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O que aprendi com a parede de um restaurante em Austin

A desconexão dos anúncios com os consumidores pode vir do fato de que publicitários que amam propaganda trabalham para agradar outros publicitários, que também amam propaganda


11 de março de 2019 - 11h26

 

Porta do Koriente (crédito: Vinícius Malinoski)

Eu adoro o SXSW, mas eu adoro ainda mais Austin. Ela é autointitulada a capital mundial da música ao vivo e tem essa atitude de contracultura que está bem descrita no slogan “keep Austin weird” (mantenha Austin esquisita, em tradução livre). E isso em um Estado cujo slogan informal é “Don’t mess with Texas” (não mexa com o Texas). O contraste é evidente.

Uma das maiores belezas desse festival que toma conta da cidade é que não é apenas nas palestras que se pode aprender algo valioso. A prova disso é que minha maior lição até agora veio da parede de um restaurante simples, o Koriente, com sua singela história de origem pintada na parte dos fundos. Uma história que sintetiza muito bem o espírito da contracultura.

“Minha mãe abriu este restaurante, porque ela odeia cozinhar. Ela adorava comer fora (deixar que outra pessoa tenha trabalho), mas achava difícil encontrar comida saudável, sem glutamato monossódico, com menos calorias, mais balanceadas e a preços acessíveis. Ela se sentia culpada por nos alimentar com ‘porcarias’ e mal por ser uma dona de casa, então, ela disse ‘Por que não abrir um restaurante para pessoas como eu?’”

Trazendo o mesmo raciocínio para o nosso mercado, fiquei pensando se não é exatamente isso que a gente precisa: de mais pessoas que não gostam de propaganda fazendo propaganda. A desconexão dos anúncios com os consumidores, que fica evidente em diversas pesquisas, pode vir do fato de que publicitários que amam propaganda trabalham para agradar outros publicitários que também amam propaganda, sejam eles clientes ou jurados de festivais.

Como músico – tenho um projeto solo, Crua Tua Carne, e sou vocalista e guitarrista da banda Amigo Imaginário – eu sei quando músicos estão tocando para outros músicos, e não para seus fãs. Jazzistas são campeões dessa falha, na minha opinião, com improvisos longos e chatos, que só fazem sentido para quem está apreciando a habilidade técnica e não a música em si.

Como publicitário, até admiro os improvisos longos e chatos de outros publicitários. Mas a lição de moral da singela parede do pequeno restaurante veio para me lembrar do que realmente importa: o público. Vamos fazer com a propaganda como na clássica campanha da Honda “hate something, change something, make something better”. Vamos odiar um pouco a propaganda e, por isso, fazer uma propaganda melhor.

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