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O impacto da “Síndrome do Instagram” na saúde mental dos empreendedores

A conversa entre Gemma Correll, influenciadora de saúde mental; Cindy Eckert, founder da Pink Ceiling; e Tim Storey, Coach de Vida, abordou o enorme custo mental infligido aos líderes que empreendem nos dias de hoje, considerando os exemplos e modelos que vêm das redes sociais


21 de março de 2022 - 13h30

Crédito: Jonas Furtado

Correll fala do impacto de assistir diariamente tantas pessoas com ideias tão geniais.  Toda a informação recebida por centenas de posts, que mostram o sucesso de outras pessoas, levantam questões, por exemplo, sobre aquela pessoa ter conseguido determinado trabalho e eu não. Tudo influencia nossa percepção do quanto somos capazes de realizar coisas verdadeiramente grandes, ou o pior: nos faz duvidar da nossa competência.

Confesso que quase troquei o canal, imaginando que poderia ser mais uma daquelas conversas que criticam o abuso das redes sociais como um todo. Não que eu não concorde e que fique claro aqui que desativei meu Instagram por seis meses em 2021 e, quando perguntada sobre meu @, eu respondia com o maior orgulho que não tinha. Foi uma fase necessária para recuperar minha autenticidade. Meu maior temor era perder algumas referências e inspirações. No entanto, o que aconteceu foi exatamente o contrário, recuperei minha originalidade e perdi exatamente esse sentimento do qual Correl fala: o sentimento sufocante que nos faz acreditar que todos estão criando algo maior e mais grandioso que nós. 

Pausa para um momento íntimo que vai romantizar o impacto da palestra em mim: enquanto escrevo o artigo, estou ouvindo Paciência, de Lenini: “a gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência”.  E é isso, é exatamente sobre isso. 

O evento trata de forma muito assertiva a forma como absorvemos uma quantidade gigantesca de conteúdo e referências na inocência de que iremos, de alguma forma, colocar tudo em prática. E isso está muito longe de ser uma realidade sequer possível.

Eles trouxeram a perspectiva da influência negativa das tendências. E, considerando que o SXSW aborda muito esse tema, eu achei, no mínimo, ousado da parte deles. O fato é que quem empreende ou quer empreender, geralmente busca o hype no intuito de aproveitar as oportunidades, o que rende FOMO (fear of missing out) e desperta uma  ansiedade patológica em criar algo rápido para não perder o time.

Eckert é fundador da Sprout Pharmameuticals, empresa que levou o viagra feminino  ao mundo. Bilionária, fundou o Pink Ceiling, uma incubadora de startups 100% fundada por mulheres. Ao longo da carreira sofreu e sofre muitas críticas e ela deixa a dica do sucesso, esclarecendo que o compromisso em agradar toda a audiência compromete a autenticidade do conteúdo. Ela traz o contraponto do bate papo como alguém que influencia mais do que é influenciada. Eckert  diz que a glamourização do “empreender” se baseia em resultados financeiros rápidos e o fato de ser tudo sobre o dinheiro é bem problemático, já que empreender é uma longa jornada. 

Correll, que trata assuntos ligados à saúde mental em suas redes sociais através de seus desenhos, acredita que ainda existe um estigma pairando sobre o termo. O conteúdo que ela traz carrega uma dose perfeita de humor ou, digamos, de leveza, e chega a ser fofo. 

Mas me surpreendeu ver a pessoa “Gemma Correll” falando em público. Com uma humildade ímpar, ela deixa claro que falar sobre o tema saúde mental exige um cuidado enorme, e sobre como a vontade de ajudar pode, muitas vezes, causar danos irreparáveis. É importante falar de um lugar de conhecimento e com verdade. A abordagem dela é pessoal, não clínica, o que na minha opinião, é a característica mais marcante do seu trabalho.

Os três focaram bastante no fato de que jovens inovadores estão sofrendo da tal “Síndrome do Instagram”, o que na realidade abrange todas as redes sociais. O problema é a ideia de que precisam urgentemente empreender e manter um estilo de vida correspondente aos 30 anos. Mas, obviamente, essa realidade perfeita não poderia estar mais longe da verdade e causar mais danos. Portanto é importante medir nossas influências e termos consciência das nossas capacidades para que não nos percamos em referências e possamos, assim, manter nossa originalidade.

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