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FOMO e unicórnio

Se você perder a hora, tiver fome, sede, necessidade de um pouco de sol, alergia a carpete, você pode perder a novidade do ano e, em tempos de mega startups, pode ter deixado de ver o nascimento de um unicórnio


23 de março de 2018 - 11h17

FOMO foi um sentimento constante nas últimas edições do SXSW, a junção de todo tipo de ansiedade por finalmente ter chegado a semana em que você vai se atualizar sobre tudo de novo que está rolando em todos os lugares sobre todos os assuntos. Isso. Uma Wikipédia de tendências atualizada ao vivo na sua frente. Mas se você perder a hora, tiver fome, sede, necessidade de um pouco de sol, alergia a carpete, você pode perder a novidade do ano e, em tempos de mega startups, pode ter deixado de ver o nascimento de um unicórnio. Um unicórnio!

Nós vivemos a era da ansiedade. Depois da criação do relógio, o smartphone e as plataformas sociais foram as invenções que mais alteraram a nossa relação com o tempo. Com o intuito de otimizar a sua funcionalidade e o seu conteúdo para o engajamento máximo, as plataformas sociais criaram alguns mecanismos que nos deixaram presos aos nossos aparelhos e presos em uma outra dimensão.

Eu realmente acredito que não houve nenhuma intenção maliciosa, os criadores estavam simplesmente resolvendo um desafio, pensando como engenheiros. E assim eles criaram a scroll bar infinita, o autoplay e o refresh “caça-níqueis”, aquele que, cada vez que você puxa a tela para baixo, recompensa você com mais um conteúdo relevante.

Essas evoluções nos prenderam nestes ambientes virtuais, vivendo num ritmo que não é mais determinado pelo relógio, mas pelas atualizações em nossos feeds.

E isso potencializou meu FOMO no SXSW?

Na verdade este ano minha experiência aqui foi muito mais relaxada, por dois motivos: o primeiro é devido à melhora na organização do evento, que adicionou novos features ao app que sinalizam quão popular é a palestra e qual o status da fila. O segundo, e mais importante, foi que eu deixei de enxergar o SXSW como a semana da educação em inovação do ano e transformei meu ano em um grande SXSW. Não assisti a todas as palestras que gostaria, mas volto com uma lista de pessoas, assuntos e empresas que vão diretamente para meu campo de busca do YouTube e de lá para minhas playlists. Hoje, além do próprio canal do SXSW, vários outros canais armazenam palestras das mesmas pessoas que lá estiveram ou de outros especialistas falando sobre os mesmos assuntos.

Nesse processo, o que eu descobri foi que esta curadoria de conteúdo pessoal, em parceria com os algoritmos, não só me deixou atualizado o ano inteiro mas também transformou meu smartphone e meu tablet em uma ferramenta para diminuir a minha ansiedade.

Sim, mesmo assim eu vou voltar no ano que vem, mas vou chegar a Austin mais atualizado e menos ansioso em relação ao que vou assistir e ao que talvez vá perder.

Então essa é a solução para o FOMO? Na verdade não, hoje eu passo as outras 51 semanas do ano com “Fear of Missing Out”. Com a velocidade com que nosso negócio está mudando, não poderia ser diferente. Cada projeto, cada brief, cada ideia apresentada pela criação, cada insight do planejamento ou cada parceria proposta pela mídia poderia, ou melhor, deveria ser uma oportunidade de inovação e disrupção. Cada conteúdo assistido deveria levar a uma conversa, cada conversa a uma ideia, cada ideia a um projeto, e aí, quem sabe, no próximo ano, se um unicórnio cruzar o seu caminho, você vá enxergá-lo, pois em vez de estar com seus olhos grudados no seu black mirror você pode estar em cima de um destes palcos contando a sua história.

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