Meio&Mensagem

16 de março de 2022 - 11h12

Que lufada de ar fresco foi voltar a viver o aprendizado para além dos ambientes digitais! Especialmente por terem sido quatro dias respirando educação, novas formas de aprendizagem, tecnologia, futuro do trabalho e tudo isso entre pessoas engajadas em promover a transformação por meio do conhecimento. Se já sabíamos que o aprendizado deve ser uma constante, voltamos com a certeza de que o SXSW EDU é um ótimo ambiente para fazer uma rápida atualização de sistema. Fomos com o olhar aguçado para as tendências que estão transformando a maneira como as pessoas absorvem e trocam conhecimento. E destacamos aqui algumas delas.  

LIFELONG LEARNING

Um mundo em constante mudança, associado a crises econômicas, socias e climáticas, exige aprendizado ao longo de toda a vida.

Muitas palestras discutiram a necessidade cada vez mais frequente de requalificação profissional da força de trabalho, agravada no contexto da pandemia, que escancarou as desigualdades sociais. No painel “The Great Challenge of Reskilling America”, Abby Marquand (New Profit), Angela Jackson (New Profit), Anousheh Ansari (XPRIZE) e Kristina Francis (Jobs for the Future) apresentaram um case de cooperação entre essas organizações. Uma iniciativa que convocou 25 mil trabalhadores americanos para repensar, coletivamente, as possibilidades para o futuro de suas profissões e refletirem sobre os desafios de manter a força de trabalho engajada e competitiva no atual cenário de automação. “Acredito que o futuro do trabalho trará uma maior colaboração entre humanos e máquinas e isso fará com que a gente realize mais trabalhos que nos tragam satisfação como humanos”, provoca Anousheh Ansari durante a discussão.

A professora e cientista cognitiva Pooja Agarwal destacou que “ensinar pode ser uma arte, mas aprender é uma ciência”. Na palestra de abertura do SXSW.EDU, Pooja detalhou a metodologia descrita em seu livro “Powerful Teaching: Unleash the Science of Learning”. A prática consiste em atividades simples de revisão de conteúdo. O esforço de lembrar o que foi aprendido recentemente auxilia o cérebro a gravar o conteúdo em nossa memória de longo prazo. Isso, segundo Pooja, vale tanto para o aprendizado em sala de aula como para qualquer conhecimento adquirido ao longo da vida.

TECNOLOGIAS EXPONENCIAIS

O viés tecnológico aplicado à educação esteve presente em muitas discussões, a partir da utilização de ferramentas como Realidade Aumentada, Inteligência Artificial, Games, chegando ao Metaverso. Até que ponto o uso desses recursos faz sentido e de fato auxilia no engajamento de estudantes no processo de aprendizagem?  “A realidade virtual não deve ser usada de forma excessiva. Funciona melhor em sala de aula quando trata de uma experiência que não poderia ser vivida no mundo real, como situações de risco ou inacessíveis do ponto de vista econômico”, afirma Joel Sadler, professor da Universidade de Stanford e especialista em VR/ AR aplicado ao ensino.

Na mesa “How VR simulations are shaping education’s future”, Carrie Straub, diretora executiva de programas de educação e pesquisa da Mursion, e Nicole Taylor, diretora de comunidade da Mursion, apresentaram, em primeira mão, uma solução tecnológica para auxiliar o processo de formação de professores e lidar com contextos socioemocionais dos estudantes. A Mursion é uma plataforma imersiva que simula cenários de salas de aula em tempo real com avatares assistidos por inteligência artificial, com objetivo de criar um ambiente para experimentar, aprender e desenvolver habilidades. “As simulações podem auxiliar a aprendizagem socioemocional, pois você está em um ambiente seguro e controlado e, portanto, mais disposto a se arriscar e cometer erros”, destacou Straub.

PESSOAS NO CENTRO

O escritor e apresentador Baratunde Thurson e a facilitadora e autora Priya Parker destacaram o papel relevante dos educadores na formação de cidadãos críticos e ativos capazes de construir um mundo mais inclusivo e abundante. “A gente diz que é movido por dados, mas somos seres emocionais. Somos movidos por histórias.  É nas histórias que nos reconhecemos e compartilhamos emoções”, conclui Baratunde.

Em uma das mesas mais disputadas de SXSWX.EDU, o Secretário de Educação dos EUA, Miguel Cardona, fez um balanço do plano de ação para o enfrentamento desse contexto e avalia o quanto foi e é importante colocar a voz dos alunos no centro das discussões para garantir que suas experiências contribuam para um sistema educacional mais potente. “Enquanto professor, sempre critiquei o sistema educacional. Hoje eu sou o sistema educacional. Sei que precisamos mudar, mas só conseguiremos fazer isso juntos. Os estudantes me inspiram. Sempre tiveram voz, mas agora estamos ouvindo”, afirmou o secretário durante conversa com três estudantes, mediada pelo jornalista Dana Brown, diretor de conteúdo da Like Minded Media Ventures.

Ainda sobre o contexto da pandemia, Cardona avaliou que não podemos perder o senso de urgência e que, mesmo com a queda de casos, é preciso continuar criando melhores condições para professores e estudantes, sobretudo no suporte às questões socioemocionais. Por fim, ao ser perguntada sobre uma hipotética “mudança de cadeira” com o secretário da educação, Audra Renee Garcia, estudante da Universidade do Texas, foi categórica: “promoveria um sistema com menos competição e mais colaboração”.

Saímos de Austin otimistas, esperançosos, fervilhando de ideias e, principalmente, felizes por saber que muito das tendências e conceitos que vimos por lá, de alguma maneira  já estão presentes por aqui, na forma de iniciativas, ações, parcerias e organizações – ações que mostram o quanto já estamos conectados com os principais centros promotores do futuro da educação. Para continuar avançando é preciso unir esforços, compartilhar histórias e inspirar pelo exemplo.