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Howard Schultz: “acho que entendo um pouco de marketing”

Provável concorrente às eleições americanas como candidato independente e de centro, Chairman da Starbucks defende que os EUA podem crescer sem violência e discriminação

Luiz Gustavo Pacete
9 de março de 2019 - 13h48

Divisão, violência, falta de representatividade política. A atual situação dos Estados Unidos, segundo Howard Schultz, fundador e Chairman da Starbucks, é séria. “We are in trouble”, afirmou. Em um dos painéis mais concorridos do SXSW neste sábado, 9, Schultz dedicou a grande parte de sua entrevista a Dylan Byers, repórter sênior de política da NBC News, para falar do momento político de seu País e o que o motiva a entrar na corrida presidencial dos EUA em 2020 de forma independente e com uma vocação ideológica ao centro. “Milhões de afroamericanos que não estão na escola, milhares de pessoas que passam fome, uma crise de opioides sem precedentes, claramente uma situação dramática de um sistema corrupto, frágil e desestruturado”, afirmou.

Dylan Byers, da NBC News, entrevista Howard Schultz (Crédito: Luiz Gustavo Pacete)

“Democratas e republicanos são cúmplices e não representam o povo americano. Eu amo esse Pais, vivi o sonho americano, vim de família pobre, eu senti o que é ser pobre. Se não reconhecermos o quão frágil é o momento e sem fantasias estaremos em um sério problema”, reforçou. Promovendo a hashtag #reimaigineus, Schultz convocou os cidadãos americanos a não aceitarem o atual momento de divisão dos EUA. “Temos mais em comum que violência, que preconceito. Temos muito mais em comum como cidadãos”, disse. “Depois que anunciei que cogitaria a eleição viajei pelo País vi a situação dos americanos e também observei o quanto estamos divididos enquanto nação. Educação e saúde que não funcionam. Uma política migratória controversa e uma crise enorme de liderança”, afirmou.

Em provocação à plateia, Schultz perguntou se o governo americano estava fazendo algo bom pelas famílias e comunidades. Sem muitas respostas positivas, ele ressaltou que o tipo de feedback que presenciou no Convention Center é o mesmo que tem vivenciado pelo País. “As pessoas não estão sendo servidas por nosso governo. Oportunidades reais não estão sendo criadas para nossos cidadãos”, disse. Questionado sobre uma definição para socialismo, Schultz mencionou a Venezuela quando logo foi interrompido pela plateia. “Eu fui um empreendedor de sucesso em um sistema capitalista, e isso traz enormes responsabilidades. Eu passei minha vida inteira para reconhecer que o sucesso da Starbucks trouxe também grandes responsabilidades. ”

Livro de Schultz lançado em janeiro deste ano sobre negócios sustentáveis (Crédito: Reprodução)

Em 2018, Schultz deixou a presidência executiva da Starbucks. Na ocasião, afirmou que se dedicaria à divulgação do livro “From the Ground Up: A Journey to Reimagine the Promise of America”, lançado em janeiro de 2019. Também em janeiro deste ano, em entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS, ele, que já foi democrata declarado, afirmou publicamente que cogitava a possibilidade de concorrer à presidência. A informação causou várias críticas ao executivo, sobretudo, por suas análises sobre a atual política americana. “O momento da nossa política é muito frágil. Temos um presidente que não é qualificado para o cargo e partidos que não estão fazendo o suficiente pelo povo dos Estados Unidos”, disparou.

Ao mesmo tempo que critica o governo Trump, Schultz pode se beneficiar da mesma onda que colocou Trump na presidência dos Estados Unidos: os outsiders. Grupo que, além de Trump, possui Maurício Macri, na Argentina, e Emmanuel Macron, na França, e o ex-prefeito de NY e empresário Michael Bloomberg, que também deve concorrer à presidência. Mesmo em meio aos democratas, existe uma preocupação de que Schultz poderia dividir o eleitorado e fortalecendo o nome de Trump seu eventual concorrente caso ele mantenha a decisão de concorrer à presidência.

Sobre o equilíbrio entre sustentabilidade e economia, Schultz ressaltou, com base em sua experiência na Starbucks, que é possível encontrar soluções que foquem na economia sem considerar o fator de comunidade. “É possível crescer com empatia, é possível crescer pensando em outras formas de valores”, apontou. Ao ser questionado sobre superar Donald Trump em termos de marketing político, Schultz ressaltou o tamanho atual da Starbucks, pontuou o time de marca que ela se tornou e pontuou: “acho que eu entendo um pouco de marketing.” Atualmente, a Starbucks possui 25 mil lojas em 75 países.

Schultz será um candidato independente e de centro (Crédito: CommonsWikipedia)

Sobre marcas e causas

Quando questionado sobre como foi sua principal decisão enquanto conduziu diretamente a Starbucks, Schultz reforçou que foi a autonomia e o senso de pertencimento dado aos funcionários. “Nossos funcionários tem parte das ações da empresa por que isso muda a maneira como eles se sentem diariamente. E essa foi a melhor decisão que tomei, não foi sobre algo relacionado à design, experiência ou tecnologia, foi poder fortalecer o comportamento de dono”, afirmou. Ele ressaltou que, neste processo, a Starbucks cometeu muitos erros, mas reconhecê-los faz parte.

Desde que entrou no segmento de café, há aproximadamente 30 anos, Schultz, se propôs a basear os negócios da Starbucks em comércio justo e com forte pegada sustentável. De origem humilde de uma família do Brooklyn, o executivo foi exposto ainda jovem a questões relacionadas a diferenças sociais e econômicas. Em fevereiro de 2017, em meio ao clima de tensão vivido nos Estados Unidos, em função da chegada de Donald Trump ao governo e à política que impedia a entrada de cidadãos de países muçulmanos e de refugiados, Schultz e a Starbucks anunciaram a contratação de dez mil refugiados.

Protestos na Filadelfia após caso de racismo dentro de uma loja da Starbucks (Crédito: Reprodução)

Com a decisão, a Starbucks foi alvo de boicotes motivados por apoiadores de Trump que lançaram a hashtag #BoycottStarbucks e também de mexicanos que criaram um movimento contra marcas americanas. Ao anunciar a contratação de refugiados, Schultz, então presidente da Starbucks, enviou uma carta aos funcionários ressaltando o que pensava sobre o tema. “Escrevo a vocês hoje com profunda preocupação e o coração apertado. Vivemos tempos sem precedentes, nos quais somos testemunhas de que a consciência de nosso país e a promessa do sonho americano foram colocadas em xeque. ”

Em abril do ano passado, em outra situação polêmica, a rede interrompeu o funcionamento de todos os seus restaurantes nos Estados Unidos durante algumas horas para realizar um treinamento sobre equidade racial. A decisão fez parte de um gerenciamento de crise da rede após a prisão de dois homens negros em uma de suas lojas. A ação, “guiada para prevenir qualquer discriminação em nossas lojas”, como definiu a empresa à época, foi oferecida a aproximadamente 175 mil funcionários e contou com o compartilhamento do conteúdo para outras empresas. “Os valores que guiam a companhia são baseados em humanidade e inclusão, ” afirmou Schultz, que foi até Filadélfia, cidade do incidente, para encontrar líderes comunitários e funcionários da rede. “Nós aprenderemos com nossos erros e reafirmamos nosso comprometimento em criar ambientes saudáveis e acolhedores para todos os consumidores’.

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