Meio&Mensagem

17 de março de 2022 - 15h21

Todo mundo diz que o SXSW é sobre aprendizado, é sobre os conteúdos sensacionais das palestras, sobre as novas tendências e destaca o quanto os aprendizados são importantes. Bem, concordo com tudo isso, mas preciso dizer uma coisa: para mim, viver esse evento não é como fazer uma viagem de jato, do ponto A para o ponto B e, sim, uma viagem de veleiro, em que a gente busca o tempo todo a integração com o mar e o vento e que cada variação dos elementos – seja ventania ou calmaria – faz com que a jornada fique mais interessante.

Como diz o meu amigo Pipo Calazans, que já vem no SXSW há mais de dez anos, a melhor coisa do festival não são as palestras (que, em geral, são excelentes!) mas o que acontece antes e depois delas, que é a troca de impressões entre as pessoas que estão assistindo, o clima descolado, o networking. Você não precisa ter assistido uma palestra para saber os insights que ela traz porque o que valeu a pena vai ser comentado e com um bônus: já devidamente interpretado para a realidade do mercado brasileiro.

Sim, Austin vive uma verdadeira invasão verde-amarela. Nosso português é ouvido em todo lugar – e olha que vem gente de todas as partes do planeta para cá. O bom dessa sensação de que o evento “é coisa nossa” é que ela se confirma cada vez que a gente sai para tomar uma cerveja e o pit stop vira uma oportunidade de fazer networking de qualidade e de colher visões originais sobre todo tipo de assunto. Para mim, participar do SXSW e não dar espaço para o acaso, para a troca espontânea com gente das mais diversas vibes, seria como entrar na Estrela da Morte, fazer o download do projeto da estação espacial e sair sem resgatar a Princesa Leia – correto, mas sem emoção e sem heroísmo.

E por falar em jornadas heroicas, eu tenho que destacar o impacto que o brasileiríssimo Edu Lyra causou no SXSW. Em sua primeira vez no festival, o fundador e presidente executivo da Gerando Falcões, falou sobre a sua estratégia de capacitar e aparelhar as pessoas para que elas consigam interromper o ciclo contínuo de pobreza que atravessa gerações.

O mais legal do trabalho do Edu Lyra é que ele se tornou escalável porque a Gerando Falcões funciona na mesma lógica das franquias, compartilhando know-how social com ONGs de todo o Brasil que desenvolvem ações nas favelas. E com um jeitinho todo brasileiro, Edu convidou Elon Musk, fundador da SpaceX e CEO da Tesla, a investir em sua iniciativa de urbanização das favelas. O fato ganhou a mídia e as redes sociais. 

Outra iniciativa “made in Brasil” que se destaca é a Mimo, a primeira plataforma de Live Commerce no Brasil e única startup brasileira a participar com um stand da Creative Expo que está acontecendo no Austin Convention Center. Com mais de 200 live shops realizadas no Brasil, agora a Mimo está lançando sua versão em inglês e espanhol. Com ações realizadas para grandes marcas como C&A, Diageo, Whirlpool e Bayer, a empresa aposta na transformação dos hábitos de consumo na direção do e-commerce combinado com o envolvimento que as lives (especialmente com a participação de influenciadores) podem gerar.

Na categoria projetos que integram mundos, tenho que falar do Roberto Fabri, diretor de marketing da CCXP, que participou de um debate sobre a economia criativa. A CCXP, evento realizado em São Paulo e que se tornou um dos maiores e melhores do mundo, é um projeto feito de geeks para geeks e que abraça todos os universos da cultura pop. Essa visão ecumênica em que Trekkies andam de mãos dadas com o Darth Vader deu muito certo. Só em 2021, o CCXP WORLDS teve audiência de mais de 5 milhões de pessoas em dois dias de evento.

Já Konrad Dantas, mais conhecido como o nosso KondZilla, palestrou pela segunda vez no SXSW. Dessa vez, ele se dedicou a explicar o que faz o funk brasileiro único e como ele representa a favela. E falou sobre o seu projeto que usa a música distribuída pela internet como instrumento para alavancar pessoas de comunidades marginalizadas. Ou seja, como os universos tech e musical se encontram com o empreendedorismo.

E, para completar a experiência verde-amarela, a Globo, que lidera o universo da televisão há décadas e vem se destacando no mundo do streaming, marcou presença no festival com uma série de coberturas em suas plataformas e com um happy hour só para brasileiros. E o mais bacana, para entrar nessa festa só bastava falar português.

Como eu deixei transparecer no título, há vários universos paralelos correndo no SXSW – todos com narrativas sedutoras e mais heróis do que vilões. Então, como fã do multiverso, tenho que dizer que estou me sentindo em casa.