caminho mais viável, seguro e sustentável para o setor, que inclusive foi um dos mais afetados na pandemia? Isso sem contar a poluição sonora – que o diga Seleta Reynolds, uma das palestrantes e head do Departamento de Transportes de Los Angeles, cidade que ostenta enorme tráfego aéreo de helicópteros nos Estados Unidos.
Mas o ‘créme de la créme’ ficou mesmo para o painel “Designing the Hyperloop passanger experience”, que explorou todos os aspectos de uma nova mobilidade mais intuitiva, imersiva, acessível e inclusiva falando de um novo modal: o hyperloop.
Os responsáveis por essa experiência, que ainda não saiu do papel, discutiram as diferentes perspectivas da mobilidade que podem ser repensadas a partir dessa nova tecnologia. Para os mais ligados no que há de mais futurístico na Terra, a novidade é um prato cheio: um sistema de transporte que circula em tubos pneumáticos e que pode atingir marcas de até 1.200 km/h.
O mais interessante aqui não foi a criação ou o criador. Mas sim como esse movimento pode reescrever a história da mobilidade urbana no planeta. Deixando de lado os pontos positivos dos atuais modais, para essa equipe de trabalho a grande sacada é desenhar do zero um novo projeto que de fato seja disruptivo para as próximas gerações. E mais do que isso, sendo capaz de endereçar problemas que temos hoje sem solução aparente, da sustentabilidade ao direito universal de ir e vir.
Como um entusiasta do tema, profissional e pessoalmente, fico muito feliz em ver para onde aponta o GPS da mobilidade. Se hoje a mobilidade é daqueles direitos universais em que, aparentemente, uns têm mais direitos sobre os outros, o futuro se apresenta diferente. Nele a mobilidade torna-se protagonista de um mundo mais acessível, inclusivo e que nos conecta mais com a natureza e sociedade. Um mundo melhor.
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