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Utopia ou distopia: para onde os avanços tecnológicos irão nos levar?

Tecnologia da informação não só está muito presente na agenda do evento como faz parte das falas de inúmeras e inúmeros palestrantes


13 de março de 2018 - 14h01

(Crédito: reprodução)

Esse é meu terceiro ano no SxSw. Cada ano sinto que venho a um evento totalmente novo, e é isso que me faz gostar tanto desse lugar.

Há 5 anos mudei de carreira e passei a trabalhar com tecnologia da informação. Me apaixonei por isso, mas também me assustei (e sigo me assustando) com como estamos criando tecnologia. E eu sentia muita falta de falarmos disso – do lado perigoso das evoluções tecnológicas – aqui no evento. É irresponsável falar das maravilhas que a tecnologia pode fazer pelos negócios e pela sociedade sem falar também dos seus perigos.

Pra minha surpresa, o tópico não só está muito presente na agenda do evento como faz parte das falas de inúmeras e inúmeros palestrantes.

Dizer se estamos andando em direção a uma utopia ou distopia não é meu papel (e eu jamais teria a pretenção de ter essa resposta), mas fiz um pequeno compilado pra vocês das muitas questões interessantes levantadas aqui.

Como vocês perceberão, temos muito mais perguntas do que respostas.

-Por que estamos criando Inteligência Artificial?

Diferente de outras descobertas e criações disruptivas, como o projeto genoma, estamos criando e evoluindo a inteligência artificial simplesmente porque podemos, não necessariamente porque deveríamos. Quando vamos parar para nos perguntar praonde esses ditos avanços irão nos levar?

*Painel com criadores e autores da série de ficção científica Westworld

-Segurança importa?

Tecnologia da Informação tem sido uma grande protagonista na evolução da medicina. De acordo com pesquisas recentes pacientes se sentem melhor conversando com um “médico virtual” por três principais razões: não se sentem julgados, a resposta é super rápida e não é preciso lidar com oscilações de humor (eu adicionaria nessa lista o fato de médicos virtuais não se atrasarem pra consultas, mas enfim). Além disso, a combinação de conhecimentos de saúde com tecnologia promete aumentar a expectativa de vida das pessoas que têm acesso a um sistema de saúde.

Mas o que acontece quando estamos lidando com dados tão sensíveis quanto a saúde e a vida das pessoas?

Já temos dois casos de sistemas de hospitais sendo hackeados e sabemos que inclusive implantes podem estar vulneráveis a isso (lembram do Brady, em Homeland?). Empresas de seguro de saúde já têm acesso a uma infinidade de informações extremamente pessoais: o que compramos, comemos, se fazemos atividade física ou não e até nossos batimentos cardíacos.

O que acontece quando temos uma empresa remotamente acompanhando e controlando a nossa vida?

*Painel Body Computing, Security and Human Safety.

-O que estão fazendo com meus dados?

Ainda falando da área de saúde, queria trazer um cenário interessante levantado nesse mesmo painel citado acima. Hoje em dia já é possível prever, por exemplo, que mulheres jovens, em uma determinada região dos Estados Unidos, tem chances muito elevadas de desenvolver cancer de mama. Por um lado, isso é incrível: possibilita que se atue de forma preventiva. Por outro, sabendo que nos Estados Unidos as empresas são responsáveis pelos custos (altíssimos) do funcionário no caso de uma doença como essa, em posse desses dados será que essas mulheres seguiriam sendo contratadas?

-Estamos deixando o futuro nas mãos de grandes empresas privadas?

Quando falamos, em especial, de inteligência artificial, vemos que os inúmeros avanços nessa área surgem de empresas privadas – como o Google. Sabemos do potencial de AI. O que acontece quando o principal objetivo para se criar essa tecnologia é o lucro? Perigoso.

Espero que possamos pensar sobre as questões acima (e mais tantas outras importantíssimas sobre o impacto da tecnologia na sociedade). Sem uma mudança drástica na forma como criamos e no porquê de criarmos tecnologia, seguiremos automatizando o status quo – e as desigualdades econômicas e sociais que vivemos.

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