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Futuro. Não dê ouvidos para o que você vê

Blogueirinho do apocalipse direto de Austin


14 de março de 2022 - 10h42

Crédito: Divulgação

Prever o futuro sempre foi algo que fascinou a humanidade. Das cartomantes ciganas aos Jetsons, antecipar o futuro é umas das coisas que nos diferenciam das outras espécies.

Apesar do interesse, olhar para o que vem diz mais sobre o presente do que o futuro. Ainda que seja possível enxergar algo, a projeção nunca se apresenta com uma imagem clara, mas turva e cheia de nuances. É que o futuro nunca se realiza com a precisão de sua projeção.

Considerando um contexto de mudança acelerada, prever o que vem depois se transformou em mais do que um grande fetiche, mas um negócio rentável.

A evidente transformação promovida pela tecnologia da voz e embasa o momento de mudanças em velocidade e tamanho sem precedentes. Dada a importância, prever o futuro dá nome a uma nova profissão, o guru.

Apesar da empolgação, o futuro visto com otimismo tem se mostrado desproporcional a sua capacidade de realização.

– 9 em cada 10 startups fecham antes de completar um ano, segundo a CB insights.

Isso porque a inovação é só uma das faces de um cenário não tão glamoroso, a economia da escassez. Vivemos um paradoxo, a evolução da tecnologia possibilita um consumo em escala sem precedentes, mas é fruto de um sistema que carece de recurso para sustentá-los.

O fato é: – A conta não fecha.

A premissa do sistema capitalista é o crescimento, mas como crescer com a finitude do recurso? – Bingo, apostando no que não se tem, em outras palavras, no futuro.

Em um ritmo antropofágico, seu crescimento está pautado em uma especulação de crescimento econômico cada vez mais abstrato e intangível. Bitcoin, Blockchain, NFT. Tudo embrulhado em um discurso bonito em uma suposta cadeia descentralizada.

Sustentável?

Não parece ser nem do ponto de vista econômico, muito menos ambiental.

Mesmo considerando o sucesso econômico imediato das Bigtechs, qual o preço que foi pago? Quem pagou o preço?

O sucesso parece estar vinculado a uma escala que vive em função da piora da qualidade de vida das pessoas e isso tem um nome, Gig economy.

Em uma realidade para lá de desanimadora, crescer só é possível com um olhar otimista exagerado. Ah, isso também tem um nome, o famoso Hype.

O clamor é tanto que mesmo um futuro distante e ainda com viabilidade questionável teve seu anuncio antecipado. Sim, estou falando do Metaverso.

Daí você pode me dizer, mas o Metaverso já existe. Ele está presente nos games.

Bom, o que existe nos games é o que se tem de mais perto do que se quer chamar de Metaverso, porém sua capacidade potencial que faz jus ao nome, está pra lá de ser viável. Questões como viabilidade econômica em escala, definição do Gadget, regulação, limites éticos e legais estão só começando a ser debatidos.

O Metaverso está longe de ser visto em um óculos de realidade virtual.

Retomo, então, o ponto apresentado no início do artigo, o futuro tem seus caprichos e vai além do que é possível ver agora com os olhos. 

É justamente o futuro o tema que mais atrai o brasileiro em Austin e isso está refletido tanto na quantidade de temas das palestras feitas por brasileiros no SXSW desse ano, quanto na repercussão de uma das palestras mais esperadas para o primeiro dia: – Previsões provocativas com Scott Galloway.

Primeiro que Scott é um showman, sabe dar seu show. Segundo porque me parece que ele sacou que prever o que vai acontecer é muito mais difícil e menos interessante do que prever o que vai dar errado.

Nesse sentido, sua previsão mais contundente é a de que o Metaverso do Mark Zuckerberg será o maior Flop do ano por “n” razões, entre elas porque o maior desafio do Metaverso é dar escala a um Gadget.

Ele continua… Quantas pessoas possuem um óculos de realidade aumentada? Quantas pessoas podem ou estão disponíveis a ter?

Esse é o mesmo motivo que o leva a apostar em uma outra marca como a empresa com maior potencial de realizar o Metaverso, a Apple. Isso porque a marca já possui um Gadget que é um sucesso, o Airpod. Exatamente, a experiência imersiva mais próxima do que se chama Metaverso não está no que pode ser visto, mas ouvido.



A voz e não a imagem capaz de dar contornos a uma experiência mais íntima, próxima, imersiva e que já vem mostrando resultados.

É a nossa capacidade de ouvir e não a de dizer o que vemos, a nossa maior possibilidade de viabilizar esse tal futuro. Escutar pode nos salvar da condenação de um futuro que mede sucesso com a única imagem do Growth.

Essa capacidade de escutar ainda vai nos levar longe. Só não vê quem não quer.

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