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SXSW x Cannes: distintos, porém convergentes

Na teoria, eles foram criados com propostas diferentes: o primeiro nasceu como um festival de música para depois tornar-se um caldeirão do que está por vir no universo interativo, enquanto o segundo surgiu como premiação que celebra a criatividade

Isabella Lessa
10 de março de 2018 - 7h00

Em fevereiro, a revista online norte-americana Digiday publicou uma reportagem explicando por que algumas agências estão preferindo pular o SXSW para comparecer a outros eventos. A OMD, por exemplo, disse à publicação que o festival tornou-se corporativo demais, e portanto fugiu ao seu propósito original de conectar clientes a startups, educar funcionários e, sobretudo, dar-lhes a chance de se divertir em um ambiente que pouco combina com a persona institucional. Além disso, a matéria afirma que março também passou a acumular outros eventos, como o Adobe Summit, e o IBM Think, algo que dividiu a atenção – e o budget – das agências. Semanas depois, foi a vez da Adweek colocar o festival sob judice – embora o veredito final tenha sido a absolvição. Aqui no Brasil, o apreço ao SXSW tampouco é unânime.

Fred Siqueira, CCO da Ampfy, esteve lá pela primeira vez no ano passado e não pretende voltar enquanto o atual formato de palestras perdurar. “Foi uma grande decepção, uma experiência muito ruim. Porque não consegui ver nada que me impressionasse ou trouxesse algo de valor. Literalmente, são 200 coisas acontecendo ao mesmo tempo”, afirma. O que ajudaria a melhorar a experiência no festival, na opinião de Siqueira, seria um olhar mais exigente da curadoria para garantir que o conteúdo apresentado seja, de fato, proveitoso para o espectador. “Priorizar a qualidade em detrimento da quantidade”, ressalta.

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Reclamações semelhantes às relatadas pelo profissional e pelas agências norte-americanas, no entanto, também foram utilizadas pelo mercado nacional e internacional para se referir a Cannes. Em anos recentes, foi comum ouvir que determinada agência trocaria o princípio de verão glamuroso na Riviera Francesa pelo clima inconstante e caótico de Austin.

Na teoria e na prática, SXSW e Cannes Lions foram criados com propósitos distintos: o primeiro nasceu como um festival de música para depois tornar-se um caldeirão daquilo que está por vir no universo interativo, enquanto o segundo surgiu como premiação que celebra a criatividade. Porém, os dois eventos passaram a convergir em alguns aspectos: Cannes viu-se na obrigação de incluir, em suas categorias de prêmios e em sua programação, nomenclaturas voltadas à tecnologia. Abriu, inclusive, espaço para startups e anunciou que será possível acompanhar a premiação por streaming por telões instalados nos arredores do Palais. Porém, as alterações no formato não reverteram a decisão do Publicis Groupe de não comparecer ao festival este ano – o anúncio foi feito pelo CEO Arthur Sadoun durante o próprio evento, em junho passado).

O SXSW, por sua vez, passou a criar um terreno mais propício para o networking e conversas sobre negócios entre anunciantes e agências. Em seu painel de boas vindas, o chief programming officer Hugh Forrest disse que o objetivo do festival é retomar a criatividade como essência do SXSW. Em junho, o vaivém pela Croisette será concentrado em cinco dias, e não mais em oito. Um esforço da organização de Cannes em adequar-se às demandas dos novos tempos e da indústria. Para Siqueira, Cannes continua valendo a pena: “Sempre gostei de Cannes. Todo ano que vou me decepciono com algo, mas sempre me surpreendo também”.

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