Geração Z e diversidade – as palavras que dominaram meu segundo dia de SXSW
No segundo dia de festival, escolhi duas apresentações principais pra ver. E elas têm um ponto importante em comum: geração e diversidade, cada uma à sua maneira
No segundo dia de festival, escolhi duas apresentações principais pra ver. E elas têm um ponto importante em comum: geração e diversidade, cada uma à sua maneira
13 de março de 2022 - 11h52
A primeira, focada em Geração Z, chamada “Not your boomer’s consumers”, foi incrível por vários motivos. O primeiro: era um painel formado somente por mulheres de backgrounds diversos. Eu não as conhecia, mas chegando lá já virei fã: Amrutha Vasan e Bao Phan trabalham juntas na Inspirit, uma plataforma de aprendizagem interativa de STEM (Science, Technology Engineering, and Mathematics); Nadya Okamoto é cofundadora da empresa August, focada em produtos de cuidado menstrual (period care); e Aagya Mathur, fundadora da Aavia, uma empresa focada em ajudar mulheres em seu controle anticoncepcional.
Todas, em seus vinte e poucos anos, com muita sede de mudança e o com muita experiência com a Geração Z. Falou-se muito de Discord e TikTok como plataformas de acesso a essa geração, mas também muito sobre comunidade, transparência e a importância de empresas que façam o que falam e não apenas tenham um discurso vazio. De acordo com elas, essa geração vai atrás de descobrir se o discurso está de acordo com a realidade e, se não estiver, você será cancelado – e rápido. Alguns insights bacanas do papo:
“Hoje estamos num mundo em que essa geração é em sua maioria anticapitalista, mas compra tudo na Amazon e nós, como marca, temos que existir nesse paradoxo”.
“Como nós podemos aproveitar o poder do consumismo e ao mesmo tempo reconhecer que temos uma grande responsabilidade de viver de acordo com os valores que pregamos?”
“Não é que nós (Geração Z) apenas estamos familiarizados com a internet. Mídia social não é apenas uma ferramenta que sabemos usar: é uma extensão da nossa auto expressão logo quando estamos atingindo a puberdade e crescendo”.
“Temos que reconhecer que essa geração confusa tem uma lealdade a marcas maior do que qualquer geração já teve. São os maiores consumidores, os mais desconfiados e odeiam receber propaganda. Então, focamos não somente em crescer nossa audiência em mídias sociais, mas entender como você pode criar uma comunidade”.
“Seu seguidores, não são sua comunidade” .
“Quem quer que sejam seus consumidores, eles precisam estar representados na mesa de decisão”.
Depois desse painel, me lembrei que ontem a Brené Brown falou que confia muito que a próxima geração será incrível e muito melhor do que as gerações anteriores em termos de empatia e tolerância. Saí com essa sensação também.
Saindo de lá, fui para uma outra discussão, dessa vez focada em DEI, a sigla para Diversity, Equity and Inclusion. Um novo painel, com novamente quatro mulheres incríveis: Kathryn Finney, da Genius Guild; Denise Hamilton, estrategista de inclusão e CEO da WatchHerWork; Jennifer Risi, fundadora da empresa The Sway Effect; e Jennifer Brown consultora de diversidade.
Falaram muito sobre as dificuldades de as grandes empresas entenderem diversidade e inclusão como parte de um ambiente de trabalho e não fazerem apenas o “teatro da diversidade”, contratando uma ou outra pessoa e lavando as mãos, ou pior, considerando que contratar mulheres brancas já é suficiente pra ter diversidade no ambiente porque antes só tinham homens na empresa. Também falaram sobre a necessidade de coragem e abertura por parte dessas mesmas empresas para ouvir o que estão fazendo errado e realmente pensar em ações possíveis e duradouras para uma equipe mais diversa.
Mas o mais interessante foi quando Kathryn Finney falou sobre a nova geração e sobre o que os americanos estão chamando de “the great resignation”, algo como “a grande demissão”: “
Há uma divisão entre o próximo grupo de líderes e a velha escola, os velhos chefes. E acho que podemos ver algumas mudanças acontecendo em termos de força de trabalho. Eu moro em Chicago, e há uma coisa muito interessante que está acontecendo. Muitos dos empregos com salários mais baixos, restaurantes de fast food, se você fosse um colegial, formado, jovem negro em Chicago, esses empregos eram o único caminho para você trabalhar. Agora você é um influenciador. No momento, você pode, como microinfluenciador, ganhar 500 dólares por semana criando conteúdo. Você não precisa trabalhar na Taco Bell, sem benefícios, ganhando $8 por hora. E tem sido fascinante ver essa mudança que está acontecendo geracionalmente onde as pessoas dizem ‘eu não tenho que fazer isso’. Então, agora, os restaurantes de fast food que estavam pagando algo como $7 por hora em 2019, adivinhe o que eles estão pagando agora em Chicago? Cerca de 18 a 20, incluindo benefícios educacionais eassistência médica, porque, novamente, ‘por que eu quero trabalhar para você?’. Eu acho que isso é realmente fascinante. E, como investidor, vou colocar meu dinheiro nessa nova geração de Criadores de Conteúdo.”
No que Denise Hamilton complementa: “eu não chamo de ‘a grande demissão’, eu chamo de “a grande negociação”.
Porque é isso que está acontecendo, a nova geração está negociando os termos. E todas essas mudanças de comportamento como demandar reconhecimento e salários adequados, transparência, proximidade, irão refletir diretamente nas marcas e podem ser cruciais para definir se elas sobreviverão, ou não, nos próximos anos.
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