Publicidade

Mulheres no palco do SXSW

Elas estão em um espaço de poder e mostrando suas competências nas mais diversas áreas de conhecimento


12 de março de 2019 - 11h44

(Crédito: RawPixel/Pexels)

Sábado foi meu primeiríssimo dia de SXSW e resolvi organizar minha agenda com base no painel que eu não poderia perder de jeito nenhum: Alexandria Ocasio-Cortez and the New Left. Como o meu evento principal era só às 5 da tarde, consegui aproveitar o dia em vários paineis sobre os mais diferentes temas, de assuntos que eu já me interessam a potenciais descobertas.

Assim sendo, comecei a jornada com Sae Kondo, pesquisadora da Universidade de Tóquio e PhD em engenharia. Ela mostrou o trabalho de resgate de regiões no Japão, principalmente rurais, que sofreram com as políticas de desenvolvimento, o envelhecimento da população e o abandono dos jovens. O resgate é feito a partir do DNA e da memória dessas regiões, que são transformado em projetos artísticos e arquitetônicos e voltam a engajar as pessoas com sua história, costumes e cultura.

Depois dela, Leyna Bloom, modelo, dançarina, atriz e ativista transsexual, Robyn Exton, CEO da HER e mulher lésbica e Alok Vaid-Menon, escritorx e artista performáticx não-binárix (não se identifica como homem ou mulher), junto de Philip Picardi, editor-chefe da Out Magazine, debateram gênero e identidade e as mudanças que esses conceitos vêm sofrendo (e provocando) nos últimos tempos. O debate girou principalmente em torno do não binarismo, dos seus novos espaços de expressão, da representação do não binário na mídia e na comunicação e do seu poder de consumo: “Quando o dinheiro muda de mãos, o poder também muda”, Robyn Exton.

Na sequência, Kathy Griffin, atriz e comediante, bateu forte na indústria do entretenimento, que apagou sua existência desde que uma foto sua segurando uma representação da cabeça cortada do Donald Trump ganhou a mídia. Além das complicações com o FBI e ameaças dos mais diversos tipos, ela detalhou como todas as portas da indústria foram fechadas para ela, que se viu sem trabalho, e atribuiu esse fato principalmente ao machismo de quem ainda toma as decisões e assina os cheques dessa indústria. Apesar disso, ela transformou o limão em limonada e lançou aqui mesmo no SXSW seu documentário contando essa história. Entrevistando Griffin, Kara Swisher, editora executiva na Recode.

Por último, finalmente, Alexandria Ocasio-Cortez, mulher latina, social democrata e a mais jovem congressista norte-americana, que trouxe sua perspectiva sobre a política nos EUA e dos seus objetivos ocupando uma cadeira no congresso. Ela expôs seus pensamentos sobre raça, classe, os problemas sociais que vêm da combinação desses dois elementos e como trabalhar para a solução desses problemas. Criticou a postura política moderada, que classificou como “meh”, e instou as pessoas a valorizarem a ambição: “Vemos a ambição como ingenuidade juvenil, quando as grandes coisas que conquistamos como sociedade foram atos de ambição a partir de visões”. Finalizou sua fala com o seguinte conselho para duas jovens que perguntaram o que ela diria para meninas de cor que querem entrar na política: “parem de tentar navegar os atuais sistemas de poder e comecem a construir seu próprio poder”. Junto de Ocasio-Cortez, Briahna Gray, editora-sênior de política no The Intercept.

Todos painéis potentes e mobilizadores, todos protagonizados por mulheres. Para mim, isso é extremamente importante por duas razões: primeiro, porque elas estão ocupando o palco, um espaço de poder, e mostrando suas competências nas mais diversas áreas de conhecimento – engenharia, artes, programação, empreendedorismo, política – onde sua existência geralmente é abafada. Segundo, porque a diversidade dessas mulheres – negras, lésbicas, trans, de diversas nacionalidades – traz, além da representatividade, muito mais textura para os palcos: suas vivências de pontos de vista absolutamente diferentes e abrem novas perspectivas para velhos temas.

Marian Wright Edelman disse, no documentário Miss Representation, que “você não pode ser o que você não vê”. Que bom que por aqui já estamos vendo, e que vejamos ainda mais.

Publicidade

Compartilhe

  • Temas

Patrocínio