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Seis grandes dilemas da humanidade e suas narrativas

Já no avião encontrei amigos e conhecidos que compartilhavam do mesmo sentimento


17 de março de 2022 - 15h48

Crédito: Thais Monteiro

Depois de quase dois anos do Festival de Berlim, embarquei para uma viagem a trabalho. Fazia tempo e devo dizer que foi com misto de emoções.

Se por um lado eu senti medo da aglomeração – estranho estar numa sala com 500 pessoas e mais ainda ficar uma semana sem almoçar com meu filho – por outro, eu sempre adorei mergulhar de cabeça no mercado internacional, ir em direção ao novo e explorar o desconhecido.

A seleção do Creative SP, com apoio para minha vinda, acabou decidindo por mim. Com essa oportunidade, fui de certa forma empurrada para o novo.

Já no avião encontrei amigos e conhecidos que compartilhavam do mesmo sentimento. Esses encontros ao acaso, tanto agora quanto antes, ajudaram a construir o que sou como pessoa e empresa.

Os próximos dias foram de verdadeiro êxtase! Nada mais prazeroso do que sentir os neurônios desenvolvendo novas conexões!

SXSW é algo tão grande e com tanto conteúdo que muitas pessoas contratam “curadores” profissionais para organizar suas agendas. São palestras, painéis, feiras, ativação, mentoria, encontros e festas! A minha prioridade foram palestras, feira e conexões!

Os temas abordados incluem tecnologia, metaverso, bitcoin, NFT, realidade virtual, biotech, mudanças climáticas, mercado da música, poder das narrativas e o futuro do entretenimento. E é claro, sempre muito futurismo com vários nomes indicando o que deve vir para os próximos anos.

Os Dilemas da Tecnologia

De acordo com Amy Webb, vivemos num momento de “re-percepção”, que significa ver, ouvir e se tornar consciente de que existe algo novo. A “re-percepção” é a essência da criatividade, do empreendedorismo e da inovação. Não se trata de prever o futuro, mas de saber lidar com a incerteza na tomada de decisão.

1-AI: Sabemos, por exemplo, do poder da inteligência artificial que hoje está muito próxima da capacidade de tomada autônoma de decisão. O dilema aqui é quem define as regras? Todas essas informações coletadas para o desenvolvimento da AI não deveriam ser de propriedade de cada usuário? Hoje a AI já é capaz de produzir textos sobre assuntos específicos com base em trabalhos anteriores de determinado escritor, e, com isso, a AI poderia facilmente desenvolver um roteiro. Mas onde fica a inovação aqui?

2-Metaverso: Muito se fala também de metaverso mas ainda sem muitos padrões, e me parece consenso de que ainda é uma realidade bastante limitada ao mundo dos games. Porém a verdadeira bolha que se criou em torno de NFTs e colecionáveis, demonstra que podemos estar errados. Será que efetivamente teremos uma vida paralela num mundo virtual? Novamente, nesse caso, quem seria responsável pela regulamentação desse espaço? Qual o real valor de NFTs já que não há escassez?

3-Biotech: O que realmente promete ser uma enorme mudança para a humanidade são os avanços na biotecnologia, que possibilita, por exemplo, a modificação e melhoria genética, criação em laboratório como de carne de frango – que nunca foi efetivamente frango. Por outro lado, seria possível criar doenças destinadas a uma determinada pessoa por meio do seu mapeamento genético em laboratório. Qual o limite ético?

4-Fake News vs liberdade de expressão: Os algoritmos das redes sociais favorecem as postagens e conteúdos mais sensacionalistas que acabam tendo repost e indicação de muitos leitores que, muitas vezes, nem chegam a ler a mensagem antes de indicá-la a sua rede – 1% dos usuários de redes sociais do mundo detêm 80% do diálogo, de acordo com Frances Haugen. Dessa forma, começamos a acreditar que as vozes radicais são maioria e há a disseminação de informações falsas que impactam fortemente as decisões políticas e de forma geral, da sociedade como um todo. O dilema aqui é qual o limite da liberdade de expressão num território que não é regulamentado?

5-Gênero fluido e diversidade: Apesar das iniciativas feitas, quem efetivamente tem trabalhado na inteligência artificial e detém a riqueza da sociedade atual – dados? Será que esses vieses não estão sendo ainda mais reforçados com a polarização das redes?

6-Retrô e o sucesso do antigo: apesar de muito falarmos de inovação, de acordo com Brent Anderson (Chief Creative Officer da TBWA), existe uma hipótese de que o mundo está perdendo sua criatividade. De acordo com Brett, devido aos algoritmos das plataformas, há uma supervalorização de catálogos de conteúdo antigo, filmes que são remakes ou sequências e pouco espaço para inovação. De acordo com ele “NUMBERS ARE POWER, CREATIVITY IS RISK!”. Estaríamos nos tornando reféns dos algoritmos?

Como as narrativas são parte da solução

A pandemia fez com que a sociedade passasse por um verdadeiro trauma coletivo e individual. Muitos perderam pessoas próximas, ficaram meses sozinhos, repensaram escolhas!

Se por um lado a tecnologia foi parte integrante de nossas vidas (quem diria o Zoom!), por outro lado a sociedade passou a demandar que instituições e marcas se posicionassem de forma mais humana, com maior cuidado com aqueles que se relaciona.

Nesse processo de ressignificação do que é viver, e como eu desejo viver cada dia, a humanidade passou a exercer uma curadoria ainda maior daquilo que assiste e consome.

A emergência de uma ação em relação às mudanças climáticas se tornou ainda mais forte e pauta de quase todas as palestras do SXSW. O consumidor não quer mais marcas apenas eficientes e que entregam bons produtos, mas empresas e pessoas que atrelam “lucro com propósito”, e que esse propósito esteja alinhado com a sociedade atual.

E nesse mundo de guerra pela atenção, como efetivamente comunicar nossos propósitos?

Parte da resposta está em boas narrativas! De acordo com a premiada diretora Celine Trucart, “a narrativa é a essência da vida. Nós não lembramos de fatos passados da nossa vida mas das estórias que contamos a nós mesmos sobre nosso passado”.

O momento pede que cada um desenvolva a sua narrativa e seu propósito para se manter relevante.

E apesar do metaverso e da imersão da realidade aumentada, ainda nenhuma plataforma é mais democrática e potente do que o audiovisual!

Bem-vindo a década de ouro da produção audiovisual!

Se você já achava que conteúdo era rei porque as grandes empresas de tecnologia duplicaram seu investimento nos últimos dois anos em produção, saio desse SXSW convencida de que o investimento das marcas será ainda maior. E exemplos de pioneiros não nos falta!

Como produtora e distribuidora de conteúdo de entretenimento, volto com a certeza de dividir nosso Line up com base em propósitos e não mais com base em gêneros! Pois é assim que o consumidor fará sua curadoria!

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