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Permitir-se reunir de novo

Você já questionou o valor de se reunir novamente? Os aprendizados do mundo “pandêmico” podem nos ajudar a ver as conexões que criamos e o que precisa ser priorizado e mantido para após ele


16 de março de 2022 - 10h31

(Crédito: Ben Houdijk/Shutterstock)

Escolhi a apresentação de Priya Parker para começar minha imersão no SXSW e acredito que foi uma das melhores formas de abertura da edição deste ano. Em 2020, o evento foi cancelado às pressas um dia antes do meu embarque. Em 2021, acompanhei online e confesso que fiquei ansiosa para o momento que ele se tornaria real “permitindo me reunir de novo”. Havia uma grande expectativa para chegar ao evento e mergulhar nesse mundo que respira inovação e experiências.

Este ano, brinquei com alguns amigos de que só falaria que deu certo quando estivesse sentada na plateia na primeira palestra. E dessa vez, deu mais do que certo! Parker é facilitadora, consultora estratégica, aclamada autora de The Art of Gathering: How We Meet and Why it Matters (A Arte de Reunir: Como nos encontramos e por que isso importa, em tradução livre), produtora executiva e apresentadora do podcast do The New York Times “Together Apart”.  Experiente em resolução de conflitos, ela passou 20 anos orientando líderes e grupos em conversas complicadas sobre comunidade, identidade e visão em momentos de transição.

Como podem ver pelo breve currículo, não havia opção melhor para voltar a um evento presencial, principalmente, por uma das temáticas abordadas por ela sobre o “poder do corredor”, e isso nunca fez tanto sentido para mim como agora. Entrei na atual empresa no formato online de trabalho e, uma das coisas que mais senti falta nesse tempo foi da oportunidade de tomar aquele cafezinho rápido que traz trocas tão importantes e ricas ou apenas cruzar com as pessoas dentro da empresa.

Na arte de se reunir, Priya mostra que todas as pessoas têm estilos diferentes e que o momento pandêmico, mais do que nunca, nos ensinou a trabalhar online, mas em um contexto forçado e não real. Porque nesse novo formato não existe apenas o seu trabalho, há uma vida inteira acontecendo ao redor do seu computador, na sala da sua casa, várias restrições em paralelo que precisam ser absorvidas e coisas novas ocorrendo e surgindo sem parar.

Esse contexto permite que você entenda e aprenda que os conflitos diários podem ser poderosos, pois todos são energia e precisam ser canalizados para onde se deseja ir e para que seja efetivo. Alguns conhecimentos, como a capacidade emocional e intelectual, são fundamentais para ajudar na resolução de conflitos; se conectar ao outro e criar, novamente, um espaço de aprendizado, começa a fazer mais sentido do que antes. Pensando por esse ângulo, vejo como a comunicação é essencial para resolver conflitos e como esse processo é necessário. 

Reaprender a “sentar à mesa”, ser empático e claro nas suas comunicações, desenvolver a arte de ouvir, ouvir e ouvir. Conversas difíceis são necessárias, mas para isso precisamos estar abertos a entender genuinamente os motivos do outro. E isso acontece ao permitir-se estar junto novamente, se reunir em pequenos grupos e/ou em momentos de real conexão.

Além de todo esse primeiro grande aprendizado, esse período pandêmico que nos impôs a reclusão também influenciou inúmeras pessoas a se perguntarem “será que sou feliz aqui?”. O online trouxe essa oportunidade de revermos as nossas funções, as nossas escolhas e enxergar novas maneiras de viver. Todos nós acompanhamos muitas trocas de emprego, divórcios, casamentos, nascimentos etc. Buscar e saber exatamente o que te faz bem e é a sua prioridade, talvez, seja um dos maiores ganhos de autoconhecimento que a pandemia nos trouxe. A vida mais reclusa te permite olhar de fora todo o turbilhão para, então, conseguir restabelecer as prioridades de dentro.

Com esse contexto, cada vez mais, a área de recursos humanos precisa estar descentralizada, as pessoas não vão querer viver presas a um escritório ou a uma função. É como se a gente, neste movimento de introversão, ganhasse mais identidade para criar “o novo” a cada dia. Dentro dessa dinâmica, a maioria quer ser “dono” do seu caminho e tomar as decisões que possam mudar a sua vida. 

Assim, eu te pergunto: você já questionou o valor de se reunir novamente? Voltar ao trabalho, mesmo que em formato híbrido, ver as conexões que você criou e o que precisa priorizar, manter e resolver. Entender o valor das próprias barreiras, dos desafios e conflitos do mundo atual, como ouvimos o outro, como sintetizamos o que faz mais sentido para nossa vida no hoje… entendendo, após toda essa experiência, que somos feitos de ciclos e que tudo é moldável. 

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