O SXSW 2022 é feminino
Watch out for the Brazilian girrrrrls!
Watch out for the Brazilian girrrrrls!
17 de março de 2022 - 11h49
Depois de dois anos de pandemia, num contexto de guerra, de crises ambientais, desemprego, rupturas, grandes convulsões sociais e humanitárias, não nos parece mera coincidência que a largada para o SXSW 2022, o maior festival de inovação, criatividade e cultura global, foi dada por uma mulher: a Priya Parker, especialista em resolução de conflitos, autora do livro ‘The Art of Gathering: How We Meet and Why It Matters’ e mestre na arte dos encontros. O chamado deste ano é claro e não podia ser mais feminino: “É hora de nos juntarmos para construir um novo sentido num mundo em crise e em caos. É hora de entendermos qual a nossa própria agência neste contexto” disse Priya. E a Priya não está sozinha nessa empreitada, o line-up para os 10 dias de festival com atrações que vão desde palestras, workshops, exibições de filmes documentários, shows e ativações, está repleto de presenças femininas que estão dando o tom ativista e transformador do evento.
Furando a bolha masculina da inovação, estão Maria Ressa, CEO da Rappler, a primeira filipina a receber o Prêmio Nobel da Paz; Frances Haugen, ex-funcionária da Meta (ex-Facebook Inc.), responsável por vazar documentos internos da empresa; a CEO do Planned Parenthood Alexis McGill Johnson, Amber Venz Box, eleita pela Forbes uma das mulheres mais influentes 30 under 30, fundadora da maior plataforma para comércio com criadores contando com mais de 5 mil marcas e 150 mil influenciadores; Celine Tricard, fundadora da Lucid Dreams Production, autora do projeto transmídia sobre defesa feminina, Fight Back; Lady Pheonix, fundadora e CEO da YESUNIVERSE; a showrunner Meredith Scardino; a brasileira Bivolt, indicada ao Grammy Latino 2020, representante do rap nacional; Lizzo, cantora pop ativista do empoderamento “body positive” e ganhadora de 3 Grammys, além da já consagrada presença da futurista premiada Amy Webb. Tem até um painel chamado Madam Mayor: The Rise of Women Leading Cites, que reunirá prefeitas de cidades dos Estados Unidos, compartilhando sua experiência no desfaio da liderança.
O que nos instiga nesse enfoque, é trazer a perspectiva da mudança e da equidade pelas lentes femininas. No Brasil, a participação feminina no ecossistema de inovação é ainda muito pequena. Segundo o estudo Female Founders Report, elaborado em parceria com a Endeavor e a B2Mamy, apenas 4,7% das startups brasileiras são fundadas exclusivamente por mulheres, o que demonstra o quanto o empreendedorismo de inovação ainda é um ambiente muito restrito a nós. Quando o assunto é liderança, mulheres ainda representam apenas 19% dos cargos (dados do IBGE, utilizados no Panorama Mulher 2019 da Talenses e Insper). E, de 2019 pra cá, a coisa não melhorou muito pro nosso lado. Quem traz um dado assustador é o Fórum Econômico Mundial em seu Global Gender Gap Report 2021, segundo o qual outra geração de mulheres terá que esperar pela paridade de gênero, pois o gap global de gênero aumentou de 99,5 para 135,6 anos. Jogando tudo ainda mais pra baixo, temos a famosa síndrome da impostora: esse sentimento de que não somos suficientemente boas, sentimento que acomete não apenas nós “mulheres mortais” mas muitas mulheres de fama, grana e prestígio como a ex-primeira dama americana e superinfluenciadora Michelle Obama, as atrizes Emma Watson, Jodie Foster, Meryl Streep, entre outras. Ou seja, não importa o quanto fazemos, nos sentimos sempre aquém. Sobre esse tema Lizzo foi questionada durante uma das palestras mais aclamadas da semana e disse: “Nosso sistema está desenhado para sustentar a síndrome da impostora”. “Lembre-se de quem você é e não o que a sociedade diz que você é”. Aliás, tem até um painel que vai falar sobre o tema: “Impact of ‘Instagram Syndrome’ on Entrepreneurs’ Mental Health”. Sobre isso, gostaríamos de dar nosso depoimento. Jamais imaginamos que estaríamos num dos palcos do SXSW apresentando um projeto autoral. Entre muitos julgamentos e crenças limitantes, mas munidas de coragem e convicção, resolvemos inscrever o nosso workshop Antifragility Radar: A Tool for ESG Innovation no line-up do festival. E fomos selecionadas. E a sala lotou. Tinha até fila de espera.
Como nós, devo dizer que o line up do Brasil no festival é feminino: Tem as White Rabbits com o Workshop 2050 Museum of the Absurd, tem a Simone Klias com sessões de mentoria em voice tech, a Wal Flor da Flow.ers e a Patrícia Ellen, Secretária do Desenvolvimento Social e Econômico do Estado de SP ambas à frente de um importante painel: ESG. Ready to pay the bill? Isso sem contar a única startup brasileira na expo do festival, a Mimo – uma plataforma de live shopping, pioneira na América Latina e fundada pela incrível Etienne du Jardin. A presença do público feminino brasileiro no festival se expande ainda mais quando olhamos para as participantes, somos muitas e engajadíssimas. Mais de 200 mulheres marcando presença, assistindo tudo, agitando todas, trocando intensamente e colaborando via whatsapp, numa incrível curadoria real time.
Parafrazeando a Lizzo, “watch out for the brazilian girls”.
Veja também