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We’ll never stop!

Equidade de gênero, paixão por problemas, escuta ativa e erros de principiante: o que o evento tem me ensinado


13 de março de 2022 - 13h14

Crédito:  Amanda Schnaider

Debutar no SXSW tem sido incrível, com aprendizados importantes sobre o evento (como ele funciona), e com lições que vou conseguir aplicar de forma 360º depois: no trabalho, em casa, e, principalmente, como insumo na luta pelas causas em que acredito.


São tantas coisas para absorver (e dividir), que o caos se instaurou na mente assim que abri o Google Docs para escrever esse artigo. Meus pensamentos foram de 0 a 100 muito rápido. Mas vou tentar organizar as coisas mais importantes dos meus primeiros dias por aqui. 

O evento está bem mais vazio do que eu esperava. Talvez porque tem muito conteúdo disponibilizado online, não sei. Eu estava com uma expectativa muito alta, talvez porque no Web Summit em Lisboa em 2021 – o primeiro grande evento de inovação ao vivo depois da pandemia – todos os dias estavam lotados e durante todo o tempo. Aqui não. Nem mesmo as palestras mais esperadas, como a do Scott Galloway, por exemplo, lotaram a sala. Já as palestras com pessoas menos “famosas”, não preenchem nem metade da sala. Meio triste.

Mas não tão triste quanto à quantidade exorbitante de moradores em situação de rua na cidade. Eu fiquei: “Como assim?!” Como a cidade que tem um dos maiores eventos de inovação do mundo não tem políticas públicas que reduzam esse impacto da falta de moradia para as pessoas que vivem aqui. Fiquei muito impactada com isso. Espero que muitas das predições que surgirem aqui, incluam essas pessoas.

E falando em inclusão, foi tão acolhedor ver tantas mulheres nesse evento. Pela primeira vez tive a impressão de um grande evento de inovação ter 50/50. Muitas mulheres palestrando, assistindo, criando, fazendo negócios e inspirando. Mulheres de todos os lugares (muitas brasileiras maravilhosas, é claro) e de todas as etnias. Lindo de viver!

O FOMO (Fear of Missing Out – ‘medo de estar perdendo algo’) nosso de cada dia, está presente em toda parte. Desde que baixei o app para criar meu calendário e escolher as palestras e workshops para assistir, essa vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo tomou conta de mim. Mesmo acompanhando dicas de pessoas que são minhas referências em inovação, é muito complicado você entrar nessa de seguir a agenda de outras pessoas. Quando vi que a excitação pelo SxxPress Pass (que permite escolher três atividades para entrar sem fila) estava se transformando em ansiedade, parei. FOMO sai daqui!

É importante conversar com quem conhece muito do evento e já acompanhou várias edições pessoalmente. Mas cada um de nós está em um momento de carreira, tem um objetivo específico no evento e motivações únicas. Por isso temos que focar na NOSSA agenda, no que faz sentido pra gente. Não importa se ninguém mais está falando de ir no talk que você achou o máximo. É preciso seguir o que faz sentido para você.

Para mim, a melhor estratégia foi buscar por temas que tenho interesse usando keywords no app ou caçando por palestrantes que são autoridades no que estão falando. Eu vejo o nome da palestra, leio a descrição, procuro sobre os palestrantes no Google e escolho dentro do mix de assuntos que quero me conectar no dia. Esse método é garantia de sucesso. Mas obviamente cometi um erro básico de principiante: escolhi a palestra pelo título sem me atentar ao conteúdo da longa descrição. E ainda levei uma amiga comigo nessa canoa furada. Call to action é coisa de publicitário e marketeiro, eu já deveria saber disso, rs. Temos que focar na descrição do evento e nos speakers, principalmente. Não se esqueçam disso!

E falando em speakers, uma dica preciosa: palestra com mais de dois já não funciona. Fica um bate-papo onde muito do básico é falado, frases de impacto são ditas, mas, profundidade no tema que é bom, não acontece. Pelo menos nas que participei, que tinham três ou quatro palestrantes, não foram bacanas. Fiquei frustrada e com o sentimento de que deveria ter ido em uma palestra assistir alguém se aprofundar em algum assunto, pois quando é uma roda de conversa, não dá tempo de ninguém formar uma linha de raciocínio mais intensa.

Assisti à palestra do Jack Conte, CEO e fundador do Patreon, por exemplo, e foi uma experiência “mind blowing“. Keynote bem preparado, temas importantes trazidos sob diversas perspectivas e provocações. E nossa, como é bom se sentir provocada! Saí com mil ideias da sala, conectando ações no whatsapp e já querendo mudar uma série de coisas na vida.

O que ouvi do Jack, e de pelo menos mais quatro speakers, foi algo na linha “se envolvam com o problema” para poder resolvê-lo. Adorei, pois falo isso sempre para meus alunos: se apaixonem pelo problema, abracem o problema, durmam e acordem comprometidos com o problema! Só conseguimos chegar em uma solução eficiente e de sucesso para um problema, se a gente está mergulhado em entendê-lo, em resolvê-lo. E como conseguimos isso?! Ouvindo! Escuta ativa é algo que está presente em muitas das conversas aqui. Pergunte e ouça a resposta de verdade. Não apenas o que você quer ouvir. Mas o que você PRECISA ouvir. 

Sobre escuta ativa, acho que o momento mais incrível do primeiro dia (e talvez do evento inteiro) tenha sido o final da palestra do Scott Galloway, quando um pai levantou para fazer uma pergunta e fez um pedido. Que ele parasse de se vestir de mulher, pois isso era bullying com sua filha transgênero e toda uma comunidade que luta para ter respeito. Scott, o grande guru mal humorado do Vale do Silício, ouviu. Depois de um tempo em silêncio absorvendo o que escutou daquele pai, em uma atitude de amor, ele respondeu a única coisa que podia: “I’ll stop”.

Foi realmente emocionante. E para quem muitas vezes se torna uma pessoa non-grata por ficar questionando o status quo o tempo todo (como eu, por exemplo), a mensagem veio forte, mas no sentido contrário: We’ll never stop! Pois sempre vai ter alguém ouvindo o que falamos – dentro das bolhas de privilégio – e escolhendo fazer a coisa certa. 

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